
Quando eu era pré-adolescente, descobrir bandas novas era na base da aposta na loja de discos ou com a MTV ligada o dia inteiro, com um caderninho do lado para anotar o nome do artista. Ali pelo começo de 93, eu ficava pulando entre a MTV Brasil e a MTV Latino. Os ciclos de clipes que passavam no Fúria Metal se repetiam com bastante frequência, já o Headbangers na MTV Latino contava com muita coisa nova, e foi assim que ouvi pela primeira vez Pull Me Under do Dream Theater.
Na época em que o Rock Progressivo era quase uma vergonha, bandas veteranas estavam fazendo discos mais acessíveis tentando sobreviver ao mundo com o grunge passando por cima de tudo. E foi assim que o Dream Theater apareceu pro mundo, preenchendo esse espaço, misturando Rush com Iron Maiden e Metallica. Juntei o dinheirinho do lanche do recreio (mais conhecido como passar fome) e fui correndo na Berlim Discos em Brasília, e perguntei se eles tinham Dream Theater. E saí da loja todo feliz com o Images & Words (1992), disco que tinha Pull Me Under.
Corta para 2010. Nem ouvia mais tanto Prog Metal, mas o Dream Theater esteve sempre ali. Mike Portnoy, um dos bateristas que mais admiro, gente boa que dói, anuncia que deixou a banda. Pra mim, foi ali que meio que abandonei. Até ouvi os discos com o ótimo Mike Mangini nas baquetas, mas, para mim, a banda perdeu a alma. Ter o Portnoy de volta na banda era um sonho. Mas, em 2024, tudo mudou. Mike Portnoy voltou para a banda. Nunca uma volta fez tanto sentido. Talvez, depois do Bruce Dickinson voltando para o Iron Maiden, foi a maior volta de um integrante de banda de Metal.

Nesse novo disco, a banda abraça sem vergonha nenhuma o seu som característico, quase homenageando os 40 anos de existência. É um disco feito por 5 incríveis músicos que se conhecem como ninguém. Em uma química que faz deles a maior banda do gênero. O disco tem tudo que a banda gosta de fazer, mas com um toque de modernidade. E tudo o que os fãs também imaginavam e algumas surpresas inesperadas de bônus.
Parasomnia é um termo que se refere a um conjunto de distúrbios do sono como sonambulismo, terror noturno, paralisia do sono entre outros comportamentos. Esse é o conceito do álbum. Não chega a ser um disco conceitual com uma história ligada na outra, mas o tema percorre todo o disco.
Em meio a essa atmosfera de distúrbios do sono, a banda chega com um som pesadíssimo e, em questão de segundos, já transmite aquela sensação de euforia, com a bateria de Mike Portnoy explodindo em energia e personalidade. No entanto, o grande destaque do disco é o guitarrista John Petrucci, que entrega uma sequência de riffs brutais, criativos, modernos e incrivelmente cativantes. Ao fundo, o tecladista Jordan Rudess adiciona camadas memoráveis e inesperadas, enquanto o baixista John Myung cumpre seu papel de forma impecável, conectando a base rítmica da bateria com as guitarras de maneira coesa e precisa.
Produzido pelo próprio guitarrista John Petrucci e mixado pelo renomado produtor Andy Sneap, o disco tem uma sonoridade absurdamente boa. Tudo é muito bem equilibrado, com uma mixagem clara e, ao mesmo tempo, pesada, trazendo timbres impecáveis para um álbum de metal moderno. Para mim, os riffs são o grande destaque. Os vocais de James LaBrie estão bem ajustados e menos processados, soando mais naturais e menos forçados.
Quem já conhece a banda vai reconhecer todos os temperinhos e manias. As viradas de bateria, as transições elaboradas, as quebradas de tempo, os solos rápidos e os solos melódicos. O disco foi feito para ser ouvido do começo ao fim, e faz total sentido a banda querer tocá-lo na íntegra na nova turnê.
O álbum traz 8 faixas, incluindo uma introdução instrumental e um pequeno interlúdio na sexta música. Todas se conectam de forma fluida, embora algumas se destaquem mais que outras, como o single Night Terror e a belíssima Bend The Clock, que apresenta o melhor solo de Petrucci no disco. Para mim, o grande auge do álbum chega com Midnight Messiah, praticamente um clássico instantâneo no catálogo da banda. E claro, um grande épico para fechar o disco, com 19 minutos e 32 segundos (Pronto as piadas das músicas longas do Dream Theater estão liberadas).
Se for para traçar um paralelo, Parasomnia tem um peso que lembra muito o Train of Thought de 2003. É um disco de Metal que tem elementos de progressivo. Com certeza esse disco entrou na prateleira de discos excelentes da banda, como Octavarium, Awake e Scenes from a Memory.
O contexto atual da banda é completamente diferente de anos atrás, mas parece que eles retomaram exatamente de onde pararam antes da saída de Mike Portnoy — só que agora em uma versão atualizada. É incrível ver a banda de volta, não apenas para fazer alguns shows de reunião, mas com um propósito real e a mesma vontade de criar música. Música nova, que com certeza vai emocionar algum moleque de 12 anos por aí, assim como me emocionou em 1993.
Faixas
1) In The Arms Of Morpheus (5:22)
2) Night Terror (9:55)
3) A Broken Man (8:30)
4) Dead Asleep (11:06)
5) Midnight Messiah (7:58)
6) Are We Dreaming? (1:28)
7) Bend The Clock (7:24)
8) The Shadow Man Incident (19:32)
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