Episódio #71 – Melhores Discos da Década (2010-2019)

Na abertura da terceira temporada, o nosso time completo com Bruno Leo Ribeiro, Vinícius Cabral, Márcio Viana e Brunno Lopez, escolhem os melhores discos da década de 2010 até 2019. Uma década de transformações com produtores de quarto, super grupos, inovações em linguagens, crossovers de artistas e muito Rock. Listamos alguns artistas como, Kendrick Lamar, David Bowie, Michael Kiwanuka, Lana Del Rey, Tool, Bayside, Winery Dogs, Fiona Apple e muito mais. Separe o papelzinho e anote todas as dicas dessa década maravilhosa. Ouça, divirta-se e compartilhe.


Chegamos ao final de uma década histórica. Um período iniciado na esteira de uma das maiores crises econômicas da história moderna com incertezas mil quanto ao futuro e colapso climático, tudo em um só mix particularmente paradoxal: de um lado a crise extrema e a perda de referências, de outro um salto tecnológico tão grande que mal conseguimos acompanhar. Enquanto as minorias se faziam, finalmente, presentes no universo das redes sociais, as estratégias de controle e de automação da própria inteligência via algoritmos iam ocupando o espaço do ser humano, numa terceirização do raciocínio que conseguiu resgatar até o terraplanismo, constantemente refutado a milênios. Mas é o que acontece quando muitas referências se perdem ao mesmo tempo. Tudo parece caótico e incerto. Para a música, porém, essa instabilidade tende a ser benéfica, ainda que seja difícil entender para onde a nova “indústria” está indo em termos de consumo, apreciação e distribuição. Antes mesmo que decretassem a morte do rock, muitos decretaram o fim do formato álbum. “Ninguém ouve mais disco”, “está tudo no streaming”, “o público só tem paciência pra playlist”. Essas e outras falácias ganharam proporção demais, enquanto os artistas (pelo menos os mais inquietos e talentosos) foram buscando novas formas de tornar suas obras verdadeiras. Apesar do massacre do streaming– ou por causa dele- vimos nesta década o florescimento de álbuns visuais, o fenômeno das mixtapes como ensaios de luxo para a construção de obras mais robustas, o lançamento-surpresa de discos por parte de artistas enormes como estratégia de marketing, o advento do meme como ferramenta de difusão, o uso criativo e às vezes exclusivo de filmes e/ou videoclipes “escondidos”, feitos para dar trabalho mesmo para os fãs, numa tentativa de engajá-los em meio a tanta informação adjacente. Vimos, enfim, uma série de ideias mobilizadas em torno de obras importantes, na intenção de manter o álbum como, senão a principal, pelo menos a mais importante expressão de um artista ou banda. Nós do Silêncio no Estúdio achamos que os esforços foram frutíferos, e conseguimos, com muita dificuldade, mas com muito prazer, reunir uma lista daquelas que consideramos ser as melhores obras musicais de uma década extremamente frutífera, ainda que incerta e, por vezes, extremamente nebulosa e sombria.


Bruno Leo

No geral, 2010 até 2019 foram anos excelentes. Eu fiquei bem feliz quando comecei a revisar o que ouvi durantes esses últimos 10 anos e fui vendo que foi ficando cada vez mais difícil fechar a lista com os 10 melhores discos. Olhei os discos lançados em 2010 e já tinha uma lista de top 10 só com eles. Aí veio 2011 e foi ficando mais difícil encaixar os discos daquele ano. E foi assim até 2019. Eu escolhi a ordem puramente por gosto e quantidade de vezes que ouvi o disco. E mais importante, o que sinto com cada um desses discos. Porque pra mim, música é isso. O que sinto com a música. Não me importo muito análises racionais e técnicas sobre o que faz um disco ser um dos 10 melhores da década. Eu vou no puro sentimento. E minha lista é assim. São os 10 discos que mais gostei. Por isso, acho que eles foram os melhores. Quando parei pra ouvir cada um desses indicados novamente, fiquei mudando a ordem de 5 em 5 minutos, mas finalmente consegui fechar a ordem. Espero que você goste. Dá pra ver claramente minhas preferências musicais e onde é a minha zona de conforto. Qualquer um desses 10 discos que escolhi, escuto debaixo de um cobertor quentinho e me sentindo seguro. Aproveitem.

Menções Honrosas

20 – Metallica – Hardwired… To Self-Destruct (2016)

19 – Katatonia – Dead End Kings (2012)

18 – Killswitch Engage – Disarm the Descent (2013)

17 – Periphery – Periphery II (2012)

16 – Kendrick Lamar – To Pimp a Butterfly (2015)

15 – Adele – 21 (2011)

14 – Pain of Salvation – In The Passing Light Of Day (2017)

13 – Avenged Sevenfold – Nightmare (2010)

12 – Alice in Chains – The Devil Put Dinosaurs Here (2013)

11 – Beyoncé – 4 (2011)

10. Lamb of God – VII: Sturm und Drang (2015)

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Não é surpresa pra ninguém que o Lamb of God é uma das minhas bandas favoritas do metal. O Lamb of God é dessas bandas que a cada novo disco gosto mais da banda. Eles foram ficando mais maduros, mais musicais e mais precisos. A banda representa o metal americano como ninguém. Fazem um groove metal inspirado em Pantera e no Trash Metal da grande era dos anos 80. É uma mistura de metaleiros com um vocalista agressivo que gosta de Hardcore. O disco “VII: Sturm und Drang” é o trabalho mais maduro da banda desde então. E inclusive é o disco mais recente da banda, que não lança nada desde então. Logo após a prisão do vocalista Randy Blythe na República Checa em 2012 e a resolução de todo o caso (você pode ouvir nosso áudio documentário sobre o caso aqui) a banda resolveu entrar em estúdio para seu novo trabalho. Com algumas letras inspiradas na experiência na prisão, Randy Blythe traz verdades nas letras e a banda mostra mais agressividade do que nunca. O disco conta com a participação do maravilhoso Chino Moreno do Deftones na música Embers e mostra maturidade pra mudar a música e deixar ela com cara de Deftones na hora que o Chino mostra toda o seu talento pro vocal. O Randy pela primeira vez cantou com o vocal limpo na ótima Overlord, que começa calma e termina rápida e cheia de raiva. O disco representa bem a filosofia do Metal Americano, mostrando agressividade e com produção de primeira qualidade.

9. Gojira – Magma (2016)

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Acho que já podemos afirmar que a banda francesa Gojira já é uma realidade no metal moderno. Ficamos anos e anos falando que uma banda X é a salvação do metal e parece que estamos esperando um novo “Master Of Puppets” do Metallica ou um Number of the Beast do Iron Maiden. A nostalgia é ótima, recordar é viver, mas precisamos andar pra frente e ver que o Gojira é sim, uma banda gigante. Não só pelo tamanho dos shows que eles fazem, acho que não podemos apenas medir a grandeza de uma banda pelo número de ingressos que eles vendem em um show, mas pelo que eles fazem e criam. O Gojira vem mostrando desde de 2005, com o incrível “From Mars to Sirius” que eles são sim inovadores. Ninguém faz um metal igual ao que eles fazem. Cada novo disco uma surpresa. Precisão, peso, groove, agressividade e o mais importante, letras que lutam por um planeta melhor. O Gojira já falou sobre o cuidado que precisamos ter com nossos mares e oceanos e o que podemos fazer como humanos pra um planeta melhor. É uma banda ativista, que cria música pra fazer a gente refletir. Os irmãos Mario (baterista) e Joe (vocalista e guitarrista) Duplantier são geniais. Os riffs simples e perfeitos de Christian Andreu e o baixo marcante do ótimo Jean-Michel Labadie, são a mistura perfeita pra uma banda que simplesmente faz música. Eles não se preocupam com rótulos ou mudanças. No Magma, Joe começa a cantar menos gutural e usa sua voz limpa de uma maneira belíssima. Apesar da banda sempre trazer temas importantes, o Magma é um disco de despedida. A mãe dos irmãos Duplantier faleceu um pouco antes do lançamento do álbum e você pode sentir no clima geral que é um disco de luto. A música que abre o disco “The Shooting Stars”, deixa bem claro o tema do disco. Além de ótimas músicas, conta com dois “hits” que agitam todo mundo nos shows, “Silvera” e “Stranded”, já nasceram clássicos. Magma, é o nosso Master of Puppets, nosso Chaos AD, nosso “Fear of the Dark”. Um disco que marcou a década e faz a gente olhar pro futuro do metal e não tanto pro passado.

