17 de Maio de 2021
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time destaca lançamentos que têm feito suas cabeças.
LANÇAMENTOS
Por Bruno Leo Ribeiro
PAPAI ESTÁ EM CASA
Alguns discos são da categoria “chegar em casa, colocar pra tocar na vitrola, abrir um vinho, sentar numa poltrona e curtir pra esquecer como foi o dia”. E o Daddy’s Home da St. Vincent (Annie Clark) entrou pra essa lista de uma maneira fantástica. Ainda tem muito 2021 pra acontecer, mas com certeza esse é um dos discos que lembraremos quando citarmos 2021 no futuro.
Gravado no famoso Electric Lady – estúdio idealizado pelo Jimi Hendrix – e com produção do Jack Antonoff (*o produtor queridinho dos últimos tempos, que produziu o “folklore”, da Taylor Swfit, “Norman Fucking Rockwell” da Lana Del Rey e muito mais), o Daddy’s Home é uma viagem no tempo aos anos 70 com a cara da modernidade da Annie Clark.
Depois da notícia que seu pai esteve preso por fraude por mais de 10 anos vazada no tablóides, a St. Vincent resolveu usar esse sentimento de se reconectar com seu pai como tema para os sentimentos desse disco altamente criativo e cheio de sentimento.
O disco pode ser considerado um disco de Soul, R & B e Rock Psicodélico. Uma mistura dos elementos de grandes compositores que inspiraram a Annie. Tem elementos de Joni Mitchell, Stevie Wonder, Elton John, Beatles e até Pink Floyd.
O LP começa com um piano de Saloon de filmes de faroeste e entra com sintetizadores modernos, quase como uma transição do que ela fez no último disco Masseduction pro que vem em sequência no disco. Na segunda faixa, Down And Out Downtown, a sonoridade dos anos 70 com a bateria sequinha e uma linha de baixo Stevie Wonderiana, abre as portas pro que vem no resto do disco.
Na terceira faixa, cheia de ironias com a relação com seu pai, a dissonância da progressão de acordes mostra os motivos da Annie Clark ser especial e diferente. Não tem nada de previsível.
Em Live In The Dream, temos uma música que facilmente entraria no Wish You Were Here do Pink Floyd. Uma melancolia misturada com uma grandiosidade fantástica quando entra o refrão e com um solo épico de guitarra que o David Gilmour se levantaria pra bater palmas. A Annie Clark, acima de tudo, é uma guitarrista absurda.
O disco segue perfeito e introspectivo. Pra se fechar os olhos e sentir os pequenos detalhes dos arranjos e melodias lindíssimas. Somebody Like Me tem uma melodia de voz que arrepia até os pelos que você nem sabia que tinha.
A St. Vincent misturou o melhor do “Songs in The Keys of Life”, o “Wish You Were Here”, o “Abbey Road”, o “Hejira” e o “Goodbye Yellow Brick Road” pra fazer, pra mim, o melhor disco da sua carreira.
Ainda tá cedo pra falar, mas eu tava esperando por esse disco pra ficar mais fácil escolher o melhor disco do ano. Por enquanto, ele anda na frente e quem lançar discos em 2021, vai ter que me surpreender bastante pra me emocionar mais do que o Daddy ‘s Home. Valeu muito a pena esperar a Annie Clark lançar esse disco. Agora sou oficialmente fanboy.
Por Vinícius Cabral
UMA PORRADA ULTRAPOP
Desde os primeiros acordes da faixa de abertura (a homônima Ultrapop) algo fica evidente: tem algo de noise e pop aqui, misturado a um hardcore nervoso e pesado. E não é uma mistura tão inusitada quanto pode parecer.
Não nos deixemos levar pelos pedais duplos aqui e ali, pelos berros do vocalista ou pela parede de guitarras que soca nossos ouvidos nos maltratados fones do dia a dia (aquelas merdas branquinhas que estragam só de se olhar forte pra elas): The Armed é alternativo. A tag “metal”, evidente nos streamings, é uma distração. Isso não é metal (eu nem gosto de metal, btw). É uma cruza entre diversos elementos bem distintos: sintetizadores, baixos de pós-punk, melodias indie, berros do hardcore e do punk. Tudo isso compondo uma massa sonora bastante inovadora.
Impossível ouvir a canção Average Death, por exemplo, e não ficar completamente intrigado: no refrão ouve-se uma melodia maravilhosa enterrada na parede de guitarras ridiculamente altas (e super comprimidas, naquele “flat” digital inevitável), tudo isso amarrado por uma bateria que parece estar em outra sala, numa levada totalmente desconexa, mas que se encontra em algum momento com o restante do instrumental. The Armed é alternativo.
O que vai ficar mais claro, talvez, no single An Iteration – um hino que bota os pseudo sofisticados poetas brancos de internet no lugar certo – ou na maravilhosa Bad Selection, que tem até traços fortes de um Nine Inch Nails. Neste saladão maravilhoso que é o álbum, cabem influências das mais variadas, o que vai incluir certamente um cantinho dos anos 90 reservado a essas cruzas incríveis entre eletrônico-alternativo-metal. Tem algo de industrial aqui também (lembra Helmet algumas vezes). Mas qualquer especulação adicional é inútil. The Armed soa original. A essa altura do campeonato, isso é muita coisa.
Além dos destaques óbvios, é preciso dar uma atenção especial ao single All Futures que, acompanhado por um clipe antológico, parece sintetizar a obra. Todos os elementos mais radicais da sonoridade do trabalho estão ali, com um refrão chocante: All Futures destruction. Berrado, comprimido, cuspido. Uma ode a um sentimento bem particular dos nossos tempos: esse de termos tido nossos futuros sequestrados – nas “torres de babel se afundando em desertos de dividendos”. Uma canção que começa com um verso desses não pode ser nada menos do que um clássico.
E é só a síntese … de um grande disco.
Por Márcio Viana
UM MERGULHO NO MISSISSIPPI
Quando se trata do The Black Keys, formado por Dan Auerbach e Patrick Carney, soa até estranho de se falar em “volta às raízes”, já que a bem da verdade as influências do duo sempre foram muito claras ao longo de sua carreira, nunca deixando de se banharem das águas lamacentas do Mississippi.
Mas em Delta Kream a coisa se acentua. São 11 covers de artistas que os influenciaram, como John Lee Hooker, R. L. Burnside e Junior Kimbrough. As sessões de gravação duraram apenas dois dias, no final da turnê do álbum anterior, Let’s Rock, e se você der o play e tiver a sensação de que parece que os músicos plugaram os instrumentos e saíram tocando, bem… é praticamente isso mesmo. Você ouve as conversas dos músicos entre as faixas, os acordes e batidas soltos antes do início das músicas e consegue se sentir ali dentro do estúdio, talvez com um copo de uísque na mão (fui muito clichê na alegoria?).
Para a gravação, o duo contou com membros das bandas de dois homenageados: o guitarrista de Robert Lee Burnside, Kenny Brown, e o ex-baixista da banda de Junior Kimbrough, Eric Deaton.
Disco de se ouvir sem pular faixas. Confira as músicas e seus intérpretes originais:
01. Crawling Kingsnake (John Lee Hooker / Bernard Besman)
02. Louise (Fred McDowell)
03. Poor Boy A Long Way From Home (Robert Lee Burnside)
04. Stay All Night (David Kimbrough, Jr.)
05. Going Down South (Robert Lee Burnside)
06. Coal Black Mattie (Ranie Burnette)
07. Do the Romp (David Kimbrough, Jr.)
08. Sad Days, Lonely Nights (David Kimbrough, Jr.)
09. Walk with Me (David Kimbrough, Jr.)
10. Mellow Peaches (Joseph Lee Williams)
11. Come On And Go With Me (David Kimbrough, Jr.)
A primeira faixa tem uma versão editada que encerra o disco, como uma contracapa para este “livro de canções”.
Por Brunno Lopez
MUITO ALÉM DO ALTER BRIDGE
Pense num sujeito ocupado. Agora multiplique por 20. Multiplicou? Então pronto: O resultado será Myles Kennedy. Quando ele não está na estrada ou gravando com o Alter Bridge, provavelmente você vai encontrá-lo fazendo um som com o Slash.
E nesse meio tempo, o inconfundível vocalista aproveitou a quarentena obrigatória do ano passado pra escrever e gravar a tão esperada continuação do seu álbum solo de estreia, o Year of the Tiger.
Se no disco debute vimos uma retrospectiva da sua infância, no lançamento Ides of March encontramos um material muito reflexivo, mostrando como foi o período de 2020 pra todos nós.
As canções refletem justamente essas emoções inéditas que experimentamos.
Esse processo veio com uma sonoridade que misturou rock, blues e até country. É interessante perceber que, mesmo flexionando suas cordas vocais para outros gêneros, sua voz segue soando com a peculiaridade que lhe conferiu toda a sua notoriedade, encaixando-se em meio a doses saudáveis de slide de guitarra e letras naquele formato próprio para contar histórias.
São onze faixas distribuídas num álbum com aquele potencial agradável de estar tranquilamente entre os melhores discos de 2021.
Se esse ano pedia um hino, a música que dá nome ao álbum tem 7 minutos de um novo clássico do rock contemporâneo.
Ouça aqui o disco do Myles Kennedy
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana