Quando algo é grave, pode ser bom

Agudos nem sempre precisam ser protagonistas para lembrar os corações de baterem

Foto de @felirbe na Unsplash

Notas altas chamam a atenção como se fossem competições olímpicas. Na busca pelo absurdo sol na décima oitava — a G10 —, somos inundados por determinados artistas que buscam encantar pela extensão vocal, muitas vezes para tirar a atenção de arranjos pouco inspirados ou letras com baixa produção de admiração.

Entre falsetes everésticos com pulmões cheios ares verticais, existe palco para os tons que se aproximam do chão a ponto de se enterrar. Baixos, profundos e ressoantes como terremotos de 9,5 de magnitude, a raridade da voz que desce além do barítono tem o poder de aconchegar o mais terrível dos pesadelos em um simples movimento de ar.

Em 2015, durante o Acústico e Ao Vivo 2/3 do Rosa de Saron, Guilherme de Sá se emaranha no latim de “Deo Vero” e submerge em escalas negativas hipnotizantes. Em vez de escalar, todos olham para baixo e descem juntos, simulando raízes de uma árvore cultural cada vez mais extinta pela devoção por balões e foguetes.

Curioso que, para experimentar a sensação de céu, todos precisem abandonar os trajes de alpinistas e se tornarem escavadores atrás de uma mina de ouro em forma de som.
Abaixo dos radares do pop, mas não sussurrando, há de se ouvir o que não descansa no óbvio e ainda assim, faz sentir.

Dez anos depois, ainda não vemos algo parecido no horizonte, a menos que, assim como as notas profundas, escavemos os nichos por alguns minutos de paz e gravidade de travesseiro.

Tim Storms que o diga.


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