8. Rush – Clockwork Angels (2012)

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O Clockwork Angels é um disco que já nasceu clássico. O 19° e último álbum de estúdio da banda entra para o hall da fama dos discos Moving Pictures, Counterparts, Hemispheres, Permanent Waves e Test for Echo. Pra falar a verdade o Clockwork é uma homenagem a esses discos que citei. Quase um recap do melhor da carreira dos canadenses maravilhosos. O disco abre com Caravan que tem um dos riffs mais cantantes da banda. É um disco que honra toda a carreira da banda com mais de 40 anos. Uma despedida digna e fantástica para os fãs da banda que se juntaram a eles nessa jornada de rock, progressivo, virtuosidade, sintetizadores, melodias e muitas viradas de bateria que todo mundo toca junto no ar. Não tem como não ouvir esse disco e lembrar da triste notícia da primeira grande perda de 2020. Perdemos infelizmente o grande baterista Neil Peart numa luta contra um câncer. Perder o Neil Peart pra mim foi como perder um familiar. Me emocionei muito com a notícia e ainda estou arrasado. A melhor coisa que posso fazer pra superar, fazer um tributo a ele, e claro, agradecer o Neil por tudo é ouvir esse disco do começo ao final sem pular nenhuma faixa. É assim que sempre ouvi e sempre ouvirei o Clockwork Angels. Destaque pra minha favorita do disco chamada “Seven Cities of Gold”. Um dos riffs mais criativos do Alex Lifeson com aquele baixo maravilhoso do Geddy Lee. O Rush é uma banda única e não canso de falar que se eu tivesse que escolher apenas uma banda pra ouvir pelo resto da minha vida, essa banda seria o Rush. Aperte o play e vem fazer essa homenagem ao grande Neil Peart junto comigo.

7. Meshuggah – The Violent Sleep of Reason (2016)

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Estou bem feliz em poder falar finalmente desse disco maravilhoso. Lançado em 2016, o The Violent Sleep of Reason é um disco agressivo, surpreendente, melancólico e de explodir cabeças. Pra quem nunca ouviu falar no Meshuggah, eles são uma banda do interior da Suécia que faz uma mistura muito louca de Metal Progressivo com Extreme Metal. É uma banda que começou como Death Metal com vocal gutural e riffs pesados e foi se transformando nos mestres das quebradas rítmicas e tempos quebrados. Muito se fala que eles criaram o famoso “djent”, mas isso já até falamos no nosso episódio “Se é Djent ou Metal Moderno”. Depois de lançar o incrível Obzen e depois o Koloss, a banda veio em 2016 surpreendendo todo mundo. Eles resolveram soar como uma banda mais orgânica e natural, mesmo fazendo um metal super técnico e preciso. Eles gravaram o disco totalmente ao vivo, com a bateria, baixo e vocais sendo gravados ao mesmo tempo e as guitarras, apenas, foram regravadas para terem os famosos double takes pra uma melhor mixagem. O disco começa com a brutal Clockworks e logo em sequência a incrível Born in Dissonance. Depois vem Monstrocity e a ótima By The Ton. Depois vem o título do disco Violent Sleep of Reason e a quebradeira de tempos com a Ivory Tower. Depois vem… enfim, você já entendeu. É um disco que gosto de todas as músicas e entra naquela categoria de “a melhor música do disco é a que estou ouvindo naquele momento. O Meshuggah é difícil, nichado e extremo. Não é uma banda fácil de agradar. Eu mesmo demorei anos pra entender o que eles tavam fazendo e hoje é uma das minhas bandas favoritas da vida. Escute de mente aberta e vê o que você sente ao ouvir. Provavelmente você vai ficar com os nervos aflorados e vai querer quebrar alguma coisa, mas o Meshuggah pra mim serve pra me acalmar. O grande desafio aqui é bater cabeça no tempo das músicas. Boa sorte :).

6. HIM – Screamworks: Love In Theory and Practice (2010)

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Eu fiquei bem feliz pela nossa decisão de contar a década de 2010 até 2019. Assim eu poderia colocar essa obra prima dos Finlandeses do HIM. O Him, pra mim, é a melhor banda de Hard Rock da Finlândia de todos os tempos. É uma banda que veio, fez história, músicas ótimas e agora acabou. Quem viu, viu. Quem não viu, vai ter que esperar por uma possível (quase impossível) volta da banda numa dessas turnês que se faz pelo dinheiro. Com certeza o Screamworks foi o disco que mais ouvi em 2010. Conheço cada detalhe desse disco, cada solo, cada respirada do vocalista Ville Valo (homão da porra). É um disco de hard rock acessível e fácil de digerir. Soa quase como pop rock. O HIM não é bem metal, mas muita gente coloca o rótulo neles de Love Metal. O tão famoso Heartagram (pentagrama com um coração) criado pelo Ville Valo, ficou famoso no mundo inteiro e muita gente nem sabe que é a símbolo da banda. As letras do Screamworks ficam no conceito do nome do disco. São as teorias e práticas do amor. Todas as letras ficam nesse tema do amor, corações partidos, medo de perder um amor e claro, a morte. A banda é incrível. Todos os músicos são precisos e fazem o que é preciso pra música. A produção e sonoridade desse disco é impecável, trabalho do ótimo Matt Squire, que já fez trabalhos com o Panic! at the Disco. É um disco Finlandês que soa como disco de banda americana. Mistura a melancolia da escuridão da Finlândia com a produção acessível e fácil de digerir dos EUA. Um disco pra viciar e é até surreal pensar que esse disco já tem 10 anos. Se você não conhece o HIM e gostar desse disco, tem que voltar e ouvir tudo deles. É uma carreira sem falhas. Se joga.

5. Anathema – Distant Satellites (2014)

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A banda “Anathema” de Liverpool, pra mim, é uma das bandas mais subestimadas que existem dentro do rock. A imprensa coloca eles sempre como rock progressivo, o que eu acho um equívoco. Eles não são metal, também não acho que eles sejam rock progressivo. O que talvez melhor encaixe na descrição do Anathema seja, na minha humilde opinião: “Um Pink Floyd da era Division Bell, só que bem mais triste, sombrio e moderno.” É impressionante que a qualidade melódica, lírica e sonora da banda, não tenham colocado o Anathema como grande banda de rock mainstream. É uma banda super triste, com melodias e músicas que poderiam ser trilha daqueles filmes que você passa o tempo todo chorando. As composições quase que em loops infinitos e a mistura da voz belíssima do vocalista Vincent Cavanagh e da voz de anjo da vocalista Lee Douglas, fazem do Distant Satellites um disco pesado sentimentalmente. A música que abre o disco “The Lost Song, Parte 1” é um loop de bateria percussivo com um piano marcante e triste. As vozes dobradas dos vocalistas que já citei, entram na sua alma e não saem nunca mais. O piano é a grande marca desse disco que as guitarras distorcidas acabam ficando como base junto com o baixo pra dar espaço pras vozes brilharem. Nesse décimo disco, eles finalmente fizeram uma música chamada Anathema que é uma facada na alma com frases como “But we laughed. And we cried. And we fought. And we tried. And we failed. But I loved you.” – Nós rimos. Choramos. Lutamos e tentamos e nós falhamos, mas eu amei você. Pode ser uma despedida de alguém, um relacionamento que não deu certo ou o que quer que você queira encaixar ali. E no ápice da música, um solo de guitarra que o David Gilmour teria feito. Esse disco é uma perfeição. Músicas bonitas, tristes, de despedida e falando sobre nossas emoções, de lugares frios, vazios, escuros e com tristeza. É um disco trilha sonora do fundo do poço, mas que de tão belo, você cria forças pra se levantar e seguir em frente. Uma terapia musical pra gente olhar pros nossos sentimentos e lembrarmos que o melhor do ser humano é sentir alguma coisa, mesmo que seja tristeza.

