
Uma das coisas mais inteligentes pra se fazer antes de embarcar na audição de um som novo é não se deixar levar pelos rótulos que a própria banda coloca pra se descrever. Assim sofremos menos e aproveitamos mais, desviando o ouvido das possíveis familiaridades de influências que se misturam ao longo das faixas.
Quando ‘Rainmaker’ começa a chover – ou melhor, tocar –, a autodescrição do grupo “De Foo Fighters à Fleetwood Mac” já se desconstrói e isso é positivo para um caralho. O que se percebe é uma atmosfera relativamente contemporânea, com guitarras equilibradas, baixo marcando a cabeça das notas e bateria consistente, tocando pra música.
Os riffs são acessíveis mas o timbre de Tomi Julkunen dá um brilho peculiar para a sonoridade. O dono das seis cordas consegue transitar entre o rock clássico e as palhetadas mais atuais, fazendo com que o som dos quatro juntos não pareça um retalho de gerações. Muito dessa química vem do entrosamento de Julkunen com o baixista Vali Palevaara. Os dois tocam juntos no The Milestones e já se apresentaram ao lado de nomes gigantes como Deep Purple e Whitesnake.
Toni Mustonen é o comandante das baquetas, cadenciando o ritmo para que a estrela máxima, Ella Tepponen, despeje seus poderosos e deliciosos vocais sobre essa camada sonora muito bem amarrada. A cantora é um assombro de performance, sabendo ser melodiosa e agressiva na temperatura que as canções pedem. Uma legítima rockstar, com domínio absoluto de suas cordas vocais.

Pode ser cedo pra dizer, mas ‘Flames’ já vai se aconchegando na prateleira das melhores músicas de 2025 sem medo de ser ameaçada. Seria esse o resultado da produção de Richard Stanley? The Who que o diga. Ele curtiu tanto a pegada do quarteto finlandês que, além de produzir, ainda escreveu letras para o The Way It Burns.
Pra colocar a cereja nesse bolo gelado embrulhado com clássicos do futuro, nada melhor do que masterizar com quem já esculpiu trabalhos de Rammstein, Apocalyptica e Volbeat: o nosso querido indicado ao Grammy, Svante Forsbäck, do Chartmakers.
Isso significa que eles vão ganhar uma premiação? Sinceramente, dane-se – com ênfase em foda-se. Até porque esse tipo de evento dificilmente funciona como um termômetro de qualidade sonora. É mais um desfile de quem paga mais robô no streaming e tem as melhores parcerias com marcas de roupa.
O Ginger Evil é autêntico e espero que as camisetas deles também sejam, porque vou comprar.
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