
Ainda que isso não indique previsibilidade, a gente meio que sabe o que esperar de Suzanne Vega, e isso é sensacional.
Em seu décimo álbum de estúdio em 40 anos desde o primeiro, auto-intitulado, a cantora mantém aquele espírito de cronista que já a fez narrar as observações a partir do cotidiano de um restaurante (Tom’s Diner) ou sob a perspectiva de uma criança vítima de abusos (Luka).
Em Flying With Angels, o álbum recém-lançado, o inevitável destaque é para Chambermaid, em que a compositora se vale das harmonias de I Want You, canção emblemática de Bob Dylan em Blonde on Blonde (1966), para um relato reimaginado na persona da camareira citada na letra original. Refletindo se em algum momento já roubou de seu interlocutor da canção de Dylan, ela afirma: Eu não peguei nada que ele sentiria falta, mas apenas uma vez eu roubei um beijo.
Mas o disco não vive só do brilho de Chambermaid, e a faixa seguinte avança para um soul inspiradíssimo, Love Thief, que conta com os vocais de apoio de Catherine Russell, para mais à frente mergulhar na new wave na rebelde com causa Rats, passando por uma celebração à vida da cantora country Lucinda Wiliams em Lucinda, com versos nada singelos, mas bastante honrosos à homenageada, descrita como forte e orgulhosa, mas um pouco frágil. Outra participação no disco é da filha de Suzanne Veja, Ruby Froom, fazendo vocais em Last Train From Mariupol e em Alley.
Em entrevistas, Vega destaca que o álbum se desenrola em atmosferas de luta, sejam as pessoais da cantora, sejam as globais de todos nós. Ela se refere certamente ao drama vivido pelo marido, Paul Mills, advogado e poeta, que enfrentou problemas de fala após sofrer dois derrames. O conceito do álbum é, então, sobre expressão e sobre suas dificuldades em todos os aspectos.
Flying With Angels foi produzido pela cantora ao lado de Gerry Leonard (que anota trabalhos junto a nomes como David Bowie, Laurie Anderson, Duncan Sheik e Rufus Wainwright, além da própria cantora).
Na faixa-título, a cantora demonstra o alívio de não estar voando sozinha. Esse alívio talvez seja também nosso, ao voar junto a ela.
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