29 de Março de 2021
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. A newsletter desta semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!
IT’S A CLASSIC
Por Bruno Leo Ribeiro
UM DISCO DE CONFORTO
Existem discos que viram clássicos com o tempo. No senso comum, o Aja do Steely Dan sempre foi clássico, mas pra mim virou clássico no ano passado.
Como já disse algumas vezes, venho tirando o tempo perdido e vou lá no passado pra buscar alguma coisa que deixei de ouvir. Em 2020, Steely Dan foi uma dessas bandas. Ouvi quase tudo da banda, mas teve um disco que eu já sabia que era clássico, mas eu precisava confirmar.
Pra quem não conhece, o Steely Dan é uma banda de Rock formada em 1971 pelos integrantes principais Walter Becker (guitarra, baixo) e Donald Fagen (teclados, voz). A banda mistura Rock, Jazz, Música Latina, R&B, Blues e até Prog Rock. A banda teve sucesso comercial no início dos anos 1970 até que a banda se separou em 1981.
O disco Aja (que se pronuncia “Asia”) é o sexto disco da banda e foi lançado em 23 de setembro de 1977. O álbum teve participação de quase 40 músicos, que trouxe uma mistura de contextos e influências pras músicas mais bem trabalhadas e longas do LP.
O álbum alcançou a posição de número três nas paradas dos EUA e número cinco no Reino Unido, tornando-se o LP de maior sucesso comercial de Steely Dan. O disco tem vários hits clássicos instantâneos como “Peg”, “Deacon Blues” (minha música de cobertor quentinho) e “Josie”.
O Aja é tão maravilhoso, que em 2011, a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, selecionou o disco para ser preservado no Registro Nacional de Gravações por ser “cultural, histórico ou artisticamente significativo”. Que moral!
Esse é um disco pra colocar pra tocar e fechar os olhos. Você pode se sentir numa praia tomando um bom drink, ou também se imaginar caminhando nas calçadas cheias de gelo de uma cidadezinha pequena da Europa. É um disco que te leva pra onde você quer ir. E toda vez que escuto o Aja, ele me leva pra uma cama com cobertor quentinho, onde eu me sinto seguro, em paz e cheio de conforto. É disso que precisamos.
Por Vinícius Cabral
– MELODY COMMENT? -MELODY NELSON
Pulp, Massive Attack, Tricky, Air, Portishead, Stereolab, Beck, Destroyer, Angel Olsen, Blonde Redhead, Stereo Total, Feist, Mike Patton (em alguma medida, e em alguns projetos), Yo La Tengo, Beach House, Kylie Minogue, Fujiya & Myagi. Todos esses artistas e bandas – e mais tantos outros – não soariam da mesma forma não fosse uma única obra: Histoire de Melody Nelson, de Serge Gainsbourg, 1971.
Em 24 de março de 2021 esse disco completou 50 anos sem envelhecer um único dia. Desafiando, impávido, o peso de meio século nas costas e tirando onda com a cara de quem o escuta desavisado. “O que produz essa mágica?”, me pergunto inquieto, enquanto levo um soco dos arranjos de cordas da faixa de abertura, Melody.
Alguns a atribuem aos arranjos de Jean Claude-Vannier (que rouba a cena com uma precisão absurda), outros, à história que conduz o álbum como uma espécie de adaptação sonora para uma Lolita revisitada (“interpretada” aqui pela Jane Birkin). Muito se fala, até mesmo, da performance vocal muitas vezes subestimada do Gainsbourg e da precisão de sua métrica. Para mim, no entanto, o que parece mais extraordinário a respeito desse álbum é o fato de que, apesar de ter influenciado tanta coisa (que chega ao ponto de imitá-lo em alguns momentos, como no caso de Fujiya & Myagi), ele não soa como nada que veio antes, e muito menos como nada que veio depois.
É um disco único.
Aquele som meio “funkeado” do baixo, unido ao vocal quase gutural, do fundo da terra, de Gaisnbourg parecem ser invadidos por cada corda e cada guitarra (nunca esquecer do riff atemporal que abre En Molody), num jogo de grave vs. agudo que parece tão cru quanto refinado. É uma dessas sínteses magníficas que compositores, arranjadores e produtores procuram, algumas vezes, uma carreira inteira. Gainsbourg, Vannier, Birkin e os músicos de estúdio envolvidos encontraram essa síntese aqui. Inesquecível.
