Semioses da escuta e guitarras enlouquecidas

De Pink Floyd a Sonic Youth: o que essa salada musical revela, afinal?

Glenn Branca comandando uma de suas “orquestras de guitarra”

É muito legal esse lance de ouvir álbuns em grupo. Mais legal ainda é poder desenvolver uma curadoria coletiva (bem louca) e compartilhar as impressões sobre gêneros, estilos e movimentos no calor da hora, logo após a audição.

Pode parecer loucura, mas depois do The Dark Side Of The Moon tínhamos definido entrar no punk rock (Bad Religion era a escolha). A ideia era simples; o punk foi, dentre outras muitas coisas, uma resposta a um rebuscamento extremado do rock, muitas vezes representado pelo prog mais conhecido. O contraste ficaria bem claro. Mas os planos foram pelo ralo porque a aluna que recomendou o álbum do Bad Religion faltou, então precisamos fazer uma substituição de última hora.

Fomos então na sugestão de uma outra aluna, que é quem tinha, na realidade, apontado para o punk, mas para falar que gostava de Sonic Youth. Que não é bem punk, diga-se, mas que bebe dele. Rapidamente eu pensei que nem se tivéssemos feito uma curadoria extensivamente pensada anteriormente teríamos acertado tanto. Não que SY tenha algo a ver exatamente com o prog (tem com o punk, como já disse, de forma mais ou menos fundadora – não definidora). Mas a banda explora em seus discos longos interlúdios com sinfonias aberrantes de guitarras que, vez ou outra, remetem ao prog. E o punk nem precisamos dizer – vive nos baixos de Kim, nos berros de algumas canções, nos riffs de três acordes de outras, rápidas e diretas, etc. Mote, do álbum Goo, traz essa conexão, unindo o punk (na primeira parte) a um “quase prog” (na segunda parte, com um interlúdio que traz dedilhados harmônicos e paredes de guitarra distorcida)

E foi Goo o escolhido. O disco mais “acessível” da banda, certamente (Bruno Leo escreveu sobre ele aqui recentemente). Mas um disco com o bom e velho SY traduzindo sua proposta deveras radical a um público cada vez mais afeito ao rock alternativo, em início dos anosis 90. Fiz várias notas ao longo da escuta, e algumas delas vale compartilhar:

  • (Em Dirty Boots): Sonic Youth é tipo meu pulmão esquerdo.
  • (Tunic (Song For Karen)): É pra Karen Carpenter, gente. Olha esse fuzz. Olha essa diva (a Kim Gordon).
  • (Kool Thing): Esse é o hit do disco. Imaginem isso.
  • (Mote): Olha aí o seu Pink Floyd, meninos.
  • (Scooter and Jinx): Isso tudo é guitarra, gente. Não é sampler, não é eletrônico, não é motor de carro. É guitarra. GUI-TA-RRA.

Bom, falei um monte de outras coisas. Mostrei algumas referências que constituem a espinha dorsal do Sonic Youth, tentando revelar, com isso, a gênese do próprio rock alternativo. As origens do estilo de Kim em Patti Smith, a orquestra de guitarras de Glenn Branca … referências, associações. Aulas. Uma aluna anotou as informações sobre a Kim Gordon (inclusive o nome de sua autobiografia). Outra ficou de olho em Glenn Branca. Outro pediu pra ouvir o que seria um punk mais “tradicional”, e ficou curioso com Bad Religion e Ramones. Assim seguimos.