Newsletter – Silêncio no Estúdio Vol. 31

24 de Fevereiro  de 2020


Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time destaca lançamentos que têm feito suas cabeças. 


LANÇAMENTOS

Bruno Leo Ribeiro

CARNAVAL COM METAL!
O Machine Head sempre foi uma banda que gostei de uma coisa aqui e ali. Nunca fui super fã da banda ou de toda a obra. São dessas bandas que acho inconstantes demais. Muitas formações diferentes e muitas mudanças. 

O vocalista / guitarrista e líder da banda Rob Flynn é um cara meio polêmico. Ele adora aparecer chamando os outros coleguinhas do metal de babacas, ou adora criticar o trabalho das outras bandas por aí. Mas de certa forma, toda vez que ele falou alguma “bobagem” eu meio que concordei com ele. No dia que o Phil Anselmo falou “white power”, o Rob foi no YouTube e falou um monte! Chamou o Phil Anselmo de babaca pra baixo. Ponto pro Rob Flynn!

Quando o Avenged Sevenfold lançou o disco “The Stage” ele fez um review de música por música dizendo exatamente qual banda ou música o Avenged tava roubando a ideia, fazendo um disco basicamente de plágio disfarçado. Desculpem os fãs, mas eu concordei com o Rob nessa também.

Mas vamos focar na música e falar menos das polêmicas?

Bem, em 2018 o Machine Head lançou um disco bem fraco chamado Catharsis, antes desse, em 2014, outro disco fraco chamado Bloodstone & Diamonds. Antes desse, um bom disco chamado Unto The Locust de 2011. A grande obra de arte da banda é o The Blackening de 2007. Esse sim é um puta disco foda. E na mesma pegada do The Blackening, eles acabaram de lançar um single com a nova formação da banda chamado Circle the Drain. Que música meus amigos! É dessas músicas do metal moderno com pitadas de trash metal clássico de San Francisco que dá até orgulho de gostar de metal. É a música definitiva de metal para o Carnaval. Se o resto do disco da banda vier nesse nível… olha… temos um candidato a melhor disco do ano!

Ouça o single Circle the Drain aqui


Vinícius Cabral

SÓ OLHE O MUNDO AO REDOR / NA VERDADE, NÃO, NÃO OLHE!
Em 2011, no início de uma nova década, muita gente buscava ansiosamente por novas sonoridades. Enquanto nos recônditos obscuros da internet malucos como eu buscavam o uso disruptivo e ousado de sons nostálgicos no nicho provocativo chamado Vaporwave (entre outros clouts muito bem vindos e tão efêmeros quanto irônicos), no cenário independente mais “comercial” alguns artistas insistiam em throwbacks (dream pop voltando, synth pop voltando…). Foi onde eu pensava se encaixar Destroyer, com seu clássico disco Kaputt. Superficialmente, um exercício synth pop alternativo, cheio de climas e paredes de sintetizadores vintage. Mas não era só isso. Quase 10 anos depois, ao voltar a ouvir o disco, minha impressão é se tratar de um dos maiores clássicos do Rock Alternativo da década passada. Uma obra que ultrapassa as limitações dos nichos, simplesmente por, entre outras coisas, incorporar a magnífica e densa personalidade de seu principal compositor.

Dan Bejar, frontman do projeto Destroyer, é um homem no mínimo sensacional. Se usa os sintetizadores como instrumentos centrais em suas músicas, isso é algo que você logo esquece quando mergulha nas construções estéticas e líricas do artista, atemporais e, ousaria dizer, relevantes em qualquer época. Dan é um cantor-compositor, essencialmente. Na capa de seu novo álbum, Have We Met, ao posar com um microfone nas mãos e a pose canastrona de um crooner (camisa de botão aberta, terninho preto), se refere (ironicamente ou não) ao legado de figuras como Sinatra, Tom Jones e Serge Gainsbourg. Canastrão na imagem, visceral nas composições. O estilo “declamatório-confessional” tão característico (já explorado em Kaputt) ganha novos “ares” neste trabalho mais recente (como fica claro no single upbeat e super pop, Cue Synthesizer). Em versos antológicos, Dan Bejar nos coloca dentro de sua cabeça, brincando com as letras como se elas refletissem sua própria oratória. 