4. Deftones – Diamond Eyes (2010)

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Outro disco que fiquei feliz em ter começado essa década da nossa lista em 2010. Um dos melhores trabalhos de uma das bandas mais sexys e únicas do mundo. O Deftones é inacreditável. Eles conseguem fazer um som que agrada quem gosta de Hip Hop, que gosta de rock alternativo, que gosta de Indie, que gosta de Metal, que gosta de Hard Rock e de New Metal. É o NOrvana dos nossos tempos. É a banda que existe pra juntar todas as tribos. Infelizmente eles não são tão mainstream pra fazer esse barulho todo pra mostrar que música boa é música boa. Você pode fazer um hip hop metal com vocal sussurrado e sexy e super atmosférico e ser único. O Deftones é daquelas bandas que você aprende a amar todo dia um pouquinho mais. Só pela existência da música Sextape nesse disco já faria esse disco entrar no meio top 10 de discos da década, mas ainda temos Rocket Skates, Diamond Eyes (nome do disco) e You’ve Seen The Butcher. Essas 3 músicas pra mim são obras de arte. Um disco tão masterpiece quanto o White Pony de 2000. Bem, em 2000 eles lançaram o White Pony, que pra muitos, um dos melhores discos de todos os tempos, em 2010 o Diamond Eyes e agora em 2020 parece que vem disco novo. Se o ciclo continuar, vem coisa boa por aí. O Deftones é a banda mais sexy do mundo e quem discorda é porque não sabe o que é música sexy. A atmosfera das músicas é melancólica e perigosamente sexy. Caso você ainda não tenha um Crush na voz do Chino Moreno é porque você não ouviu Deftones o suficiente. Tá na hora de mudar isso.

3. Coheed and Cambria – The Aftermath: Descension (2013)

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Em 2012, o Coheed and Cambria lançaram dois discos, o primeiro chamado “The Aftermath: Ascensio” e o segundo “The Aftermath: Descension”. Pra mim foi bem difícil escolher qual deles eu ouvi e gostei mais. Uma banda lançar dois discos no mesmo ano já é um feito incrível, mas dois discos incríveis é mais difícil ainda. Quem me conhece sabe que tenho um relacionamento sério com o Coheed and Cambria. Uma banda de rock progressivo / alternativo que eu gostaria que mais pessoas gostassem pra eu poder conversar sobre a obra dessa banda. Se você gosta de The Mars Volta e afins, vai curtir Coheed and Cambria. Falando sobre o “Descension”, o disco conta com músicas como The Hard Sell, que em alguns momentos lembram Pink Floyd. Temos Number City que é uma música que anima com arranjos excelentes em um groove maravilhoso. Não tem como ficar triste com essa música. O disco segue com a incrível Gravity’s Union, que é uma música é basicamente sintetiza o tipo de som que o Coheed faz. Música dinâmica, agitada e pesada no refrão com uma linha melódica de vocal grudenta. A balada Away We Go arrepia a alma e não só os pelos do corpo, a letra mesma é incrível. Pra quem não sabe Coheed and Cambria são dois personagens que vivem uma aventura de ficção científica e as músicas e conceitos do disco são sobre as aventuras nessa guerra espacial.

2. David Bowie – Next Day (2013)

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Em 2013 eu já tinha Spotify e passava o dia inteiro arrumando algumas falhas de caráter pra escutar os discos clássicos que nunca tive ou ouvir mais a obra completa de artistas que eu admirava, mas não ouvia tanto nos meus tempos de metaleiro true. Um dos artistas que sempre achei incrível e nunca tinha parado pra ouvir com carinho foi o David Bowie. Em meados dos anos 90 foi quando comecei a ouvir Bowie com carinho e descobrindo seus discos e obras além dos hits já conhecidos. Um belo dia, totalmente de surpresa, abri o Spotify pra achar algo pra ouvir no caminho pro trabalho e recebo uma notificação dizendo, “New David Bowie Album Out”. Logo apertei no botão para ouvir e fui ver a capa e pensei, “Ué, é uma versão de “Heroes”?”. Fui ouvir a primeira música “The Next Day” e fiquei com os olhos esbugalhados no meio do buzão com tamanha qualidade! “Geeeente! É um disco novo messsmo do Bowie!”. Na segunda música eu já tava completamente apaixonado pela composição e pela produção. Na terceira música “The Stars (Are Out Tonight) eu decidi sem nem pensar, “Já é um dos meus discos favoritos do gênio Bowie”. Parece dramático, mas foi um grande amor platônico à primeira vista. Escutei esse disco naquela semana de 2013 em loop até conseguir perceber todas as nuances e arranjos do disco. Fui atrás das letras e da história. É um disco de Rock clássico. Um disco direto, bonito, sofisticado e moderno. Uma síntese moderna de tudo que o Bowie faz de melhor, que é se renovar sempre que quer.

1.  Tool – Fear Inoculum (2019)

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13 anos depois, o Tool, banda da Califórnia que começou em 1990 lançou finalmente o seu quinto disco. Isso mesmo. Em 29 anos de banda, eles lançaram apenas 5 discos. Enquanto muitos artistas tentar lançar um disco a cada ciclo de turnê o Tool sempre lançou discos quando tinham material excelente para gravar. Claro que 13 anos é um exagero, mas a banda também teve muitos problemas legais, que estavam tirando o foco da banda pela arte que eles fazem. Eu já rasguei seda falando que o Fear Inoculum é um dos discos que mais me emocionaram na vida. Então falar dele de uma forma racional é simplesmente impossível. O Tool é dessas bandas que é pra você ou não. Não tem um meio termo. Conheço gente que não curte, mas não porque a música é ruim ou chata, mas porque eles não tem roupa certa pra isso. O Tool é uma banda que todo mundo reconhece as qualidades dos músicos, dos tempos, das letras e das melodias, mas é completamente normal você simplesmente não sentir nada ou não gostar. Música é isso. Arte é isso. Você gosta ou não gosta. Se entendeu e não gostou é normal. Não se sinta mal em simplesmente não gostar do meu disco favorito da década. Eu não vou julgar ninguém nem achar ninguém inferior por não gostar desse disco que amei em todos os detalhes. Se eu fosse dar uma nota pro Fear Inoculum, eu daria 9.9. Não dou 10 porque ainda não escutei o suficiente. Mesmo tendo escutado pelo menos 1 música do disco por dia durante 3 meses. Mas é isso. O Tool tem que ouvir e ver se é pra você. Eles são Rock, Progressivo, Metal ao mesmo tempo. Uma banda única, que achou o seu som no mundo e sua arte. E eles sabem disso. Eles não vão lançar nada nos próximos anos só por lançar. E eu acho isso bom. Dá tempo de ouvir mais as músicas antigas antes de entrar de cabeça das músicas novas.


Vinicius Cabral

Entrei na década de 10 sem muitas expectativas sobre grandes mudanças na minha forma de ouvir e descobrir música. Havia recentemente me rendido ao hype do vinil, adquirindo as principais obras do final dos anos 00 com o entusiasmo de que iríamos partir para experiências mais intensas e afetivas com a música; retomei hábitos, voltei a formar bandas e a tocar ao vivo, me consolidei profissionalmente e passei a cuidar de um lar. Eu só não imaginava o quanto a loucura das crises econômicas, culturais e políticas do mundo iria me chacoalhar, e o quanto a desmaterialização quase que completa de todas as formas de consumo, interação e vivência iriam moldar minha vida prática. E foi péssimo! Enquanto eu mesmo tateava pelos streamings, buscando formas de ser ouvido, ia observando as bolhas se formarem, e os artistas mais talentosos da década também tateando, buscando novas estruturas para registrar e difundir suas obras. Por isso o que vi foi, por um lado, o excesso absoluto e a ansiedade do acesso e, por outro, a preservação e a estratégia de alguns (mais “ousados” e inquietos) de não “entregarem” muito o ouro. É notável ver no topo da minha lista alguns artistas que, ou não aderiram ao streaming e às demais regras da nova indústria propositadamente, ou aderiram, mas mantiveram suas obras com algum status ao não transformarem suas carreiras em um reality permanente (chegando por vezes a nos “negar” meros videoclipes ou entrevistas nos canais de YouTube que o algoritmo nos “oferta”). Os anos 10 pra mim foram um período de tentativa e erro, e de mudanças estratosféricas e abruptas. O bom é que já consigo notar claramente, das tentativas, quais redundaram em erro, e contemplar um futuro mais “seguro” e assertivo.

