Welcome to Stereolab. Eu serei o seu guia

Mais um capítulo da "odisseia Stereolab" no Silêncio no Estúdio. Com direito a um infográfico exclusivo!

Mentira. Não serei não. Ou já sou e não caiu a ficha.

A realidade é que a discografia da banda é tão difícil de navegar que, nas poucas ocasiões em que escrevi especificamente sobre seus discos, me enchi de ressalvas e apontei, antes de tudo, as dificuldades. Agora já era. Este texto é mais um passo da minha odisseia stereolabiana no Silêncio no Estúdio. Ao final dele recapitulo o quê já foi escrito por mim sobre a banda nos últimos anos.

Uma das primeiras regras a respeito de Stereolab é que nem sempre os álbuns oficiais de estúdio incluirão as maiores pedradas. Inclusive, a banda tem apenas 10 álbuns de estúdio entre 1992 e 2010, conforme as informações do perfil da banda no Wikipedia– a conta parece bater com as minhas referências cruzadas com site oficial da banda e Bandcamp. Ou seja, são menos álbuns oficiais do que coletâneas, singles e EPs, e variações. Sobre as coletâneas, como já expliquei anteriormente, a própria banda facilitou nosso trabalho desde o início com a série Switched On (sim, o título é uma referência à Switched On Bach, da pioneira da música eletrônica Wendy Carlos). Com 5 volumes, a série agrega praticamente tudo o que foi lançado como Lado B e “sobra de estúdio” em mini álbuns ao longo de toda a carreira da banda. Eu já falei sobre o Switched On Vol. 4 aqui e, depois disso, a banda lançou o Vol. 5 e também um box, ano passado, com todas as 5 edições. Trata-se de um catálogo certamente mais volumoso e complexo do que a própria discografia oficial.

E é claro que essa série de coletâneas guarda pérolas e mistérios inenarráveis. Mas hoje meu foco é outra coletânea, não menos surpreendente. Lançada em 2002, a ABC Music reúne uma década de apresentações da banda nos legendários programas de John Peel e Mark Radcliffe, na rádio BBC 1. É um CD duplo, lançado somente neste formato (não está nos streamings, inclusive), e que atravessa as melhores fases da banda. Eu tendo a gostar mais do CD 2, que parte da fase Emperor Tomato Ketchup (pós 1996, portanto), mas o primeiro CD nos premia com algumas das melhores versões de clássicos como Peng 33, John Cage Bubblegum e Changer, com destaque para as duas versões diferentes de Wow and Flutter, uma das canções quintessenciais do grupo (com seu arranjo impecável e letra materialista histórica até a medula*). O segundo CD tem um feito impressionante em Brigitte. A canção, previamente lançada como Lado B de Cybele’s Reverie, ganha seu arranjo definitivo aqui. É uma das minhas favoritas de todo o catálogo da banda. Imperdível.

Ao fim e ao cabo, é muito louco que ABC Music se trate de um álbum ao vivo. Ouvimos a banda tocar como se fosse no estúdio com overdubs, tamanha a qualidade das performances e mixagens. Certamente não se trata de um álbum ao vivo qualquer. É também uma pérola escondida, que vale a pena até para os ouvintes estreantes em Stereolab, em função da amplitude da tracklist e da efetividade de sua curadoria. Acredito que a banda tenha compilado nesta coletânea, de forma bem sucinta e coerente, o melhor de sua fase inicial. Que corre, mais ou menos, de 1991 a 1994 (ou seja, basicamente o período que o CD 1 abrange). Apesar de, como dito, eu gostar mais da fase “tardia” da banda (pós 1996), seus primeiros anos aparecem aqui de forma muito bem colocada. Especialmente para quem ainda não ouviu nada de Stereolab.

Tive a sorte de encontrar o disco em um post comentado no excelente blog Pequenos Clássicos Perdidos. Lá o pessoal separou a tracklist pelas apresentações no John Peel e Mark Radcliffe. O link que coloco a seguir para audição não é tão detalhado, mas dispõe a tracklist com a minutagem na descrição do vídeo.

*I though IBM was born with the world,
The US flag would float forever,
The cold opponent did pack away,
The capital will have to follow,
It’s not eternal, imperishable,
Oh yes it will go,
It’s not eternal, imperishable,
The dinosaur law

Look at the symbols, they are alive,
They move evolve and then they die

*Versos da obra-prima Wow and Flutter.

Os signos e o movimento do capital passarão. Stereolab não.

Epílogo (Importante)

Como prometido no início do texto, agora preciso organizar a catalogação. Falei da banda pela primeira vez na newsletter #87, na ocasião do lançamento do Switched On Vol. 4, em 2021: https://silencionoestudio.com.br/newsletter-silencio-no-estudio-vol-87/

Logo depois, fiz um review (que me agrada muito, modéstia à parte) do álbum Emperor Tomato Ketchup na newsletter #104: https://silencionoestudio.com.br/newsletter-silencio-no-estudio-vol-104/

Com a complexidade que a pesquisa para esse texto acabou tomando, resolvi fazer algo um pouco ousado como complemento (obrigado pela ideia de maluco, tá Christian?!). Um gráfico com todas as tracks do ABC Music e suas relações- em que outros álbuns elas aparecem, datas, etc. Perdoem o mau design e quaisquer eventuais errinhos, mas o que importa aqui é o esforço e a importância de catalogar o Stereolab. Seria interessante fazer um enorme gráfico de rede como este, só que com toda a discografia da banda. Um trabalho colossal. Alguém se habilita?

Ps- Clique nas imagens para ampliá-las.