Pecadores: Blues e vampiros faz sentido? Faz sentido demais.

O novo filme de Ryan Coogler é mais do que uma história sobre vampiros no sul dos Estados Unidos. Saiba por que o Blues é o verdadeiro protagonista.

A música é uma força sobrenatural capaz de ultrapassar o espaço e o tempo. Logo no início de Pecadores (Sinners), do diretor Ryan Coogler, já somos expostos a essa premissa completamente perfeita. E a relação do filme com a música explica muito sobre essa ideia, especialmente sua conexão com o Blues.

Antes de mais nada, assista esse filme lindo. Este texto não é uma resenha e NÃO terá spoilers. Vou apenas falar das simbologias positivas e de como um filme tão maravilhoso presta uma homenagem tão linda ao Blues.

Fui assistir sabendo de três coisas: Michael B. Jordan, Ryan Coogler e… vampiros. Isso já bastava para me deixar curioso. Mas o que encontrei foi algo muito maior. Uma obra espiritual, ancestral e profundamente musical. A cena no juke joint, com o personagem Sammie (interpretado maravilhosamente pelo ator e músico Miles Caton), cantando e apontando para o céu, é Absolute Cinema.

O Blues não é apenas trilha do filme. Ele faz parte da narrativa. Está na textura visual e na dor dos personagens. Ryan Coogler vai além da estética. Em Pecadores, a música é ritual. Ela está ali para proteger, para invocar forças ancestrais. A música é escudo, feitiçaria e sobrevivência. O Blues é o que os vampiros querem tomar, e também o que dá proteção. Vai por mim, a metáfora dos vampiros nesse filme é completamente relevante.

A mais gostosa surpresa do filme é a participação da lenda Buddy Guy (micro spoiler). Junto com ele no palco, o jovem e talentoso Big Fish. É o passado e o presente juntos. Essa cena é respeito pela história. É como se o próprio Blues ganhasse presença no filme em forma humana. Essa surpresa é um gesto poderoso. O lendário Buddy Guy não está ali como músico, ele está como ancestral.

Pecadores é uma carta de amor ao sul negro, mágico e resistente. É a memória viva de um povo que sempre cantou, mesmo quando queriam silenciar. “As pessoas gostam de Blues, mas não gostam de quem faz o Blues.” Essa é uma das frases mais poderosas do filme. Ela vem do personagem genial de Delroy Lindo, chamado Delta Slim.

É raro ver no cinema um olhar para o Blues com tanta reverência, verdade e profundidade. Aqui, o Blues respira, chora, invoca e transforma. Ao homenagear essa tradição com tanta alma, Pecadores se torna, ele mesmo, uma nova canção de Blues. Ao sair do cinema, eu não conseguia pensar em mais nada além daquela frase: “A música ultrapassa o espaço e o tempo.”


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