Menções Honrosas

30 – Destroyer – Kaputt (2011)

29 – ANOHNI – HOPELESSNESS (2016)

28 – Oneothrix Point Never – Garden of Delete (2015)

27 – Flying Lotus – Cosmogramma (2010)

26 – Bones – DeadBoy (2014)

25 – Rhianna – ANTI (2016)

24 – SZA – CTRL (2017)

23 –  Bon Iver – Bon Iver (2011)

22 – Playboy Carti – Die lit (2018)

21 – Ariel Pink’s Haunted Graffiti – Before Today (2010)

20 – Angel Olsen – My woman (2016)

19 – Mitski – Puberty 2 (2016)

18 – Frank Ocean – Channel Orange (2012) 

17 – Young Thug – Barter 6 (2015)

16 – Deerhunter – Halcyon Digest (2010) 

15 – Lorde – Melodrama (2017)

14 – Big Thief – UFOF (2019)

13 – FKA Twigs – MAGDALENE (2019)

12 – Beyoncé- Beyoncé (black album) (2013)

11 – Vampire Weekend – Modern Vampires Of The City (2013)

10. Lana Del Rey – Norman Fucking Rockwell (2019)

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Pra mim, e muitos outros fãs e críticos, o melhor álbum de 2019. De maneira geral, e à luz da (curta, mas relevante) história que se escreveu da data de lançamento até aqui, é possível dizer que se trata da consolidação absoluta de um dos fenômenos pop da década. Em que pese o clichê do termo, um disco maduro, que cristaliza as melhores ideias e o grande talento da artista em uma obra-prima. Se sempre fora uma melodista e letrista inspirada, antes de Norman Fucking Rockwell e de suas canções mais “cruas” e viscerais (como Love Song, Cinnamon Girl ou Bartender) era possível confundir facilmente seu talento por fabricação. Em uma década de imagens e superficialidades esmagando a substância, quem diria que havia tanta substância em uma cantora-compositora mais presente nos feeds com clichês, memes, apropriações ou fofocas sobre a aparência? Em pouquíssimo tempo, Lana parece se desvencilhar de todo o fuzz ao redor para se impor como uma das maiores compositoras e intérpretes de sua geração, marcando a década e criando novas expectativas (desta vez unicamente ligadas à música) sobre seus futuros passos.

9. Fionna Apple – The Idler Wheel Is Wiser Than the Driver of the Screw and Whipping Cords Will Serve You More Than Ropes Will Ever Do (2012)

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Um piano, uma voz, letras sensacionais e percussões pontuais e criativas. Isso é tudo o que Fionna Apple precisou para criar uma das obras-primas da década. Se já havia marcado o final dos anos 90 com uma sonoridade, porquê não dizer, indie pop, e uma voz rascante e potente, acho que ninguém imaginava que, após um hiato de 7 anos, Apple fosse voltar ao “básico” e detonar em seu piano melodias inesquecíveis, letras imaginativas e gráficas, métricas ousadas e incomuns e, tudo isso, com uma roupagem tão “crua”, acústica e “palpável”. The Idler Wheel… é, no ápice do hype das ferramentas digitais, uma obra de relevância atemporal, porque se baseia em canções e performance; sem autotune ou qualquer outro artifício contemporâneo, e sem grandes devaneios conceituais. Fionna Apple constrói um disco artesanal, com suas mãos nos instrumentos que criam as músicas (e a arte da capa) com a destreza de uma artista contemporânea valiosa e, incrivelmente, alheia aos holofotes mais brilhantes e agressivos. Fiquemos então, com suas palavras, no clássico Werewolf: “But we can still support each other, all we gotta do is avoid each other / Nothing wrong when a song ends in a minor key” (Mas podemos ainda apoiar uns aos outros, tudo o que temos que fazer é evitar uns aos outros / Nada errado quando uma canção se encerra em um acorde em tom menor). Realmente, não há nado errado quando uma canção termina em tom menor, ou quando ela vai exatamente para o caminho que sua criadora quis trilhar, e “só” isso já nos basta.

8. Rosalía – El Mal Querer (2018)

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Era uma incógnita imaginar, em meados da década, para onde a cultura trap iria nos levar, e qual seria o legado da destruição das barreiras de gênero protagonizada pela Geração Z. Se superficialmente El Mal Querer não tem nada a ver com o trap (é um disco de flamenco, não?!), é só desconstruir o beat de Malamente para entender que aquelas tradicionais palmas de flamenco estão marcando o ritmo que monopolizou os ouvidos de muitos nos últimos anos: trata-se de um trap flamenco minimal, produzido com a precisão e o cuidado de El Guincho, figura importante do pop experimental espanhol dos últimos anos, e embalado pela performance única e inimitável de Rosalía. Fórmula que se repete em Pienso En Tu Mirá, com synths suaves, outro beat incrível e “leve” (ainda que claramente influenciado pelas sonoridades pop atuais) e um refrão matador. A mistura de elementos que constrói este disco nos deixa de queixo caído: palmas, percussões incomuns, samplers, 808’s … canções acústicas, mas que se “diluem” em um “drone” de múltiplas camadas vocais (como na sensacional De Aquí No Sales) e até mesmo autotune em um refrão (Di Mi Nombre). El Mal Querer é um marco “pós-gênero” e uma obra-prima. Une um cancioneiro regional tradicional ao pop contemporâneo, enquanto utiliza no processo técnicas de composição e produção que vão do Eletrônico ao Hip Hop e ao Rock Experimental dos anos 00 (Animal Collective) com destreza e naturalidade ímpares.

7. Mac DeMarco – 2 (2012)

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Ao reivindicar o legado de uma espécie de Slacker Rock, adotando o jeito largado e as técnicas de gravação de bandas consagradas do indie dos anos 90, Mac DeMarco atingiu um resultado inimaginável. Se por um lado foi descartado (e ainda é) por parte da crítica, que o enxerga como um eterno meme, por outro é seguido quase que religiosamente por jovens da Geração Z que simplesmente copiam até mesmo sua forma de se vestir. Musicalmente, ao privilegiar as guitarras “fuleiras” de pawn shop e as fitas analógicas, a sonoridade que o artista imprimiu (também copiada à exaustão) não é nada acidental: aponta para o passado recente da tradição do indie lofi, mas com timbres próprios (afinal, cada um atingirá timbres específicos a partir desse tratamento analógico). Ou seja; curiosamente, o artista “chupa” o indie de bandas como Pavement, enquanto soa praticamente inventivo. Afinal, quando Mac apareceu, em meados de 2010, a sonoridade que ele buscava não estava no radar da geração que cresceu ouvindo o som hiper trabalhado e produzido de bandas como Arctic Monkeys, The Strokes, Arcade Fire ou Tame Impala como as únicas referências de Rock Alternativo possíveis. É por essas e outras que eu, ao contrário de muito crítico por aí, não subestimo nem por instantes a força de Mac DeMarco. Embora parecesse mais um meme contemporâneo se utilizando do retrô como estratégia de sucesso, não há nenhuma dúvida para mim, 8 anos após o lançamento do 2, que tudo o que impulsiona o Mac é absolutamente autêntico. Se o Rock Alternativo segue vivo, isso se dá, em parte, ao que Mac DeMarco nos trouxe. E, apesar de todas as evidências apontarem para Salad Days, de 2014, como seu melhor disco, é neste 2 que identifico com mais clareza a consolidação de sua estética, como podemos conferir nos sons e clipes inesquecíveis para hits como My Kind Of Woman e Ode To Viceroy.

6. Kanye West – My Beautiful Dark Twisted Fantasy (2010)

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Kanye West é o imbróglio de uma década que ele mesmo ajudou a moldar. Antes de soltar sua obra prima, já estava investido em polêmicas após a desnecessária e grosseira interrupção de Taylor Swift nos VMA’s. Ele queria visibilidade para os artistas negros, ou só queria poder? “No one man should have all that power”, ele mesmo canta no clássico absoluto Power. Eu, sinceramente, já me cansei de analisar a “persona” controversa e aparentemente bipolar do artista. Mas fatos são fatos, e eu não posso reescrever a história. My Beautiful Dark Twisted Fantasy é o grande marco da década. A “era dos produtores”, as grandes “collabs” musicais, o crossover completo entre o Hip Hop e as expressões alternativas que ganharam força no submundo virtual ao longo dos anos 00. É só passar o olho pela gigantesca ficha de feats do álbum, que pode ser confundida com um catálogo: Nicki Minaj, Jay Z, RZA, Rick Ross, John Legend, Pusha T, Bon Iver, Rhianna Kanye constrói uma obra a muitas mãos, rompendo os limites entre gêneros, sampleando bandas de rock como King Krimson (na já citada Monster), lançando artistas até então ainda iniciantes (Nicki Minaj), consolidando o diálogo com o pop indie (Bon Iver abre escandalosamente a canção Monster) e por aí vai. Trata-se de uma obra inventiva em sua construção. É claro, toda essa miscelânea de artistas poderia ter resultado em um álbum absolutamente capenga, como um Frankenstein sonoro. Mas pilotando e coordenando o barco, tínhamos um artista-produtor-compositor no auge de seu processo criativo, puxando seus próprios limites e mirando o topo da cena pop como destino, rompendo qualquer nicho que estivesse no caminho. Menos experimental e “agressivo” do que o seu sucessor Yeezus, e certamente menos agradável do que o anterior (responsável talvez por ter influenciado mais gente em função de sua veia melódica e do uso extremamente criativo do autotune), o 808s And Heartbeats, este álbum de 2010 tem como melhor adjetivo possível exatamente o que usei nas primeiras linhas: trata-se de um marco. Um marco de onde a figura do produtor poderia chegar, de onde o Hip Hop e o Pop poderiam chegar, de onde a mistura entre gêneros poderia chegar. Um marco musical, estético e cultural. 10 anos depois, é seguro dizer que algumas das fórmulas presentes aqui se consolidaram tanto que se desgastaram, mas isso não diminuiu em nada o aspecto quase premonitório de uma obra que apontava todos os caminhos que seriam seguidos nos próximos anos. E adiciono, só para encerrar, que canções como Power, Monster, All of The Lights e Runaway são, realmente, atemporais, e ainda fazem (muito) sentido. É pra ele mesmo que cantamos hoje, porém, os versos: “Let’s have a toast for the douche bags / Let’s have a toast for the assholes / Let’s have a toast for the scumbags / Every one of them that I know”

