
Passei muito tempo ouvindo dizer que The Stone Roses eram uma das bandas groove-dance associadas ao Acid House britânico de finais dos ’90. Eles definitivamente passam por isso, mas a associação não chega a definir a banda. O que os Stone Roses representaram, na verdade, foi o pontapé inicial quase que isolado do chamado madchester, e os criadores de boa parte das estruturas exploradas pelo posterior britpop. Eles ergueram todas essas pilastras com um único disco. O homônimo impecável de 1989.
A gente raramente revisita voluntariamente estas obras (eu o fiz há muito tempo atrás, para nosso mergulho sobre o britpop), e desta vez o fiz pelo pior dos motivos. Gary (Mani) Mounfield, a lenda por trás dos baixos da banda, nos deixou precocemente na semana passada. Boa parte do groove historicamente associado ao grupo de Manchester saiu das mãos do brilhante músico – para mim, um dos maiores baixistas da história do rock.
Muito conhecido pelos hits I Wanna Be Adored, She Bangs The Drums e Fools Gold (lançada apenas como single mas, posteriormente, integrada ao álbum no CD de 10 anos de aniversário, em 1999), o disco traz muitas outras surpresas. Como a psicodelia sessentista atualizada de Don’t Stop ou Shoot You Down. Ou, ainda, a perfeição de Bye Bye Badman e (Song For My) Sugar Spun Sister – bases fundamentais de muita coisa, de Pulp e Blur à The Verve. O que os Stone Roses atingiram aqui foi uma atualização do jangle e do pop psicodélico dos anos ’60, associada a grooves matadores (em boa parte cortesia de Mani Mounfield) dignos de Stones. Atingiram um lugar dançante. Embora, propriamente dançantes, fossem apenas I Am The Ressurrection (especialmente em sua segunda parte) e a já mencionada Fools Gold.
Eram uma banda que funcionava naquele esquema raro, onde guitarra, baixo, bateria e vocais conseguem um “lock in” meio mágico. Os riffs e fills cativantes de John Squire na guitarra adornam uma cozinha perfeita (entre Mani e Reni), isso tudo com o carisma indiscutível de Ian Brown nos microfones. A banda era tão cativante, e seu debut tão magnificamente impressionante, que não resistiram ao sucesso. Lançaram um segundo álbum em 1994 (o razoável Second Coming), mas não resistiram à conflitos e mudanças de formação. A passagem abrupta e inesperada de Mounfield, com apenas 63 anos, deixou muita gente com nó na garganta. As homenagens foram belíssimas, incluindo as da banda da vez (o Oasis), profundamente influenciada diretamente pelos seus conterrâneos de Manchester.
Por aqui, já que estamos falando tanto de invenção, cabe identificar e celebrar a verdadeira pilastra que os Stone Roses ergueram com apenas um álbum. Um disco que resiste bravamente ao tempo, aos modismos, e mesmo a movimentos inteiros constituídos posteriormente tendo seu marco como uma das referências centrais.
Enquanto 2025 continuar, ele continuará levando nossas referências. Que a gente continue aqui pra nunca nos esquecermos delas.



