
Primeiro vem o grito de raiva, depois as lágrimas da tristeza. Nos cinco estágios do luto descritos pela psiquiatra Elisabeth Kübler-Ross: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação, o novo disco de Mdou Moctar, Tears of Injustice, representa o estágio final do luto. Vamos da depressão para a aceitação.
Mdou Moctar, carinhosamente apelidado de Jimi Hendrix do Saara, é um músico e guitarrista nascido no Níger, conhecido por sua fusão única de música tradicional do Saara com elementos do rock contemporâneo e alternativo. Ele nasceu em Abalak, uma pequena cidade no Níger, e aprendeu a tocar guitarra de forma autodidata desde jovem.
O Blues do Saara, também conhecido como Desert Blues ou Tuareg Blues, é um estilo musical originado no Saara e em outras regiões do norte da África, especialmente entre os povos Tuareg. Ele mistura elementos tradicionais da música africana com influências do blues americano e do rock psicodélico.
O Mdou Moctar se tornou um nome forte no cenário mundial do Blues do Saara, mas sua banda foi surpreendida pelos conflitos no Níger, que os mantiveram presos nos Estados Unidos devido ao risco de guerra civil e ameaças de golpe.
Impedidos de retornarem ao país de origem, encontraram inspiração nessa experiência para compor Funeral for Justice, lançado em 2024. O álbum reflete essa situação desafiadora, explorando emoções e criticando a quase extinção de sua língua local em favor da língua colonial. Em Funeral for Justice, sentimos a raiva nas guitarras distorcidas e a angústia na voz.

Agora, no dia 28 de fevereiro de 2025, a banda pegou a mesma ordem de Funeral for Justice, mas com um sentimento mais melancólico, triste e reflexivo, e lançou uma versão crua e acústica chamada Tears of Injustice. E parece outro disco. Aquela raiva eletrificada do original, agora se transforma em sutileza e melancolia, trazendo um protesto mais introspectivo que coloca quem ouve em um estado de transe.
Música é o som dos sentimentos, e Mdou Moctar, com todos os seus acordes e melodias fora da nossa zona de conforto, nos leva para um lugar flutuante e meditativo. A mistura de sons tradicionais e influências contemporâneas, cria subtons e ritmos que não são familiares, jogando em nossos ouvidos explosões de estímulos infinitos que expandem nossos próprios gostos musicais.
Se em Funeral for Justice a banda já encantava, agora, na introspecção mais real e menos polida de Tears of Injustice, admiramos ainda mais a essência de sua música. Nos levando para lugares diferentes, nos fazendo ver o mundo de outra forma. Na raiva de seus acordes, na negociação de suas melodias, na depressão de sua melancolia e na aceitação de que este é um artista que precisa ser aclamado.
Nota: Dá play com tudo!
Faixas
1) Funeral for Justice (Injustice Version) – 5:45
2) Imouhar (Injustice Version) – 8:33
3) Takoba (Injustice Version) – 3:23
4) Sousoume Tamacheq (Injustice Version) – 5:19
5) Imajighen (Injustice Version) – 4:13
6) Tchinta (Injustice Version) – 4:08
7) Oh France (Injustice Version) – 3:44
8) Modern Slaves (Injustice Version) – 4:36
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