5. Grimes – Art Angels (2015)

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Nas entrevistas que tem dado para promover seu novo disco (que chega até nós em Fevereiro de 2020), a Grimes tem feito questão de se descrever quase como um fruto da realidade virtual, aderindo ao discurso de que a inteligência artificial finalmente virá nos transformar, e de que devemos fazer backup de nossas consciências (ela até canta sobre isso em seu single We Appreciate Power, de 2018). É só voltarmos a este Art Angels de 2015, porém, para percebermos que esse entusiasmo da artista não passa de uma empolgação desmedida. Seria difícil, para não dizer impossível, melodias como as de Flesh Without Blood, California, Kill v. Maim ou Venus Fly nos encantarem tanto (e a tanto tempo) sem um ser humano extremamente criativo e talentoso por trás de suas criações. Mas, claro, como uma millennial altamente comprometida com as inovações de sua época, Claire Boucher reconhece que seu sucesso só foi possível porque ela pôde descartar todo o aparato técnico da antiga indústria musical para construir sua obra com MPC’s, laptops e plugins. A própria artista se define como uma instrumentista limitada, mas privilegiada por ter tido acesso a basicamente todos os timbres do mundo a partir de sua biblioteca tecnológica. E, apesar dela ter total razão de celebrar a tecnologia neste sentido, seria um reducionismo pensar que essas ferramentas foram as únicas responsáveis por um disco tão coeso e admirável. Não importa se todos os sons ali são sintetizados ou sampleados: Grimes manipula-os com total destreza, misturando synths e batidas (às vezes meio oitentistas, às vezes atemporais, por serem tão … digitais) a guitarras e melodias de um pop cyberpunk. Apesar de utilizar métodos exclusivamente contemporâneos, Grimes não esconde as influências atemporais diversas: o pop dos 2000 (de Mariah Carey ou Britney Spears), o K-Pop, o Punk e o Indie, entre outros, consolidando neste álbum sua proposta de forma cristalina. As muitas personagens que Claire Boucher incorpora a cada projeto (neste álbum as Art Angels, artistas cibernéticas meio cyberpunk) carregam as múltiplas inspirações (humanas ou não) que compõe o arsenal artístico da compositora, que ainda nos promete muitos novos statements para a década que se inicia.

4. Joanna Newsom – Have One On Me (2010)

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Falar deste disco triplo de uma das maiores compositoras indie da história, a essa altura do campeonato, é um exercício quase que de memória afetiva. Lançado em 2010, Have One On Me marcou o início da década e desapareceu do radar ao ser propositadamente boicotado das plataformas de streaming pela própria artista, que declarou sua ojeriza em relação ao novo modelo da indústria. Voltando a este disco, é inevitável dizer que o streaming, de fato, não lhe faria justiça. Com mais de duas horas de duração (álbum triplo, lançado em vinil com 3 faixas por lado ao longo de suas 3 bolachas e 6 lados), Have One On Me é uma experiência imersiva, mas que também não nos nega algumas das melodias mais pop da artista (Good Intentions Paving Co., a faixa de abertura Easy, etc). É importante dizer, a essa altura, que Joanna é compositora, cantora e harpista. Se já tinha se apresentado ao mundo com os mais acessíveis The Milk-Eyed Mender (2004) e Ys (2006), ainda restavam dúvidas, pelo menos para mim, se Joanna seria de fato uma voz potente de sua época ou apenas mais uma excentricidade da “era hipster“, utilizando um instrumento incomum para se destacar no meio de tanta mesmice. Bobagem! Have One On Me é uma das obras mais incríveis do indie recente, com melodias e métricas que geralmente associamos à Joni Mitchell por falta de um comparativo mais preciso. A verdade é que Joanna, embora “esbarre” no tradicional cancioneiro das compositoras americanas, efetivamente se projeta como uma nova voz, me trazendo a cada audição a sensação muito clara de que nunca ouvi nada igual. Tão específico, tão doído, com suas letras confessionais e sua voz às vezes infantil, imprecisa e tremida enquanto se projeta brilhantemente sobre uma harpa tocada com perfeição ou sobre os pianos que Joanna também nos apresenta em algumas faixas. Não havia, em 2010, uma caixinha para definir esta obra-prima. E ainda não há.

3. Solange – A Seat At The Table (2016)

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Hoje é fácil dizer: Solange atualizou a estética de parte da música negra americana ao Século XXI, com uma obra que não se baseia unicamente em samplers, truques de produção ou maneirismos do Hip Hop contemporâneo. Basta ouvir a já eterna Don’t Touch My Hair ou Cranes In The Sky: as camadas instrumentais aqui, suportadas por um groove clássico, são modernas e originais. Ninguém, além de Solange (nem mesmo sua famosa irmã ou artistas como The Weeknd e, nem mesmo Frank Ocean em seu Channel Orange) “segurou” na garganta com tamanha propriedade a tradição do Soul e do R&B americano sem tirar as mãos, os olhos e os ouvidos das sonoridades atuais. E Solange o fez enquanto, sem nenhuma cerimônia, destilava em suas letras toda a sua ironia e consciência racial, reivindicando seu lugar na mesa (como o título do álbum propõe). Além do aspecto musical, que coroa este disco como uma das obras mais coesas (narrativa e esteticamente) da década, Solange construiu muito bem suas imagens, ao longo dos videoclipes e apresentações adjacentes. De “carona” na tradição do que chamo de “era dos produtores”, a artista é aqui também uma “curadora”, trazendo ao longo do álbum figuras como Sampha, Lil Wayne e o compositor e produtor Patrick Winberly. Mas ela mesma comanda o show, escrevendo as letras e ultrapassando os limites (a essa altura da década, já bem evidentes) dos compositores-produtores. O que Solange nos mostra com este A Seat At The Table, é que um grande álbum precisa ter uma alma pulsante. E, neste caso, como em alguns outros desta lista, é o tamanho da alma que determinará o tamanho do projeto. A Seat At The Table é, certamente, gigantesco.

2. Kendrick Lamar – To Pimp A Butterfly (2015)

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Muito já se falou sobre esse disco e sua narrativa deslumbrante. Sobre como Kendrick constrói em etapas um poema que só será revelado inteiramente ao final do álbum, quando também se mete a forjar uma entrevista com o falecido 2 Pac. Sobre como os arranjos luxuosos e a fusão jazzística de artistas como Thundercat se mesclam à perfeição do seu flow narrativo e cativante. Sobre como, ao invés de feats chamativos e bases de trap, o artista reivindica a veia mais intimista, confessional e política do rap em cima de bases orgânicas de instrumentação (ao invés dos samplers e beats plastificados da era). Sobre como o single Alright se tornou um hino da resistência negra a partir do movimento Black Lives Matter. Tudo isso já se falou, se aplaudiu, se avaliou detidamente. Porque então gastar o meu espaço aqui e o tempo de vocês com todas essas reafirmações? Simplesmente porque, 5 anos depois, To Pimp A Butterfly segue sendo o melhor álbum de hip hop da década, e um dos álbuns mais importantes dos últimos 20 anos. Por todos os motivos que destaquei (e que todo mundo, em qualquer review, também destacará) mas, principalmente, pela urgência que vejo hoje, entrando em uma nova década, de acreditar que os álbuns são obras de arte e registros fundamentais de seu tempo e que, exatamente por isso, devem resistir aos modismos, tendências e “regras” vigentes para se eternizar. Kendrick se eterniza aqui, com essa obra prima inquestionável.

