H.E.A.T. e seus hits que hitam

Welcome To The Future coroa de vez os suecos como os representantes mais poderosos do Hard Rock contemporâneo

À medida que o tempo avança, a gente volta. Os receptores auditivos tentam sintonizar um ambiente confortável, que não nos empurre para o colapso cultural de tendências geradas em linhas de produção. Parar pra ouvir é quase um ato de rebeldia e se manter nessa ação soa como uma pequena revolução cotidiana.

Aos hedonistas desta geração, deixar-se convencer por doze faixas de um disco, sem avançar ao primeiro sinal de desagrado, é um crime inafiançável. Poucos são os desobedientes que aceitam o exercício comum de entretenimento em meio ao paraíso de distrações atuais.

Quando foi a última vez que pudemos ouvir, reouvir e depois escutar mais algumas vezes um álbum para conseguir a sensação rara de algo que melhora com a repetição? Possivelmente, muitos materiais recusados após a primeira reprodução poderiam ser obras colecionáveis em cérebros menos imediatistas.

Por isso, de certa forma, voltamos. Ou melhor, o H.E.A.T voltou. Welcome To The Future promove essa excursão ao Hard Rock aos anos 80 com roupas de hoje e não tem a menor pressa de impressionar de cara. Apesar de direto, divertido, bem executado e com melodias que a Suécia domina melhor do que ninguém, o lançamento vai criando raízes na alma a cada nova audição. Evolui para novas esferas atraentes, e o ponto inicial do glam performático escala até modernização elegante do estilo. Nostalgia futurista. Saudosismo Visionário, eles mudam as épocas de lugar e encaixam com maestria neste período.

Da intro de “Disaster” até o encerramento de “We Will Not Forget”, somos convidados a manter um ritmo que desafia o marasmo. Teclados e guitarras destroem ponteiros de relógio, reuniões inadiáveis e quaisquer outros compromissos que respeitem agendas. São refrões necessários que ganham prioridade absoluta e seguem reverberando mesmo depois do fim.

Aos que exigem destaques singulares, poderia exaltar “Bad Time For Love” e sua aura Jon Bon Jovi vestindo trajes de David Lee Roth. Seria um hino em 1987, cabe a nós torná-lo um em 2025.

“In Disguise” é outra representação estonteante de composição cativante, trazendo um tema duetado de guitarra e teclado impactante que desafia padrões quando explode no refrão. Os vocais de Kenny Leckremo reúnem tantos adjetivos que é impossível listar o quanto sua volta pra banda foi vital. Ele pode cantar em qualquer tom, com a interpretação precisa e o timbre que abraça os instrumentos com a força de um urso tibetano.

Agora, “Call My Name” é um escândalo. Desafio qualquer um a não desenvolver um vício pelo tema da guitarra inicial que é replicado no refrão e se transforma em uma melodia penetrante. Você vai dormir, ela está lá. Você acorda, ela te dá bom dia. É o tipo de música que vale a carteirinha de ouro de compositor. Desmond Child assinaria.

O H.E.A.T. mostra que a fórmula do Hard Rock funciona e que é possível aperfeiçoar essa receita com toques suaves, capazes de criar a tão desejada identidade. Enquanto ainda não se pode reservar um terreno nos anos 80, escolher morar nas dependências de Welcome To The Future talvez seja o mais perto que podemos chegar de nos sentir em casa.


Faixas:

1. Disaster
2. Bad Time For Love
3. Running To You
4. Call My Name
5. In Disguise
6. The End
7. Rock Bottom
8. Children Of The Storm
9. Losing Game
10. Paradise Lost
11. Tear It Down (R.N.R.R.)
12. We Will Not Forget


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