A mágica de Zé Rodrix

Em seu segundo disco-solo, Zé Rodrix oferece um conjunto coeso de canções, e se encontra confortavelmente junto com as grandes referências de rock nacional dos anos 70.

Descrever o que foi a carreira de Zé Rodrix é uma das tarefas mais difíceis para quem se presta a fazê-lo. Não dá pra sequer começar a falar da música brasileira desde os anos 70 sem passar pelo seu papel na consolidação dos movimentos, seja como membro do Som Imaginário, do trio com Sá e Guarabyra ou, já nos anos 80, quando se tornou integrante do Joelho de Porco.

Compositor prolífico e um tanto inquieto, Zé também foi responsável – junto com Tavito – por um dos maiores sucessos na voz de Elis Regina, Casa no Campo. E foi compondo rocks rurais e urbanos, plantando amigos, discos e livros que ele também teve uma produtiva carreira-solo, nem sempre de grande sucesso (que viria a acontecer com Soy Latino Americano, seu terceiro disco, de 1976).

Mas antes desse sucesso (de certo modo até planejado pelo artista, incentivado pelo amigo, o argentino Roberto Livi, a escrever canções que dialogasse “com o povão”), Zé Rodrix lançou dois outros discos, I Acto e Quem Sabe Sabe, Quem Não Sabe Não Precisa Saber, provavelmente seu álbum mais cultuado ao longo dos anos.

Lançado em 1974 com o nome de Zé Rodrix e a Agência de Mágicos, Quem Sabe Sabe, Quem Não Sabe Não Precisa Saber já chama atenção pela capa psicodélica, em que ele é representado como um deus hindu de vários braços, cada um segurando um instrumento, o que traduz sua característica de multi-instrumentista.

A sonoridade, no entanto, é um pouco mais sóbria, carregada de rock e folk e com letras fortes e trabalhadas em críticas sociais e autorreflexões, como Muro da Vergonha ou A Volta do Filho Pródigo, mas com espaço para falar de amores passageiros em Círculo Universitário e momentos de curtição e rebeldia em Noite de Sábado.

Ao fim, um medley formado por Não Perca o Final e A Roupa Nova do Rei pondera sobre as coisas da vida e sobre a incapacidade de percepção da realidade por parte da sociedade, numa releitura da fábula clássica que dá nome a esta parte da suíte.

Num total de 12 faixas, o disco passeia por vários estilos dentro do rock, como blues, glam e folk e reforça a nossa percepção e insistência em reconhecer a existência de um movimento (pulverizado no meio da MPB) desde os anos 70, ainda que a tendência da mídia mainstream seja de contar a história do rock nacional a partir dos anos 80.

Zé Rodrix continuou produzindo ao longo dos anos, seja com a carreira musical ou na publicidade, tendo sido autor de vários jingles famosos dos anos 80 e 90, até seu falecimento, ocorrido em 2009, aos 61 anos. Fica um legado importante, que precisa ser visto e revisto sempre que possível.

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