1. Frank Ocean – Blonde (2016)

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Uma das coisas que mais me impressiona em Frank Ocean é a genialidade com que ele se adaptou à sua época, parecendo saber sempre qual passo tomar. Meses antes do lançamento do seu álbum de estreia, Channel Orange, o artista mobilizou sua base de fãs adquirida a partir do seu vínculo com a crew Odd Future para sair do armário via Tumblr, assumindo sua homossexualidade através de um texto simples e emocionante e garantindo um buzz inacreditável em torno de sua figura para o lançamento. Em 2016, 4 anos depois, ele precisava lançar um novo disco para honrar seu contrato com a Def Jam. Lançou Endless, um álbum visual exclusivo via Apple Music. Enquanto muitos fãs se decepcionavam com a exclusividade e a dificuldade de ouvir o disco, outros se queixavam do aspecto “inacabado” e processual do trabalho. Frank Ocean simplesmente deixou o pau quebrar e, dias depois, lançou o “verdadeiro” álbum sucessor de Channel Orange, desta vez 100% independente, já que o Endless havia cumprido e finalizado seu contrato com a gravadora. Outro enorme buzz: polêmica, agitação, sucesso imediato. Como nesta década muitas vezes o burburinho de mídia superou o aspecto musical em termos de importância, pouco se discutiu, perto do lançamento de Blonde, sobre o disco em si. Frank soube se lançar, se tornar independente e fazer o que bem entendesse, numa jogada de mestre que ainda lhe garantiu publicidade por muito tempo. Até que a música começou a falar por si própria. Se Endless parecia processual demais (ouvindo hoje fica claro que é mais propriamente uma mixtape), Blonde seria processual o suficiente pra não poder ser considerado seu melhor álbum por, pelo menos, metade dos seus fãs e metade da crítica. Em relação a isso, todos se dividem, diante da grandeza de Channel Orange, aparentemente abandonada aqui. Realmente, se seguisse os passos de seu primeiro disco, provavelmente poderia se tornar uma espécie de Stevie Wonder de sua geração. Mas os tempos são outros. Frank não queria ser Stevie. Frank queria fazer o que bem entendesse. Em Blonde, quando nos “nega” um refrão perfeito ao nos entregá-lo na voz de convidados (Young Lean e Austin Feinstein) com vozinha autotunada de gás hélio (em Self Control), Frank desdenha de suas imperfeições e angústias. E das nossas. Quando constrói um hino geracional como Nikes, agora com sua própria voz robotizada e alterada, Frank desafia os limites de toda a tecnologia para criar uma canção que cresce em sua progressão absolutamente editada e produzida, para se acabar em um dedilhado de violão com os versos: “We gon see the future first” (veremos o futuro primeiro). Meio robô, meio humano. Meio algoritmo insensível, meio emo, choroso e emotivo. Frank Ocean nunca é mais ou menos. É sempre preciso. É sempre, exatamente, o que o seu tempo precisava que ele fosse.

Destaques Nacionais:

Don L – Roteiro para Ainouz vol. 3

Rincon Sapiência – Galanga Livre

Flora Matos – Eletrcardiograma

Boogarins – Manual

Elza Soares – A mulher do fim do mundo, Deus é mulher, Planeta fome

Jards Macalé – Besta Fera

Metá Metá – MetaL MetaL, MM3

Marília Mendonça – conjunto da obra

Kevin o Chris – conjunto da obra

Mc Loma e as gêmeas lacração – revelação


Márcio Viana

A música sempre foi muito presente na minha vida, mas a última década talvez tenha sido a década em que ela me acompanhou mais de perto. Os formatos diversos de disponibilização de álbuns ajudaram nisso, é verdade. Dos CDs ao MP3 e desembocando no streaming, ouvi de tudo. Por conta disso, minha lista mesclou sons nacionais e internacionais, porque às vezes foi preciso ouvir gente falando nossa língua e nos dando razão em nossos conflitos. Eis a lista dos meus melhores amigos dos últimos dez anos.

Meções Honrosas

Elza Soares – Mulher do Fim do Mundo, Deus é Mulher e Planeta Fome

Odair José – Gatos e Ratos (2016)

MM3 – Metá Metá (2016)

The Black Keys – El Camino (2011)

Kendrick Lamar – To Pimp a Buttlerfly (2015)

Arcade Fire – The Suburbs (2010)

Collapse Into Now – R.E.M. (2011)

Angel Olsen – My Woman (2016)

10. Phillip Long – Manifesto (2017)

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No mesmo ano em que lançou Frágeis como Flores, um disco mais voltado ao pop-rock oitentista, o músico da cidade de Araras (SP) soltou este Manifesto, com clara influência de Belchior, junto a coisas como o folk de Bob Dylan e sons regionais como o de Renato Teixeira e Almir Sater. Nas letras, um diagnóstico bastante preciso do Brasil pós-jornadas de junho de 2013. Há espaço também para um pouco de desilusão e as angústias da vida adulta.

09. Queens of The Stone Age – ..Like Clockwork (2013)

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Um disco um tanto “diferente” do QOTSA. Aqui, um destaque especial ao piano, principalmente no single mais tocado, The Vampyre of Time And Memory, mas também em Fairwheater Friends, em que o instrumento é tocado por ninguém menos do que Elton John, que chegou a declarar que considerava a banda uma das maiores de todos os tempos. Exageros à parte, o mérito do disco talvez seja ter sido construído com uma formação mais estável, e ainda contar com os habituais colaboradores. Mark Lanegan e Dave Grohl dão as caras, o ex-integrante Nick Olivieiri faz alguns vocais e ainda há espaço para Alex Turner e Trent Reznor. Tudo harmonicamente costurado e alinhavado.

08. Edu Schmidt – Chocho! (2014)

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Sempre digo que o pop-rock brasileiro precisa às vezes olhar para os lados. Se mirar na Argentina, vai encontrar boas influências.

Este Chocho! é um exemplo. Segundo disco solo de Schmidt, ex-integrante do grupo Árbol, o álbum tem uma sonoridade agradável e leve, em que o músico muitas vezes empunha seu violino (o que me remete a um Jorge Mautner, por exemplo) e canta melodias assobiáveis. Desde o início, com Un Río, até o fim, com Contra viento y marea, o sorriso de satisfação é garantido.

07. Jair Naves – E Você Se Sente Numa Cela Escura, Planejando A Sua Fuga, Cavando O Chão Com As Próprias Unhas (2012)

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Provavelmente o disco de conteúdo mais pessoal/emocional da minha lista, esse primeiro álbum solo cheio de Jair Naves (que antes lançou o EP Araguari) combina bem a tensão dos acordes com a tensão semelhante nas letras. Temas como violência, medo, espiritualidade (ou ausência dela) e família constroem esse álbum de nome comprido que resume a narrativa presente nele e resolve suas questões.

06. Michael Kiwanuka – Love & Hate (2016)

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Em seu segundo disco solo, o britânico de família ugandense diz exatamente a que veio: para se consolidar como um dos maiores artistas da década. Mais do que um cantor, Kiwanuka é um músico espetacular, e demonstra isso já no início do álbum, em Cold Little Heart, com seus quase dez minutos, metade deles uma viagem instrumental que lembra muito a guitarra de David Gilmour, acrescida de uma boa dose de soul música. E não é nem preciso mencionar que Black Man in a White World é um estouro. Produzido pelo não menos genial Danger Mouse, é um álbum que entrega o que promete: um espetáculo.

05. Lestics – Aos Abutres (2010)

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A banda paulistana Lestics abriu a década com um verdadeiro manual da vida adulta e suas agruras. Não é exagero. Frases como entrou na vida tropeçando no cordão umbilical e os bolsos vazios ficaram pesados demais são reflexões muito interessantes e servem como boa companhia para dias chuvosos (como o de quando escrevo essa resenha, por exemplo).

04. Violins – Direito de Ser Nada (2011)

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Esse disco é um soco na cara. Lançado em 2011, três anos depois de um dos anunciados fins da banda goiana liderada por Beto Cupertino, Direito de Ser Nada veio bem mais leve que seu antecessor, Greve das Navalhas, mas tem muito mais facilidade para nos levar a nocaute. Começa com uma poderosa linha de baixo, instrumento que toma frente no disco todo para nos lembrar que viver é grave.

Aliás, bela frase para começar um disco: você não imagina do que eu sou capaz. De belas frases aliás o disco está repleto. Minhas preferidas estão em O Grande Esforço, como vou participar sempre da melhor parte de ser eu.

