Mais um gol da Alemanha, mas esse a gente comemora

Malou Lovis desafia a estrutura do pop em seu primeiro álbum após vencer o The Voice alemão

Desde seu primeiro single, a cantora alemã Malou Lovis Kreyelkamp já mostrava que havia algo de diferente em sua arte. E nem estou falando das prévias do sublime things i wrote last night que será a pauta aqui, mas de Glacial Rivers, lançado lá em 2023, com um intenso apelo musical e emocional.

Ali, Malou cantava “I wanna be bold enough to swim in glacier rivers” e, no verso seguinte, “I wanna be good enough to wake up next to her, I wish I was strong enough to overcome my fear of lovin’ you“. Não era apenas uma canção para se lançar ao estrelato após vencer a temporada 13 do The Voice de seu país — era um manifesto, um convite para que outras mulheres também se sentissem fortes o suficiente para assumir seus próprios desejos e relações.

Artistas existem para ir além de performance e voz afinada. E isso fica completamente perceptível em seu primeiro disco, que chegou a 2025 nos ensinando que é possível se emocionar faixa a faixa. Uma letrista perspicaz, que logo em Piece Of Me acompanha o violão abafado cantando sílabas compassadas sobre uma divisão de quem ela é. Abrindo o álbum e os braços para direcionar nossos ouvidos a um caminho sem volta por seu timbre doce e honesto.

Entre o quase rouco e as notas altas, Lovis desfibrila corações que ainda ousam parar. Hearts Runs Riot começa assim, arranhando nossas paredes cardiovasculares e construindo sorrisos e lágrimas a medida que os batimentos aceleram. As transições de atmosfera são harmoniosas, como se fossem costuradas precisamente, ainda que estejamos dentro de um som relativamente pop. Entretanto, vemos que é uma versão dourada desse gênero. Não é vago e pretensioso — é a tão cobiçada e rara personalidade que se busca em algo genuíno.

Experimente fechar os olhos com força para apreciar o absurdo de composição que é Step by Step. Ela brilha tanto aqui quanto o Quasar J0529-4351, esvaindo seus versos entre o teclado inicial até explodir num refrão que tem o poder de salvar vidas. De longe, a melhor música do ano que vai fazer a festa nas playlists de envolvimento.

things I wrote down last night é um registro pessoal que se estende aos que compartilham tantos episódios próprios de vida sem saber como desenhá-los. Na viagem entre a suavidade acústica e as intervenções sonoras mais acessíveis, este disco de estreia entrega sentimento.
Uma obrigação de quem faz música.


Faixas

1. A Piece Of Me
2. Heart Runs Riot
3. Twenty-Five
4. México
5. You Made Me
6. Dark Days
7. Step By Step
8. Shadows
9. Insecure
10. Black Suits and Misery
11. Want it Back


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