Mais vivo do que nunca

Depois de lançar o álbum-solo Heavy Metal, Cameron Winter retoma seu trabalho com o Geese e lança o matador Getting Killed.

É muito significativo observar, ao procurar referências nos sites internacionais sobre o novo álbum do Geese, Getting Killed, que 100% das análises atenta para o fato de que o cantor e principal compositor do grupo lançou seu arrebatador disco-solo Heavy Metal no final do ano passado (sobre o qual o Vinícius escreveu aqui).

Não é por acaso. É com essa responsa de “concorrer consigo próprio” que, menos de um ano depois, Winter e seus companheiros retomaram o trabalho com o Geese, e não dá pra negar que trazem consigo um pouco mais daquele desespero do individual para o coletivo.

Até porque já no refrão da faixa de abertura, Trinidad, Winter berra que há uma bomba em seu carro, sob a trilha de metais e guitarras lindamente desordenados. É caótica, desordenada, como é a vida.

E é sobre a vida que Winter filosofa, ironicamente, na faixa-título, onde afirma estar sendo assassinado por uma vida muito boa, e fala sobre sorrir em tempos de guerra.

Se já parece um clichê das resenhas musicais resumir discos indie entre caos e calmaria, há que se admitir que tem sim algo disso em Getting Killed, mas não só. É uma produção atenta (de Kenneth Blume, conhecido como Kenny Beats, de trabalhos com JPEGMafia, IDLES, Ed Sheeran e outros), e uma sonoridade que ecoa folk, Beach Boys, Rolling Stones, mas não se apega a nada disso, e até por isso o desespero aqui pode ser expressado com um pouco mais de fúria do que no álbum solo de Cameron Winter.

Se o inevitável destaque é para as batidas de Max Bassin, que meio que conduzem o disco, também é possível notar o quanto a guitarra de Emily Green e o baixo de Dominic DiGesu (especialmente em Islands of Men) são, ao mesmo tempo, descontraídos e compenetrados.

Se, como disse o Vini, ninguém tá bem, e se, por ter lançado Heavy Metal no final do ano e ter acabado ficando de fora de muitas das listas de melhores do ano por isso, Winter tem agora a chance de figurar na lista de 2025 mostrando essa melancolia linda pro mundo. Parece justo.

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