
A grosso modo, o Ghost pode ser visto como uma espécie de ‘cota cultural’ para quem não tem tempo de frequentar espetáculos de teatro ou mergulhar numa leitura com mais de trezentas páginas. O exército de um homem só sempre costurou bem a sua expressão artística, deixando a música intrínseca com o conceito geral da banda e é inegável que a proposta funcionou no cenário moribundo do rock-metal em seus 5 atos iniciais. Mais precisamente nos 3 ou 4 primeiros.
Tal qual These Days do Bon Jovi, Skeletá representa um daqueles saltos criativos que imprimem assinatura na música. Tobias Forge, ainda que renovando o guarda-roupa do projeto e o costumeiro espetáculo ao vivo, mergulha numa sonoridade mais introspectiva sem recorrer ao sombrio como uma muleta atraente. Entre os riffs típicos das bandas de hard e glam rock oitentistas, enxergamos temáticas existenciais que balanceiam esses universos e, de certa forma, provocam a própria trajetória do projeto.
Desde “Peacefield”, que abre suave com vozes juvenis e explode num refrão do mais puro Journey, a percepção é mais refrescante. Por mais que o Ghost sempre tenha material para rock de arena, este sexto álbum mantém essa atmosfera ao longo de toda a sua audição, inclusive nas baladas.
Se “Lachryma” flerta com algo que o Sabbath faria com acesso a mais teclados e “Satanized” oferece uma cadência quase teatral com excelentes intervenções vocais no pré-refrão, “Guiding Lights” desacelera com elegância, colocando uma mistura de sentimento e reflexão impossíveis de serem ignorados.
A caixa marcada eleva os batimentos em “De Profundis Borealis”, no andamento que consagrou “Square Hammer”, porém, muito mais melodioso e rico instrumentalmente. Na sequência, uma das obras-primas do disco. É impressionante as vertentes que “Cenotaph” vai criando no desenrolar do chimbal em semicolcheia até culminar num dos solos mais bem escritos e executados — provavelmente o culpado seja Fredrik Åkesson, conhecido por seus excelentes serviços na guitarra do Opeth.

A sétima faixa beija o hard rock na boca, e podemos aproveitar o verbo e usar o Kiss aqui. Paul Stanley estaria orgulhoso ao ouvir a construção de “Missillia Amori”, com seus foguetes de amor explodindo entre os olhos da personagem na canção.
Em “Marks Of The Evil One“, o tema do apocalipse dá as caras ainda sob a cortina de algo que o Ozzy poderia ter feito com “Lightning Strikes”. Outro acerto grudento de bom gosto, que abre espaço para a favorita de muitos do disco, “Umbra”. De fato, a frase inicial de guitarra cria sorrisos instantâneos e o cowbell quase que personifica Steven Adler em “Nightrain”. Tudo escalado para ápices melódicos no refrão e uma batalha inesperada de teclado e guitarra antes do desfecho. Ponto altíssimo do disco, digno dos momentos de rockstar da temática que o disco claramente se apoia: os dourados anos oitenta.
“Excelsis” chega para ser, como o próprio Tobias revelou, a faixa em que os créditos sobem ao fim do filme. Mas o que sobe, além disso, é a admiração em relação a todo o contexto de Skeletá. Nota-se aqui um material que tem força própria, além dos símbolos e fantasias que compõe a história do Ghost. Se Tobias escolhesse tirar a máscara e entoar as dez faixas, seria perfeitamente compreensível. É como se, após tantos anos de conexão por um personagem, Forge se despisse diante de sua legião e mostrasse mais sobre ele mesmo do que sobre seu bem-sucedido legado.
Faixas:
1. Peacefield
2. Lachryma
3. Satanized
4. Guiding Lights
5. De Profundis Borealis
6. Cenotaph
7. Missilia Amori
8. Marks Of The Evil One
9. Umbra
10. Excelsis
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