Ainda é para mim o melhor disco do grupo.

03. Fiona Apple – The Idler Wheel Is Wiser Than the Driver of the Screw and Whipping Cords Will Serve You More Than Ropes Will Ever Do (2012)

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Não quero soar repetitivo, porque acho que o Vinícius Cabral já fez um belo relato do que é este álbum. Mas reforço aqui que faz sentido a artista estar há tanto tempo sem lançar novo disco. Este trabalho, prolixo desde o título, parece ser um grande anúncio de isolamento – poético, necessário e denso – em que Fiona martela no piano suas angústias. Toda noite é uma luta no meu cérebro é a frase que dá a tônica e que certamente traz ao ouvinte a identificação em vários momentos. Confessional como todos os álbuns da artista, pode ser um conforto, para quem ouve e para ela própria.

02. Marcelo Jeneci – Feito pra Acabar (2010)

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Pode parecer exagero dizer que Jeneci esteve para o início da década como Los Hermanos foram para a década anterior. Mas é bem isso. Músico de sucesso, tendo se apresentado no apoio a Arnaldo Antunes, e tendo um hit em parceria com Vanessa da Mata, “Amado”, o multiinstrumentista resolveu apostar em um álbum próprio, cheio de parcerias com nomes como Chico Cesar, Luiz Tatit, José Miguel Wisnik e o já citado Arnaldo Antunes. Deu muito certo, e colocou Jeneci como responsável por estabelecer a estética do cantautor na música popular feita no Brasil. Destaque para os vocais – às vezes de apoio, às vezes principais – de Laura Lavieri e também para o arranjo quase progressivo da faixa-título, a cargo de Arthur Verocai.

01. David Bowie – Blackstar (2016)

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Bowie construiu meticulosamente seu álbum de despedida, e isso por si só é impressionante. Ele teve a serenidade de compor e dirigir o disco (com o produtor e velho parceiro Tony Visconti), escolher os detalhes ocultos na capa e no conteúdo e relacionar com sua história, inclusive nos clipes.

Blackstar não é nada fácil. Eu mesmo só ouvi no dia do lançamento e depois demorei um ano após a morte do cantor para a segunda audição. Hoje consigo ouvir com mais tranquilidade.

Para a gravação, Bowie escolheu trabalhar com uma banda totalmente diferente das que já o acompanharam, e encontrou isto no grupo do saxofonista de jazz Donny McCaslin. Sim, na essência é um disco de jazz ali por baixo da camada pop.

Dizer não e significar sim / isso é tudo que eu quis dizer, em I can’t give everything away, última faixa do disco. É o seu adeus, e foi assim que o mundo passou a não contar com Bowie. E foi assim que o mundo ficou mais chato.


Brunno Lopez

Minha memória é tão confiável quanto sapatos de papel em dias de chuva. Logo, nesse período de 10 anos, tive uma certa dificuldade para descobrir em que momento da década estavam os discos que passei a amar. Um processo que trouxe sorrisos e lágrimas, pois algumas bandas ficaram presas em 2009, no limite da possibilidade de menção. Mas, no geral, revisitar os álbuns foi um exercício que revelou um certo frescor na música pós-2000, com trabalhos sólidos o bastante para se espremerem entre clássicos passados e dividirem o mesmo glamour das obras aclamadas. Meu critério continua sendo o vertiginoso distanciamento de tudo o que flerta com o mainstream, valorizando unicamente a paixão por aquelas canções criadas com o poder de envolver.

10. Bayside – Vacancy (2016)

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Mais Do Mesmo. Mas Por Que Consertar O Que Não Está Quebrado?

Conheci o Bayside tarde, mas felizmente, não tarde demais.Logo após a primeira audição do então mais recente disco – Interrobang – fui atrás do material mais antigo da banda e encontrei uma preciosidade lançada em 2016.Vacancy fez juz ao nome e preencheu a vaga de novos sons em meu coração enjoado.Era o sétimo álbum desses americanos do Queens que conseguiam se descolar do som que faziam nos primórdios do grupo e apresentavam um material consistentemente agradável.Nenhuma das 11 faixas se sentiria deslocada em qualquer outro lugar da discografia pois os elementos de rock alternativo e um suave punk estão ali mantendo a aura distinta que até hoje separa o Bayside de seus contemporâneos no ‘estilo’.O vocalista Anthony continua com seu lirismo pessoal, cínico e reflexivo e talvez isso também os torne tão peculiares com a música que criam. Na época, ele estava lidando com seu divórcio e todo o processo de realocação de família e isso pode ser percebido em algumas das letras. Porém, ele conseguia colocar pitadas de realidade/sarcasmo nas sentenças e até ameaçava apresentar elementos de otimismo nas canções, como em “Not Fair”: “Oh I remember twenty-five

Thinking I’d figured out my life

And I was positive the hardest part was through

After six records and two marriages

I’m still here paying dues”

Ainda que parte da crítica não consiga colocar este álbum como uma obra-prima em decorrência de uma suposta falta de experimentação e leve sensação de familiaridade entre as composições, eu me rendo por completo ao combo de ‘passagens cativantes’, ‘refrões viciantes’ e ‘hinos alternativos’.Para ilustrar melhor a experiência de ouvir Bayside, encerro com as palavras de Anthony:“Sempre foi meu objetivo escrever músicas tecnicamente complicadas, mas que não são desanimadoras para alguém que quer apenas cantar junto”

09. Daphne Willis – Live To Try (2014)

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Viva Pra Tentar Não Se Encantar Com Essas 13 Faixas

Descobrir vocais femininos e encaixá-los cuidadosamente na minha prateleira de artistas favoritos é um dos passatempos mais prazerosos que tenho. E foi numa dessas jornadas investigativas que me deparei com esta cantora do Texas que escreve com o coração e canta com a alma – muitas vezes, mudando a ordem desses fatores mas sem alterar o resultado de encantamento final.

A primeira canção que ouvi foi ‘The Big Picture’ que estava presente no álbum que sugiro aqui, o extasiante Live to Try.

Além da voz deliciosa, percebe-se uma forma muito envolvente e inteligente de se escrever, explorando caminhos inesperados dentro de contextos comuns.

Talvez seus poderes de songwriting tenham sido potencializados pela presença do compositor John Oates em algumas canções. Pra quem não sabe, ele foi incluído no Hall da Fama dos Compositores e também no Hall da Fama do Rock como membro do seu grupo Hall & Oates. Lembrei deles pela música “Adult Education’, sucesso em 1984 e também presente no GTA 5.

Voltando pra Daphne, existem grandes momentos além da track acima.

Em ‘Stay’, ela esbanja uma capacidade de criar hits, com uma música viciante logo na primeira sílaba.

Na música que abre o álbum, a ‘People That Matter’. além dos arranjos interessantes e ritmo envolvente, destaco a brincadeira com a letra no refrão:

People that mind don’t matterpeople that matter don’t mind”

Existem pontos de deslumbre espalhados por Live To Try e cada música consegue captar a atenção do ouvinte de um jeito diferente. Um ótimo trabalho de uma cantora extremamente talentosa que ainda não é conhecida como deveria.

Mas, assim como o nome do disco, é preciso viver pra tentar.

08. Flying Colors – Flying Colors (2012)

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Se Estilos Musicais Fossem Cores, Isto Aqui Seria Um Disco De Newton!

Supergrupos são responsáveis por concentrações altas e perigosas de expectativas. Nesse caso específico, o resultado aguardado era nada menos que uma obra de arte sonora pois, um lineup com Mike Portnoy (ex-Dream Theater), Steve Morse (Deep Purple), Dave LaRue (Joe Satriani, Dixie Drags), Neal Morse (Spock’s Beard) e Casey McPherson, tem total capacidade de entregar preciosidades do progressive metal e adjacências.

Pra mim era a chance de ouvir o Portnoy revisitar o estilo que o consagrou no Dream Theater e, num primeiro momento, é possível encontrar as ideias de composição do baterista por lá. Mas não se trata apenas de um som progressivo.

Afinal, o Flying Colors é uma espécie de intenso estudo de contrastes, numa variação que vai do abertamente melódico até o metodicamente complexo. Talvez por isso o álbum tenha o próprio nome da banda.

Se na abertura de ‘Blue Ocean’ eles parecem tentar descobrir onde cada um se encaixa, em ‘Shoulda Coulda Woulda’ os planetas se alinham e podemos ver o rock pulsando em escala densa, pesada e extraordinária.

