
O Nick Hornby é um dos meus autores favoritos. As emoções humanas que ele explora em formato de ironia e acidez me pegam demais. Ele já chegou chutando portas na sua estreia. Em 1995, ele lança Alta Fidelidade, mas não foi o primeiro livro dele que li. Comecei com Um Grande Garoto (1998), que também ganhou uma adaptação em 2002 para o cinema, em um ótimo filme com Hugh Grant e o ainda criança Nicholas Hoult.
Continuei lendo Nick Hornby, mas, por algum motivo, eu ainda não tinha lido o livro de Alta Fidelidade, mas já tinha assistido a adaptação pro cinema, que hoje completa 25 anos do seu lançamento. Em 2000, quando foi lançado, eu tinha 19 anos, e boa parte das referências e piadas do filme eu não entendi completamente. Quando finalmente li o livro alguns anos depois (na casa do nosso querido Vinícius Cabral aqui do site), já captei bem mais as referências, principalmente as musicais e de nuances da história.
Em seu lado puramente musical, é um filme sobre fazer Top 5 de tudo e gravar uma fitinha com as músicas perfeitas. No fundamento da história, é bem mais complicado que isso. Rob Gordon (vivido no filme por John Cusack), personagem central da história, foi por anos visto como um cara maneiro, que coleciona e é dono de uma loja de discos. Ele é admirado por seu conhecimento musical e sua paixão por música, mas, olhando novamente suas nuances, o Rob é basicamente um chato frustrado.
Na história, seu relacionamento com Laura (Iben Hjejle) chega ao fim, e ele quer entender os motivos de seus relacionamentos não darem certo. Aí ele passa a história relembrando cinco términos dolorosos, refletindo sobre o que deu errado e se ele é o problema. Isso tudo em paralelo com sua interação com dois funcionários bem peculiares da sua loja, o Barry (Jack Black) e o Dick (Todd Louiso). Eles formam um trio cômico e apaixonado por cultura pop e vivem altas confusões na loja de discos e fora dela.
Pra surpresa de zero pessoas, o Rob tenta reconquistar Laura, agora que ela está saindo com outro cara, Ian (Tim Robbins), um guru que o Rob despreza. Mas, ao longo da jornada, ele também se reconecta com sua paixão pela música de maneira mais madura, aprendendo a equilibrar sua obsessão com a realidade dos relacionamentos. Alta Fidelidade é uma comédia romântica que prioriza o crescimento pessoal do protagonista em vez de apenas focar nos romances.
Outro ponto do filme (e também do livro) é a nossa relação com a nostalgia e a obsessão pelo passado, além da cultura musical como identidade. Muita gente se vê no Rob Gordon por ele ser um apaixonado por música e por suas obsessões. Lembro do tanto de “Rob Gordon” que tinha nos chats (mIRC/ICQ – feeling old yet?) de internet na época. A real é que o Rob é um personagem que culpa os outros por seus problemas sem reconhecer a sua culpa nos fracassos amorosos. Ou seja, Rob Gordon é um personagem complexo e imperfeito. O que é ótimo!
Outra anedota que vou jogar aqui neste texto, que não é exatamente uma resenha sobre o filme, é que foi a primeira vez que eu prestei mais atenção no Bruce Springsteen. Mas como assim? Claro que já conhecia o The Boss, seus hits clássicos como Born to Run e Dancing in the Dark, mas, antes da internet, eu não tive acesso ao seu catálogo. Depois de ver o Bruce no filme, fui baixar (não contem pras autoridades) sua discografia e o resto é história.

No filme, depois de perceber que talvez precise buscar o perdão das suas ex-namoradas para entender por que seus relacionamentos fracassavam, o Rob tem uma espécie de “conselho imaginário” com o Bruce Springsteen em pessoa. O maior ser humano vivo aparece tocando guitarra e dando dicas sobre como lidar com seus arrependimentos amorosos. A cena é curta, mas é perfeita.
Pequena curiosidade: no livro, o Rob “conversa” com Johnny Cash. Na adaptação de Alta Fidelidade para a série com Zoë Kravitz no papel de Rob, ela conversa com a Debbie Harry, da Blondie. (Eu não me conformo que essa ótima adaptação como série foi cancelada depois da primeira temporada).
Já está se sentindo “experiente” hoje? Eu estou.
São 25 anos do lançamento desse clássico “cult” do cinema que conecta emoções, cultura pop e música. É uma daquelas histórias, tanto no livro quanto no filme, que a gente descobre coisas novas e que vale revisitar de tempos em tempos, para que novas referências façam sentido.
Vou até separar um tempinho e comemorar esses 25 anos vendo de novo a história do Rob. Pegando suas dicas, achando ele um idiota, mas, no fim das contas, simpatizando com ele. Afinal, todos somos cheios de defeitos, mas a música nos une.
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