
Nos últimos anos, não tem sido muito difícil saber o que esperar de um álbum dos Manic Street Preachers, mas há uma coisa no recém-lançado Critical Thinking, não muito fácil de identificar à primeira audição, que o coloca um pouco à frente de seus antecessores desta década.
Talvez um fator seja a presença maior do baixista Nicky Wire como cantor, o que de certo modo libera James Dean Bradfield para encarnar o guitar-hero. Mais autoconfiante depois do lançamento de Intimism, seu disco-solo de 2023, que resenhei aqui, Wire canta as canções que compôs sozinho, mas delega a Bradfield os vocais da canção com teor mais pessoal: Dear Stephen.
O homenageado com esta carta aberta em forma de canção é o ex-cantor dos Smiths, Stephen Patrick Morrissey, de quem Wire ainda guarda um cartão postal recebido na adolescência, com uma mensagem de “fique bem logo”, a pedido da mãe do futuro baixista.
Hoje defendendo ideias bem questionáveis (para ser suave), o cantor é convidado a voltar a ser o que era, se é que um dia foi. Ao longo da canção, este Morrissey hipotético é agraciado com algumas citações de seus versos e uma oportunidade de redenção, que claro, não virá.
A real é que talvez a intenção de Nicky Wire – aqui já dá pra notar que ele tem um protagonismo bem grande nesta fase da banda que divide com Bradfield e o baterista Sean Moore, em um trio desde o desaparecimento de Richey Edwards, há 30 anos – nem seja a de perdoar Morrissey, mas sim o próprio passado, a adolescência e as escolhas.
Mas o disco não é só Dear Stephen, muito pelo contrário. Primeiro que já abre com a faixa título, de autoria de Wire e emulando uma new wave suingada com letra incentivadora sem ser piegas (ok, até que é um pouco piegas).
Em seguida, vem Decline & Fall, com aquele estilo que mescla indie com rockão de arena, que faz a banda ter alguns dos refrões mais cantaroláveis da música pop.
Being Baptised consegue a façanha de ser ainda mais Smiths do que a canção que literalmente fala de um ex-Smiths.
Além destas, há muitos pontos altos no disco, como People Ruin Paintings, e OneManMilitia, que encerra o disco com versos matadores como “I don’t know what I am for but I know what I am against”.
Pode ser cedo ainda para tratar Critical Thinking como um clássico contemporâneo, mas se eu ainda não posso dizer isso, posso dizer que os Manics finalmente fizeram um disco que há muito tempo eu esperava que fizessem.
Ouça Critical Thinking na sua plataforma favorita.
Ouça o nosso episódio #101, sobre o sumiço de Richey Edwards, dos Manic Street Preachers.