
Já faz cinco anos desde o lançamento de Blue Hearts, disco de Bob Mould que escolhi como o melhor álbum de 2020.
À época, Mould estava angustiado com os incêndios florestais e com a situaçao dos EUA sob o comando de Donald Trump, num cenário bastante parecido com o que o artista vivenciou enquanto esteve à frente do Husker Dü, com o país administrado por Ronald Reagan.
Passaram-se os anos, estivemos às voltas com uma pandemia global e Mould está de volta. Trump também.
Mas dessa vez – e talvez como forma de não aumentar a angústia, Bob Mould chega com um discurso um pouco diferente. Ainda que não seja provável, nem imaginável que o cantor tenha se rendido ao conformismo, desta vez ele centra sua lírica em temas pessoais neste novo álbum, chamado Here We Go Crazy.
Acompanhado pelo baterista Jon Wurster e o baixista Jason Narducy, Mould faz no novo álbum um som que por vezes lembra grandes momentos de sua banda mais famosa, mas traz muito de seu outro projeto, o Sugar, tanto em sonoridade quanto na temática. Here We Go Crazy tem sido comparado na mídia com Copper Blue, obra-prima lançada em 1992 pelo trio (uma formação constante na carreira do artista).
Se essa comparação é válida (e ela é), o que se pode esperar são refrões empolgantes, em meio a riffs bastante criativos e melodias como só ele sabe fazer. Em You Need to Shine, uma das melhores do disco, Mould se mostra preocupado com o futuro, com a dor e a tensão.
Here We Go Crazy é, sim, amargurado, mas a seu modo, Bob Mould, um senhor de 64 anos, já passou por muita coisa na vida e sabe canalizar sua revolta em música, então o que temos aqui é catarse das boas. Um dos discos do ano, sem dúvida.
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