
Linda Martini é uma banda portuguesa formada em 2003, com influências de post-rock, alternativo e punk rock, entre outras referências.
Uma mudança significativa na banda, que lança seus álbuns e EPs há duas décadas, foi a saída do guitarrista Pedro Geraldes, após o lançamento de ERRÔR, de 2022. Em seu lugar, a banda recrutou Rui Carvalho, conhecido em Portugal por seu trabalho solo, no qual se apresenta com o nome de Filho da Mãe.
Depois de dois anos em turnê com o novo integrante, a banda se reuniu para compor e gravar seu novo álbum, o recém-lançado Passa-Montanhas.
Passa-Montanhas é uma balaclava, ou seja, um gorro que cobre completamente a cabeça e o rosto, deixando apenas os olhos à vista. É essa imagem que ilustra a capa do álbum, que – embora não seja exatamente conceitual no sentido clássico – tem um conceito sobre o qual gira em torno.
A história que inspirou o disco, segundo a banda conta em uma reportagem extensa do site Observador, vem de uma matéria de 1992 do jornal Publico, que conta a saga de um anti-herói, cujo nome era Felisberto “Beto” Cabral, descendente de cabo-verdianos e líder de um grupo de delinquentes juvenis, oriundos de famílias da classe trabalhadores e vítimas de racismo e violência, que se uniram em torno da figura do Corvo, numa união de gangues da Linha de Sintra.
O Corvo, figura idealizada por Beto, era o inimigo em comum destas gangues, e o terror das histórias contadas a seu respeito fez com que as gangues se juntassem para ir à caça dele como um alvo. Não demorou para que Beto fosse exaltado como um líder pacifista e para que ele passasse a ser convidado por instituições para dissertar sobre o Corvo.
Ainda que a história tenha mais relação com o projeto visual do trabalho, a influência se dá também por uma ideia comum – e declarada – de se refletir sobre a necessidade da humanidade de conversar melhor, o que leva à temática frequente das letras, cheias de reflexões.
Dada a referência, o álbum circula entre temas sociais e políticos, e questiona até o papel de uma banda – literalmente em Uma Banda, com direito a citação de Chico Buarque e os versos geniais: Alguém aí que mate a banda / Estão-se a arrastar / Uma morte limpa sem complicações / Façam parecer um suicídio comercial – e o papel da canção em A Cantiga É.
Meu Deus, música que questiona o capitalismo e o poder de quem controla a guerra e a paz, numa clara menção aos dias de hoje e aos bilionários nas primeiras fileiras dos governos, e Pé de Guerra, sobre a necessidade de refinar o diálogo, seguem a toada do desespero que parece ser a tônica (até porque o disco inicia com uma canção chamada Assombro). Tudo isso sob uma sonoridade frequentemente pesada e às vezes dissonante, mas bastante agradável.
Passa-Montanhas é atual, urgente, marcante. Tem as características que permitem pensar nele como um clássico contemporâneo.
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