
Talvez soe como nostalgia expressar a saudade de ter a opção de acessar uma revista impressa para tomar conhecimento de novidades da música. Com a rapidez que a internet proporciona, a gente fica a um clique de saber até mais do que gostaria a respeito de um determinado artista, principalmente quando estamos frente a frente com sites que fazem desse clique uma tábua de salvação.
Essa sanha por cliques, explicando melhor, cria duas situações: uma delas é espremer toda e qualquer curiosidade a respeito de um artista, fazendo histórias que não completariam uma linha serem esticadas para caber em análises de vários parágrafos, porque como o pão quentinho na padaria, a notícia não pode deixar de sair, mesmo que não seja notícia.
A outra é o famigerado clickbait, do tipo “saiba quem era o artista que colocava as cifras no espelho pra poder entender como tocar uma música” (acabei de inventar essa chamada, mas o Paul McCartney fazia isso, então cabe em qualquer site desses).
Bem, se aqui a mídia impressa capenga entre deixar de existir ou gerar umas edições especiais nitidamente bancadas pelas gravadoras, lá fora ela ainda existe de alguma forma. No Reino Unido, o destaque vai para revistas como a Mojo e a Uncut, que seguem aparentemente firmes em suas operações, mas não sem algum custo: pra sobreviver no presente, é preciso prestar o culto ao passado. Senão vejamos:
Em 2025, a Mojo teve em suas capas: Neil Young (janeiro), Rolling Stones (fevereiro), Paul Weller (março), Genesis (abril), Queen (maio), Pulp (junho), Oasis (julho), Beatles (agosto), Brian Wilson/Suede (setembro) e Robert Plant (outubro) – as revistas saem com um mês de antecedência.
A Uncut teve: Wilco, Led Zeppelin, Small Faces, R.E.M., Nick Drake, Bruce Springsteen, Paul Weller e David Bowie.
É natural de se pensar que, por se tratar de mídia mainstream, o compromisso com os números seja maior do que com o conteúdo, mas a reflexão aqui é: artista novo não vende? Mesmo fenômenos do pop atual não teriam chance de mudar a rotação dessa engrenagem? É possível ignorar a existência da explosão de bandas de fora do eixo Reino Unido/EUA, como o inegável sucesso mundial do k-pop? Um capa com R.E.M. vende mais do que uma com o BTS?
A considerar pela continuidade e insistência das revistas em explorar este nicho, parece que sim, e talvez minha análise esteja equivocada, mas eu só me pergunto se tem algo sobre Beatles ou Led Zeppelin que um grande fã ainda não saiba, e se há, não seria o caso de uma edição especial, deixando as edições regulares para apresentar nova música (ou, vá lá, dividir um pouco os holofotes, dá pra ter uns clássicos eventualmente estampando as capas).
Talvez seja só nostalgia de um tempo em que havia um mínimo de sincronia entre o que acontecia e o que se divulgava, mas dá pra concluir citando um trecho de música dos anos 70 (usando um senso de humor peculiar): o novo sempre vem, mas nem sempre se vê.
Enquanto isso, vamos seguindo na nossa tentativa de contrabalançar o antigo e o novo, sem clickbait.