Entre tantas atmosferas que a banda visita, uma das minhas favoritas acontece em ‘Love Is What I’m What I’m Waiting For’, quando eles soam como uma mistura de Queen e Eletric Light Orchestra. com o Steve Morse incorporando a melhor versão possível de Bryan May.

No geral, o Flying Colors conseguiu levantar voo trabalhando em apenas 9 dias entre composição e gravação do álbum. Com o produtor Peter Collins pilotando o navio, o grupo conseguiu viajar pelas águas desafiadoras do prog metal, rumo ao continente do sucesso que grande parte de seus integrantes já conheciam de outras expedições.

07. Maestrick – Unpuzzle! (2013)

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Só A Melhor Banda Do Brasil Poderia Resolver Esse Quebra-cabeça

Imagine que o Dream Theater decidiu convidar o Spock’s Beard pra passar um tempo no Brasil. A resposta pode dar uma ideia próxima do que é o som desses caras.

A banda brasileira brinca de fazer prog metal e usa elementos da riquíssima cultura tupiniquim para enriquecer o material num ponto que até as bandas citadas no início ficariam com inveja.

Unpuzzle! é irretocável. É imprevisível. É inesperado.

‘H.U.C.’ já começa com a banda despejando a virtuosidade que se espera do estilo, com variações pontuais que já abraçam os ouvidos acostumados com essa atmosfera progressiva. E já seria grandioso se o grupo ficasse apenas nessa esfera.

Porém, para elucidar esse puzzle, é preciso se deixar desafiar por novas peças.’Pescador’, por exemplo, traz Fábio Caldeira cantando em português, numa balada que mistura baião e rock, de um bom gosto digno de Grammy.

As faixas seguem sempre apresentando novas possibilidades sonoras, desde o mais insano double-bass de metais extremos até um refinado jazz com passagens progressivas envolventes usando o selo Pink Floyd de qualidade.

Enfim, estamos diante da melhor banda brasileira da atualidade, com um dos trabalhos mais incríveis que o metal nacional já viu.

De São José do Rio Preto para o fundo dos seus ouvidos, a imagem do quebra-cabeça resolvido forma o nome MAESTRICK.

06. Gold Motel – Summer House (2010)

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Ouro Em Seu Estado Sonoro

Greta Morgan é um anjo desgarrado do Olimpo que visita a Terra de tempos em tempos mostrando que sua voz pode encantar até mesmo aqueles desprovidos de audição. Após brilhar efusivamente em sua primeira banda, o The Hush Sound, a sublime vocalista fundou o Gold Motel e ao mesmo tempo fundou também a sede da sua existência em terrenos caros localizados na região do meu coração.

Muitos classificam o projeto como um indie pop mas a realidade é que tanto Greta quanto os outros integrantes conseguem fazer o som ir para outro level, passeando elegantemente pelo alternative rock e adjacências.

“Safe in LA” é viciante em seus dois minutos e cinquenta e quatro segundos, figurando como um single perfeitamente radiofônico.

“Fireworks After Midnight” vai testar sua resistência cardiovascular com sua melodia quase triste e ao mesmo tempo bonita. GM trabalha demais com dualidades e isso faz o disco se manter grandioso até a última track que leva o nome do álbum.

“Summer House” encerra o disco de maneira impecável, fazendo o ouvinte já desejar voltar para o início num loop que pode durar tranquilamente a vida toda.

05. Panic! At The Disco – Vice & Virtues (2011)

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Não Há Nada De Errado Em Se Viciar Nessas Virtudes

Depois de um estrondoso sucesso no disco de lançamento na escalada do emo – porém com muitas peculiaridades no som – e em seguida experimentarem sonoridades mais retrôs no álbum subsequente, Brandon Urie direcionou seus pensamentos artísticos para algo mais pop rock, buscando resgatar o que havia funcionado no ‘A Fever You Can’t Sweat Out’ e experimentando novos elementos.

O resultado não poderia ter sido melhor. ‘Vices&Virtues’ trouxe os americanos relativamente de volta para o mainstream, mesmo com a saída de membros importantes da banda.O que não saiu foi o talento e a capacidade de criarem excelentes melodias, começando pela continuação do hit ‘I Write Sins Not Tragedies’, conhecida por ‘The Ballad Of Mona Lisa’.

‘Hurricane’ é outra excelente canção, com destaque para a temática criativa das letras. Brandon sempre consegue soar teatral e imprevisível nas construções gramaticais, contando histórias de forma única.

A balada ‘Always’ é uma das produções mais belas de toda a carreira do grupo. É impossível ficar alheio aos sentimentos que ela transmite.

Porém, o que mais me impressiona nesse disco são as faixas bônus, principalmente a sensacional ‘Bittersweet’, que acabou se tornando instantaneamente uma das minhas favoritas do Panic!

Certamente será a de vocês também. Pelo bem dos Vícios e Virtudes que o álbum espalha.

04. Adrenaline Mob – Omerta (2012)

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Muito Além De Uma Simples Adrenalina

Quando o deus da voz se junta com o deus das baquetas, um desequilíbrio cósmico naturalmente acontece. E eles chamaram esse fenômeno de Adrenaline Mob.

Em Omerta, Russell Allen e Mike Portnoy visitam vários estilos dentro do metal e oferecem um disco indispensável a todos aqueles que esperavam se emocionar com o trabalho dessas duas lendárias figuras.

Omerta é pesado, experimental, thrash, rock n’ roll e mais uma porção de outras denominações. Mas independente desses rótulos musicais, tudo ali já nasce com potencial de clássico. E o maior exemplo de canção perfeita pode ser apreciada em ‘All On The Line’, uma balada que cresce e se transforma numa explosão de sentimentos emocionante, com Russell Allen mostrando que poucos vocalistas conseguem interpretar e performar de forma tão linda e técnica quanto ele.

Um supergrupo que não tem o menor pudor em usar todos os seus poderes.

03. The Winery Dogs – The Winery Dogs (2013)

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O Mundo Da Música Mudou Com Apenas 3 Pessoas.

O Hard Rock pode ser Progressivo?

Se você tiver Mike Portnoy, Richie Kotzen e Billy Sheehan, isso é exatamente o que você terá.

Essa banda surgiu pra entrar no Hall das minhas favoritas e escalar os degraus mais altos.

Era exatamente o tipo de som que eu sempre tive vontade de fazer e estava escutando aquilo acontecer da melhor forma possível.

Tudo nesse disco funciona. Não existe uma nota que não combine, uma virada que não case, um refrão que não contagie.

De todos os projetos do baterista Mike Portnoy pós Dream Theater, o Winery Dogs é o mais impressionante e honesto.

Um power trio que faz juz à palavra Power.

Assim que ‘Elevate’ começa, o mundo também começa a girar.E quando chega em ‘Regret’, você tenta entender a razão dos seus olhos aumentarem a produção de lágrimas. Você tenta descobrir se é pelo timbre da voz, pelo arranjo do baixo ou pelo groove da bateria.

O bom e o ruim de tudo é que você nunca vai descobrir a razão.Você vai querer continuar ouvindo e buscando essa resposta que nunca virá.Pois o Winery Dogs é isso, algo indefinível e apaixonante.

02. The Rasmus – The Rasmus (2012)

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O Frio Que Esquenta O Coração

Lauri e seus companheiros escrevem as músicas mais tristes do mundo sabendo que apenas as pessoas certas vão conseguir chorar, sorrir e entender essa mensagem quase melancólica dessa banda finlandesa que nunca se prendeu a estilos.

Passaram por funk, punk, hard rock e nesse disco homônimo, seguiram para uma abstração soturna irresistível.

Vários elementos da história estão dissolvidos aqui, em água salgada de olhos transbordantes.

‘Stranger’ já começa contando essa história arrastada e linda.

‘I’m a Mess’ apresenta o estrago assumido do protagonista.

E por aí seguimos aumentando e desacelerando, até emergirmos para a canção ‘Sky’ que fecha o disco e os olhos, numa experiência de difícil explicação.

01. The Dear Hunter – Act V: Hymns With The Devil In Confessional (2016)

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Quintessência

Não existe nada que eu escreva que seja capaz de chegar próximo do absurdo de perfeição que se desenha nesse disco.

Qualquer tentativa de panorama soará falha, imprecisa e até ofensiva para o trabalho irretocável dessa banda.

Apenas ouça. Ouça de novo. Ouça outra vez. Ouça mais uma.

ESSA BANDA É A MELHOR COISA QUE ACONTECEU NA MINHA VIDA INTEIRA E EU ADORARIA QUE ACONTECESSE NA SUA VIDA TAMBÉM.