Anastasia Elliot vai pintar seu mundo de roxo

La Petite Mort é a prova viva de que a arte sinestésica existe

A forma como a cantora se define já causa uma curiosidade instantânea, seguindo sua receita de criação. Ousada? O suficiente. O banquete começa de verdade após essa entrada temperadíssima:

Anote aí os ingredientes:

– 1 ½ xícara de Kate Bush
– 1 colher de chá de David Bowie
– ½ xícara de Siouxsie and the Banshees em temperatura ambiente
– 2 colheres de sopa de Queen
– 3 colheres de chá de Annie Lennox
– ½ xícara de Evanescence
– 1 xícara de roxo
– ½ colher de chá de extrato de lavanda

Depois é só misturar tudo numa forma gigante e levar ao forno a 400 graus por 345 dias.

Pronto. Temos uma iguaria musical que faz a gente até passar a gostar do Nubank. E a cor pulsante nos leva para o multifacetado Le Petite Mort, um álbum de estreia intrigante, lá de 2023.

É bem provável que você se pegue transcendendo em “If and When”, quando ela sussurra “I’m so happy you’re here”, em meio à distorções temporais que finalizam uma balada sofistica e tocante. Imagens são inevitavelmente criadas faixa a faixa, mesmo que não se tenha contato com os clipes. Mas eu sugiro que você tenha. O refinamento estético das produções visuais é algo hipnotizante.

Tudo aqui impressiona à sua própria maneira, de um jeito natural apesar de alucinante. É curioso tentar encaixar sua arte em caixas definidoras pois tudo vai acabar explodindo num roxo de tom forte. Talvez se olharmos para sua honestidade em relação a si mesma, podemos ter uma visão do quão profunda é a sua arte. Como não é sempre que conseguimos olhar para as vulnerabilidades dos artistas em confissão, essas aspas concedidas à revista CanvasRebel são ouro puro:

“Acredito que nossa criatividade e essência só florescem quando nos permitimos arriscar. Não importa se você se considera criativo ou não: sua vida é como uma pintura, e todos os dias você escolhe com quais cores vai preenchê-la. Vai ser uma arte sem graça, pendurada na parede de um hotel genérico, ou uma obra de Rembrandt ou Magritte?”

“A maioria das pessoas evita o risco por instinto — preferem caminhos seguros, rotinas previsíveis. Mas viver sem risco é como andar por uma estrada reta e lisa: confortável, mas sem emoção. Com o tempo, isso nos entorpece. O risco é o que nos desperta, é o que nos faz sentir vivos.”

“Para mim, os maiores saltos vieram do desconhecido:
Saí de casa aos 16 anos para seguir meu sonho.
Recusei moldes impostos por produtores.
Sobrevivi a um acidente aéreo e transformei isso em arte.
Consegui um contrato com uma gravadora por ousar falar com executivos — e depois perdi esse contrato pouco antes do lançamento do meu álbum.
Perdi minha voz, passei por cirurgia, enfrentei traumas, dúvidas, e segui cantando. Vivi dores profundas — terminei um noivado, perdi um filho — e ainda assim encontrei a mim mesma novamente.”


Quem agradece por te encontrar somos nós. Do refrão extasiante de “London”, passando por “In The Dark” que certamente faria a Lady Gaga se ver no espelho e sorrir, até a quintessência que é “Bleach”, La Petite Mort é uma visita a um museu repaginado, com quadros espalhando desenhos pelo saguão ao som de 13 faixas escritas com pura alma.

Roxa, evidentemente.



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