Para mais centenas de anos em minha prateleira. Certamente, um dos meus 5 álbuns favoritos de todos os tempos.
Ouça Histoire de Melody Nelson aqui
Por Márcio Viana
O FUTURO NÃO É MAIS COMO ERA ANTIGAMENTE
Futurologia é um troço arriscado, e a chance de falar bobagem é grande. Se a gente for pensar no que poderia ter acontecido, mas que teve seu fluxo interrompido então, é pior ainda. Mas eu vou assumir o risco aqui pra dizer que o Sublime teria sido a grande banda da segunda metade dos anos 90, e seu cantor e guitarrista, Bradley Nowell, a grande figura do rock and roll mainstream.
Mas Nowell faleceu em maio de 1996, no mesmo mês em que o trio terminou as gravações de seu terceiro álbum, que teria o nome de Killin’ It, mas teve seu nome mudado para o nome da banda, simplesmente, por razões óbvias. O disco Sublime foi lançado em julho de 1996, com 17 faixas. Santeria e What i got foram sucessos imediatos, e se deu a cena curiosa: havia um clássico imediato, não havia shows de divulgação (por razões igualmente óbvias). Sequer havia uma banda para gravar videoclipes (em Santeria, Nowell surge como um fantasma tocando junto com os companheiros; em What i Got são usadas cenas de shows e imagens pessoais).
Fato é que Bradley Nowell era o cara certo na hora errada: músico virtuoso e grande cantor, o artista se viu em um momento caótico, com grande consumo de drogas, ao mesmo tempo em que a banda havia assinado um grande contrato com a MCA Records. Logo após o fim das gravações, o cantor foi encontrado em um quarto de hotel pelo baterista Bud Gaugh, ao lado do inseparável cãozinho de estimação Lou Dog, que em vão tentava chamar o dono. Overdose de heroína, aos 28 anos de idade.
O que ficou foi Sublime, o disco, cheio de grandes canções como Jailhouse, Seed (tremendo de um crossover de hardcore, reggae e ska), Wrong Way e Doin’ Time, essa última regravada por Lana Del Rey em seu aclamado álbum Norman Fucking Rockwell!.
Ao completar dez anos de seu lançamento, o álbum ganhou uma versão deluxe, com gravações inéditas, outtakes e remixes. A mistura de punk rock, hardcore, reggae, ska e dub ficou ainda mais evidente e mostra ainda mais do que perdemos.
Os remanescentes do Sublime Bud Gaugh (bateria) e Eric Wilson (baixo) , por sua vez, chegaram a montar o projeto Long Beach Dub Allstars e outras bandas, mas depois se reuniram com o cantor e guitarrista Rome Ramirez e com ele formaram o Sublime with Rome. Atualmente a banda continua sem o baterista Gaugh, que foi substituído por Josh Freese (que já tocou em várias bandas, incluindo The Offspring, Weezer, Nine Inch Nails e Guns n’ Roses, entre muitas outras).
O Sublime original é então um futuro que não aconteceu, mas que bom que restou um legado para contemplar!
Por Brunno Lopez
DEPOIS DA CHUVA (OS CABELOS CONTINUAM LISOS)
Nos anos 80, o Hard Rock fervilhava com a altivez da farofa de bom gosto, apresentando ao mundo as maiores bandas do gênero que figurariam pujantes durante aquela década mágica.
Entretanto, outros grupos importantes só acabariam encontrando suas respectivas apoteoses no início dos anos 90. E com muita autoridade e originalidade.
É o caso do debut “After the Rain”, do Nelson, que teve a audácia de sair nesses anos turbulentos e mudar um pouco as tendências do rock, alcançando o status de platina dupla, gerando um single #1 com “Can’t Live Without Your Love And Affection” e permanecer nas paradas por mais de 60 semanas.
Claro que não dá pra falar dos irmãos gêmeos Matthew e Gunnar Nelson, sem mencionar seu pai – o lendário Ricky Nelson que se tornou popular na década de 1950. A diferença é que eles escolheram seguir um estilo bem diferente daquele que consagrou o pai.
Vale destacar também o quanto o envolvimento do produtor/compositor Marc Tenner acabou sendo mais do que crucial para a criação do som e o consequente triunfo de “After the Rain”.
Este álbum é obrigatório pra quem já gosta da cena e quer conhecer como eles conseguiram evoluir o estilo de uma forma interessante e com muito sucesso.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Vian