“Just look at the world around you / Actually, no, don’t look” (Só olhe o mundo ao redor / Na verdade, não, não olhe), ele canta em The Raven, uma das melhores músicas de sua carreira. Em Crimson Tide, que abre o disco, ele já nos arrebata de forma brilhante, antes que consigamos reagir: “I was like the laziest river / A vulture predisposed to eating off floors / No wait, I take that back / I was more like an ocean / Stuck inside hospital corridors” (Eu era como um rio preguiçoso / Um abutre predisposto a arrancar chãos / Não, espera, retiro o que eu disse / Eu era mais como um oceano / Preso em corredores de hospitais). 

Dan Bejar conversa consigo mesmo. Parece falar, ao invés de cantar (mas o faz desafiando a métrica, domando-a como bem entende). Parece dançar, sem sair do lugar. Um poeta veterano no topo de sua forma, nos presenteando com um dos melhores discos de sua (longa) trajetória discográfica. 

Ouça Have We Met aqui


Márcio Viana

AQUI ESTOU EU SOZINHO COM O TEMPO

Muito já foi escrito sobre o tempo e sobre como ele pode curar. Dizia Renato Russo que o tempo é mercúrio-cromo. Taí uma máxima que se aplica a Nasi e Edgard Scandurra, desde sempre o núcleo principal do Ira! e hoje os únicos remanescentes da formação que gravou todos os álbuns desde Mudança de Comportamento até Invisível DJ, o errático álbum de 2007 produzido por Rick Bonadio, que foi responsável pela cisão no grupo, que durou até 2014, quando a dupla de líderes resolveu suas diferenças e retomou a parceria, deixando para trás os escudeiros Ricardo Gaspa e André Jung, que não quiseram fazer parte da nova fase. Por um período, o filho de Edgard, Daniel Scandurra, foi o baixista do grupo, junto com o baterista Evaristo Pádua e o tecladista Johnny Boy, que anota grandes trabalhos ao lado de Marcelo Nova, Raul Seixas, Camisa de Vênus, Nasi em carreira-solo e acompanhou o próprio Ira! em diversas ocasiões, com destaque para o álbum 7, onde participou até em composições. Eis que agora o Ira! estabilizou sua formação com Nasi, Edgard, Evaristo e Johnny Boy, desta vez empunhando o baixo (e certamente alguns teclados e outros instrumentos).

E é este quarteto que lança agora O Amor Também Faz Errar, novo single que integra o álbum IRA (sem a exclamação, que ainda permanece no nome do grupo), em fase de produção, a cargo de Apollo 9, que  tem no currículo trabalhos com Nação Zumbi, Otto e Planet Hemp.

O Amor Também Faz Errar traz o Ira! clássico, com aquele som inspirado no mod inglês, mas mostra uma banda madura, seja pela ótima qualidade da letra, que simbolicamente trata do quão possível é errar e se redimir, seja pela voz do cantor, que parece ter chegado a um ótimo nível após anos de experiência e aprimoramento. 

Além de O Amor Também Faz Errar, outra canção do vindouro álbum IRA foi mostrada por Edgar em uma entrevista para um podcast da Unesp. A música chamada Mulheres À Frente da Tropa é uma homenagem à luta feminina.

Ouça aqui O Amor Também Faz Errar


Brunno Lopez

SEM LIMITES
New Jersey não é apenas a cidade natal de uma das maiores bandas de Hard Rock de todos os tempos. É também o nome de um dos discos mais aclamados deste mesmo grupo.
Mas não vou falar desse álbum – por mais que eu sempre queira bastante.
Afinal, se o tema da semana é lançamentos, me vejo no dever de trazer meu parecer sobre a última canção inédita lançada por ninguém mais ninguém menos que Bon Jovi.

É. E olha que eles fizeram algo interessante na promoção da música. Antes dela sair, os fãs podiam se gravar cantando o que seria a melodia da faixa apenas guiados pela letra. O vencedor poderá ter a honra de cantar com o Jon num dos shows da nova turnê.

Fato é que a música saiu e, com todas as proporções guardadas, é uma track até entusiasmante.
Claro que nunca se pode esperar a sonoridade oitentista ou, na melhor das hipóteses, brilhando como em 1995, mas temos aqui uma tentativa de seguir em frente.

Falta alma? Sim.
Falta pegada? Sim.
Falta Richie Sambora? Muito sim.

Mas não falta vontade de flertar com resquícios de inspiração – algo que pode ser brevemente observado em Roller Coaster, música do último álbum.

E, assim como o ano em que estamos, resta-nos esperar que o presente seja mais que uma marcação temporal e funcione de fato como um embrulho enrolado em sons bons.

Isso estará em “Bon Jovi: 2020”?
Dificilmente.
Mas enquanto eles estiverem vivos e tocando, eu sempre vou dar uma chance.

Assista aqui


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana