
Meu irmão é 11 anos mais velho do que eu. Ao mesmo tempo que eu tinha os discos do Trem da Alegria e do Balão Mágico, no nosso quarto tinha uma parede completamente tomada por pôsteres de bandas de metal. Um desses pôsteres era especial. Era o Ozzy com a boca aberta, comendo algum bicho estranho de mentira. Esse negócio do Ozzy comer bichos não seria novidade. Esse foi meu primeiro contato com o Ozzy.
De curiosidade, ouvia o Tributo ao Randy Rhoads, e minha favorita sempre foi Mr. Crowley. Dessa curiosidade, com 7 ou 8 anos de idade, veio conhecimento. Fui descobrindo que Children of the Grave, Paranoid e Iron Man eram do Black Sabbath. Do Black Sabbath, expandi meu repertório com o compilado We Sold Our Soul for Rock ‘n’ Roll. Ali fui descobrindo mais sobre os inventores do heavy metal.
Com 10 anos, meu fornecedor de música (mais conhecido como meu irmão) casou e saiu de casa. Eu estava sozinho nessa agora. Teria que descobrir as coisas por conta própria. E o Ozzy sempre esteve lá como um cobertor quentinho. Se não tinha nada pra ouvir, eu ouvia Ozzy. Com 12 anos, saiu o ao vivo chamado Live & Loud, junto com um super show filmado. Assisti mais esse show do que Robocop e O Grande Dragão Branco. Era a fitinha VHS que mais vi. Quando consegui o CD, foi o CD que mais ouvi na vida. Se tivesse um Wrap de mais tocados da vida, certamente eu estaria entre os 0,1% de usuários que mais ouviu esse disco.
Dali, expandi aos poucos o catálogo do Ozzy. Comprei o No More Tears na Berlin Discos de Brasília. O Bark at the Moon comprei nas férias com minha avó no Madureira Shopping, no Rio. O Blizzard of Ozz, nas Lojas Americanas no monte de 10 reais em promoção. Todos os meus contatos com o Ozzy lembro até hoje.
Com 14 anos, veio a chance de ver o Ozzy em sua turnê de despedida chamada No More Tours no Monsters of Rock de São Paulo em 1995. Felizmente, ainda tivemos o Ozzy conosco por mais 30 anos. Ainda consegui assistir a ele de novo, com bônus do The End Tour com o Black Sabbath. Chorei e me emocionei vendo de perto aquele que foi um dos nossos doidinhos favoritos da história do metal e do rock.

Ele só queria ser o John Lennon. Pra ele, ele fazia rock ‘n’ roll. Ele lembrando ou não dos anos 90, ninguém no mundo será igual e foi épico mesmo assim. O nosso John Michael “Ozzy” Osbourne é desses humanos que aparecem a cada mil anos, e felizmente tivemos o privilégio de viver ao mesmo tempo que ele. Há pouco mais de 15 dias, vimos e nos emocionamos com sua despedida, não só da música, mas da vida.
Sua vida foi um espetáculo que, se fosse escrita por um roteirista de série, todo mundo acharia forçado e exagerado. Mas a vida real é muito mais fascinante do que a ficção. E do dia em que ele montou a banda com seus amigos Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward até seus últimos minutos no mundo, foi um espetáculo. Até a sua partida foi um show.
Como no texto do Vinicius Cabral sobre a morte da música com a morte do Brian Wilson, dessa vez, a música morreu novamente. E, mesmo sabendo que todos os nossos heróis que mudaram o mundo um dia irão partir, nunca estaremos preparados.
Obrigado, Ozzy, por tudo. Eu te amo e sempre te amarei.
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