41 anos de Born in the USA: O disco mais mal interpretado de Bruce Springsteen

Lançado em 4 de junho de 1984, Born in the USA é um disco cheio de hits que dizem muito mais do que muita gente tentou entender.

Muita gente da minha geração e gerações anteriores, se apaixonaram por músicas cantadas em inglês por vários motivos, menos a letra. Lembro que, nas revistas especializadas, tinha a sessão de letras traduzidas pra tentar entender o sentido daquelas músicas. Comigo não foi diferente. Nos anos 80, ainda criança, pior ainda. Ouvir Born in the USA e Dancing in the Dark, do Bruce Springsteen, me cativavam puramente pela melodia e ritmo.

Mesmo depois de mais velho e entendendo inglês bem melhor, algumas músicas passaram batido e eu não tinha revisitado suas letras pra entender melhor. No advento da internet ADSL e softwares para baixar música de procedência duvidosa, resolvi baixar a discografia de todos os artistas que me lembrei. E foi com o lançamento do The Rising, do Bruce Springsteen, em 2002, que resolvi ouvir toda a sua carreira.

Ouvindo com mais calma todos aqueles hits do The Boss que lembrava de mais jovem, fui acompanhando suas letras e descobri que eu não apenas gostava das suas músicas, mas passei a amá-las. Tudo aquilo fez sentido. Dancing in the Dark passou de uma música feliz, com um clipe com a Courteney Cox (Monica de Friends) novinha, pra uma música de uma pessoa desesperada, precisando de algum motivo pra se animar novamente.

Já em Born in the USA, temos uma crítica social foda disfarçada de hino dos patriotas. O que parece um orgulho imenso de ter nascido nos Estados Unidos, na verdade, é uma crítica contra o tratamento dos veteranos da Guerra do Vietnã e contra a marginalização da classe trabalhadora americana. Um tapa na cara. Mais mal interpretado do que Angels, do Robbie Williams, que as pessoas colocam na entrada do casamento.

Hoje, 4 de junho, esse clássico com tantos hits como Born in the USADancing in the Dark, Glory DaysI’m on Fire, No Surrender, Bobby Jean My Hometown completa 41 anos, e o disco continua sendo uma das obras mais emblemáticas da música popular mundial, não apenas pelo sucesso comercial, mas pela complexidade entre a forma e o conteúdo.

Pra realmente ter essa transição de gostar do Bruce Springsteen e passar a amá-lo, é diretamente ligado à sua caneta. A canetada dele, cheia de dores, amores, críticas, esperança e vida real, faz ele ser não só uma voz poderosa com seu timbre, mas uma voz poderosa em sua mensagem. Enquanto certos presidentes ficam passando recebido pelos discursos verdadeiros do Bruce, nós, fãs, nos conectamos ainda mais. É o maior ser humano vivo.

Born in the USA não é só uma obra musical, mas até sua capa se tornou icônica. A capa? Um close no jeans colado do Bruce, sua bunda de classe (e que classe) trabalhadora, com a bandeira dos EUA ao fundo, na foto de Annie Leibovitz. O que parece, à primeira vista, uma celebração patriótica, é um ato de reflexão. É o rock indo ao seu auge de arena. É o rock em sua essência. Aquele Rock que nunca vai morrer.

Esse contraste entre o som vibrante, dançante, muitas vezes embalado por sintetizadores, e as letras duras, que tratam da desilusão, da crise econômica, do desemprego e das cicatrizes da guerra, é o que torna Born in the USA tão poderoso. Ele usou o alcance pop para jogar luz sobre as falhas estruturais no famoso “sonho americano”.

Foram sete singles no Top 10 da Billboard, incluindo Dancing in the DarkGlory DaysI’m on Fire e My Hometown. O sucesso foi tão gigantesco que levou o Bruce do status de cultuado contador de histórias para um astro global. A turnê mundial que se seguiu consolidou sua imagem de performer incansável (até hoje é assim) e voz de um país que muitos preferem não enxergar.

Hoje, quatro décadas depois, Born in the USA permanece atual. Tanto musicalmente quanto politicamente. Não é apenas um álbum sobre os Estados Unidos. É um retrato profundo, contraditório e emocional do mundo que vivemos desde antes do ano distópico de 1984.

Vamos celebrar as palavras do The Boss. Se ele falou, tá falado.


Ouça o Born in the USA


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