
Recentemente viralizou um vídeo em que uma jovem, após visitar a exposição dedicada a Andy Wahrol na FAAP, em São Paulo, se queixava da escassez de experiências imersivas no evento. Ainda em São Paulo, um novo local de exposições (não exatamente um museu), chamado Visualfarm Gymnasium, em um imóvel que já foi uma quadra de basquete, trouxe um acervo de reproduções de obras e invenções de Leonardo da Vinci, quase todas elas com alguma possibilidade de interação, inclusive uma cabine logo no início, em que o usuário é convidado a posar para uma foto, que posteriormente é manipulada com o uso de inteligência artificial para retratá-lo como um dos quadros do artista, incluindo a Mona Lisa. As fotos são enviadas para o Whatsapp do usuário alguns dias depois, para o devido compartilhamento em redes sociais, com a marca d’água da galeria.
A reflexão que pauta a continuidade do texto a partir daqui é: tudo precisa ser imersivo quando se trata de arte? Estamos perdendo o sentimento de contemplação? Tudo precisa ser instagramável/tiktokzável?
Estreou no último dia 11 de julho, no Museu da Imagem e do Som – MIS-SP, a exposição O Baú do Raul, dedicada à vida e obra de Raul Seixas. O acervo é impressionante, trazendo uma história muito rica de detalhes, manuscritos e objetos, mérito de Sylvio Passos, presidente do principal fã-clube do artista, o Raul Rock Club, da ex-esposa do cantor, Kika Seixas, de sua filha Vivi Seixas e certamente da equipe do MIS. Com paciência para explorar os detalhes, dá pra conhecer sobre a carreira de Raul com muita precisão histórica.
A exposição tem uma experiência imersiva: por uma módica quantia, o usuário tem a oportunidade de escolher entre quatro canções de Raul para interpretar em um palco – caracterizado ou não – , numa performance que é gravada e disponibilizada por meio da leitura de um QR Code, pronta para ser baixada e compartilhada.
Estive na exposição no domingo, e levei cerca de duas horas para percorrer todos os espaços, assistindo a alguns vídeos e tentando prestar atenção a todos os detalhes. Ainda assim, me parece uma experiência que exige novas visitas para captar tudo.
É bem verdade que Raul teve, pensando bem, uma carreira um tanto errática, com alguns pontos questionáveis, como Rock das Aranha, mas é inegável que o mito que carrega em si ainda é gigantesco. Dito isso, é revigorante pensar que uma exposição pode até aproximar sua obra de pessoas que não o conhecem, tanto pela distância que há entre sua morte e a pouca disseminação de seus trabalhos ao longo dos anos seguintes, quanto ao próprio caráter restritivo e estereotipado que se faz de seu legado.
Na saída da exposição, em uma ida ao toalete, flagrei um diálogo entre jovens que nunca tinham ouvido falar de Raul Seixas. Um deles comentou “parece que ele foi daquela banda Camisa de Vênus, né?” (sim, ele estava confundindo Raul com seu último parceiro musical, Marcelo Nova). Nesse sentido, penso se a tal experiência imersiva que tanto é cobrada não precisaria começar pela própria disposição do usuário em imergir no acervo. Talvez uma maior oferta de visitas guiadas seja uma possibilidade plausível. A ver.
Serviço:
Museu da Imagem e do Som
Av. Europa, 158, Jd. Europa
São Paulo – SP – Brasil
CEP 01449-000
+55 (11) 2117-4777
faleconosco@mis-sp.org.br
Horário*
terças a sextas / 10h às 19h
sábados / 10h às 20h
domingos e feriados / 10h às 18h
- Permanência até 1h após o último horário
Ingresso
R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia)
Terças: ingresso gratuito, retira apenas na bilheteria física do MIS
Quarta B3: na terceira quarta-feira do mês, graças a uma parceria com a B3, a entrada também é franca.



