
Tenho idade suficiente pra lembrar com clareza da voz do Cid Moreira falando “Mister M” nos fins de domingo. O famoso mágico mascarado revelava aqueles segredos dos truques de palco, e todo mundo pensava: “mas é basicamente isso?”. Praticamente todos os truques de mágica têm as soluções mais simples possíveis. Na vida, tudo é meio assim. Complicar demais as coisas é uma artimanha de pessoas que querem fingir que são inteligentes.
Criatividade e complexidade são coisas distintas. Fazer o simples é muito difícil. E, na carreira musical dos dias atuais, com tantas variáveis, simplificar um pouco esse trabalho é um dos caminhos. Já vimos várias bandas fazendo mais ou menos a mesma coisa. Usam máscaras ou maquiagens pra que a música seja o foco principal. De Kiss a Slipknot. De Ghost até Sleep Token.
Se você procurar na internet, dá pra saber mais ou menos quem é o líder e voz principal dessa banda de difícil definição. É um Neo-Soul com R&B e Pop alternativo, misturado com Metal Moderno. E, pra mim, isso é o grande diferencial musical do Sleep Token. Essa mistura que, de certa maneira, expande nossos gostos, mesmo não sendo nada incrivelmente de vanguarda. É bem feito, bonito, melodioso, pesado e visceral.
Eu não me importo em saber quem é Vessel, nem quem são seus integrantes. A banda me encantou pela música. Também não acho que precisamos entender todo o lore da banda pra apreciá-la melhor. Esse negócio de ter que saber isso ou aquilo do conceito da banda é tipo ter que ver 37 filmes da Marvel pra entender a história do novo filme.
Com “Take Me Back To Eden”, disco de 2023, a banda explodiu de vez. Saiu de uma banda tocando em pequenos ou clubes de médio porte pra estádios e grandes arenas. Seu charme está no inesperado. Talvez seja um pouco pop demais pro metaleiro tr00, e pesado e com gutural demais pra quem escuta pop. Mas tudo, dentro dessa vasta exploração musical, pode ser apreciado de maneiras diferentes.

Agora, em “Even in Arcadia”, lançado na última sexta-feira, dia 9 de maio, a banda segue essa tendência, brincando um pouco mais de ter várias músicas dentro de uma música. É como se cada faixa tivesse sua subdivisão. Uma hora tem uma pegada de Radiohead, depois vira um trap moderno, depois vem o peso quebrado de Meshuggah e volta pra um Neo-Soul etéreo e atmosférico.
A faixa de abertura do álbum, “Look to Windward”, já traz o tom atmosférico e introspectivo do disco. A música tem uma construção lenta, com sintetizadores com dissonância Kid A do Radiohead e vocal sequinho, com ótimo timbre. Aos poucos, a música fica mais intensa, com guitarras pesadas e bateria marcante. A letra aborda temas de perda e convida a gente a refletir sobre o passado e nossas decisões.
Já um dos singles lançados anteriormente, chamado “Emergence”, mostra a habilidade do Sleep Token em mesclar diferentes gêneros musicais. A música inicia com vocais suaves acompanhados por piano e elementos eletrônicos, evoluindo gradualmente para riffs de guitarra pauleira e um solo de saxofone meio Kenny G, completamente aleatório no final, que funciona muito bem e traz um sorriso no nosso rosto pela ousadia.
“Past Self” é uma faixa mais curtinha, com instrumentação de piano e beats. Em seguida, temos “Dangerous”, que combina elementos de rock alternativo com influências de música eletrônica e pop. É uma das faixas com a linha de vocal mais bonita do disco. Depois temos “Caramel”, com uma sonoridade suave e minimalista, com elementos de pop e reggaeton.
A faixa-título do álbum, “Even in Arcadia”, é o ponto central temático e musical do disco. A música combina elementos de rock progressivo e clima atmosférico. “Provider” é uma faixa que mistura texturas eletrônicas com instrumentação orgânica e soa até indie, com refrão emo. Seguindo, temos “Damocles”, que começa como uma balada suave ao piano, evoluindo pra um som mais pesado e moderno.
No final do disco temos “Gethsemane”, uma mistura de Bon Iver, Deftones e Polyphia, carregada de emoção. E o disco fecha com o grande épico “Infinite Baths”. Na parte técnica, a produção e mixagem foram de Carl Bown, conhecido por seu trabalho com bandas como Bullet for My Valentine. Ainda com engenharia de som adicional, temos Jim Pinder e o ótimo Adam “Nolly” Getgood, ex-baixista do Periphery e renomado produtor no cenário do metal progressivo.
Even in Arcadia é notável por sua fusão de estilos, combinando elementos de R&B alternativo, post-metal, rock alternativo e djent. É um disco expandindo o som da banda em seu caminho traçado desde o Take Me Back To Eden, de 2023. Os mascarados do Sleep Token só escondem seus rostos e suas identidades. Seus segredos criativos estão expostos por completo. Mas sem complicações desnecessárias. São misturas naturais, de uma música que não se importa mais em ser rotulada. Afinal, dá pra amar todas as sub-músicas que cada uma das músicas tem. Ainda bem.
Faixas
- Look to Windward – 7:45
- Emergence – 6:26
- Past Self – 3:35
- Dangerous – 4:11
- Caramel – 4:50
- Even in Arcadia – 4:28
- Provider – 6:06
- Damocles – 4:25
- Gethsemane – 6:23
- Infinite Baths – 8:23
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