19 de Abril de 2021
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time destaca lançamentos que têm feito suas cabeças.
LANÇAMENTOS
Por Bruno Leo Ribeiro
A BATALHA NO PORTÃO DO JARDIM
“Ahh, mas o Greta Van Fleet faz um som que já foi feito pelo The Who e Led Zeppelin… num sei o que num sei que lá”.
Esse é o maior cliché quando se lê alguma coisa sobre o Greta Van Fleet.
Eu não sei se é recalque, ou aquela velha máxima que diz que fazer sucesso é ofensa pessoal e tals, mas o caso é o seguinte. Sim, eles fazem um som que já foi feito. Assim como outras bandas nos 70 fizeram um som que já tinha sido feito e assim por diante.
Na música em algum momento você vai copiar ou roubar uma ideia de alguém. Criatividade é isso.
Se a Jesse Ware, Dua Lipa ou o The Weeknd fazem um som que já foi feito, “Nossa que gênios fazendo uma homenagem!”, mas se é uma banda de Rock… “ahh não pode fazer!”.
Tudo isso desse texto é só pra provocar mesmo. Eu gostei do novo disco The Battle at Garden’s Gate do Greta Van Fleet. O Rock Clássico está em boas mãos e que bom que tem a molecada tentando copiar uma década tão boa! Imagina se a molecada começa a tentar criar uma banda de um hit só dos anos 90?
Melhor imitar o que se gosta e deixar os gostantes gostarem. Vai na fé e peito aberto que o disco do Greta tá muito bom. Era isso :).
Por Vinícius Cabral
A MAIOR REVELAÇÃO DOS ÚLTIMOS ANOS
Já estou ficando repetitivo falando aqui sobre um certo retorno triunfal do indie. Em quase cinco anos de podcast fui acompanhando – em paralelo com minha carreira musical – uma grande efervescência de bandas resgatando o que de melhor e esquisito o indie rock, ou como fazemos questão de chamar, o rock alternativo, pode proporcionar. Com artistas tarimbados já em um nível mais alto, com carreiras longevas (Angel Olsen, Big Thief, Perfume Genius, Mitski, etc) todo ano parecem surgir do underground, com pouquíssimo tempo de estrada e muita personalidade, novas bandas sensacionais. Da inglaterra ano passado foi a vez de Porridge Radio. Neste maluco 2021, quem surge de terras britânicas como um meteoro deixando todo mundo de queixo caído é o quarteto londrino Dry Cleaning.
Seu debut, o fenomenal New Long Leg é tudo o que eu esperava de uma banda nova (e nem sabia que esperava). Com um conjunto básico e mortífero composto por guitarra, baixo, bateria e vocais declamados, superficialmente o que vêm à mente são, claro, as clássicas: um pouquinho de Pixies aqui, Dinossaur Jr. ali, uma relação forte com Sonic Youth (talvez em função das declamações “retas” e esquisitíssimas da vocalista, Florence Shaw) … até Patti Smith vem à mente. Mas o diferencial da banda é o melhor conjunto melódico instrumental que eu ouço em um bom tempo, com destaque enorme para as guitarras de Tom Dowse. Seus riffs seguram as músicas com destreza, e apontam para uma certa tradição de “guitarras britânicas”: de Johnny Marr a Bernard Butler e Graham Coxon.
A inusitada conexão com o britpop, a partir de uma sonoridade à princípio tão indie “crua” (mais associada, claro, com as bandas clássicas que cito acima), é uma marca particular desse grupo, e talvez revele um pouco porque eles soam tão originais, apesar de não fazerem nada tão diferente assim. É apenas rock alternativo, simples, direto. Claro que o estilo vocal declamado (com letras incríveis, by the way) abre caminhos para que a cozinha instrumental conduza o ritmo e, ao mesmo tempo, defina os principais elementos melódicos das canções (daí o destaque aos riffs tão simples e marcantes da guitarra). Mas isso não é exatamente novo – Sonic Youth o fez à exaustão. O que faz de Dry Cleaning tão especial assim, então?
A síntese. O conjunto. O charme. Elementos todos absolutamente explícitos, por exemplo, em Scratchcard Lanyard, a faixa de abertura que é, pra mim, a melhor música de 2021. O disco tem outros destaques inesquecíveis, como Unsmart Ladies, Her Hippo ou a homônima New Long Legs, mas é, de novo, o conjunto que faz o trabalho. Não vou sair dizendo coisas definitivas sobre o disco (tem muito chão pela frente em 2021), mas quem ouvir o álbum e der uma sacada na última apresentação ao vivo da banda, vai entender o que eu tô dizendo: é uma banda, banda. Dessas de rara personalidade e coesão. Vida longa ao Dry Cleaning!
Por Márcio Viana
DIÁRIO DE UM ANO RUIM*
Já faz quase quarenta anos que o grupo The Offspring existe e faz mais ou menos o que se espera dele, uma mistura de punk rock com pop, algumas vezes com músicas e clipes engraçadinhos, como por exemplo o megahit Pretty Fly (For a White Guy) ou Why Don’t You Get a Job?.
A notícia aqui então é: ainda que fazendo o mesmo de sempre, o Offspring está diferente no recém-lançado Let the Bad Times Roll. Pra começar, o vocalista Dexter Holland se aventura em tons mais baixos. A faixa de abertura, This is Not Utopia, passaria tranquilamente por uma música do Bad Religion.
Let The Bad Times Roll é, então, um disco que reflete os nossos tempos de desilusão com a política mundial. Por falar nisso, a faixa-título pode até remeter às canções mais engraçadinhas de outros tempos, mas a conversa aqui é outra: a letra fala de como os governantes estão deixando rolar os tempos ruins. O discurso é velado, mas o grupo vem dizendo em entrevistas que o lamento é mesmo por figuras como Donald Trump e sim, Jair Bolsonaro.
Se não há tanto espaço para os gracejos, há pelo menos um momento de descontração, com a gravação da música clássica In The Hall of The Mountain King, de Edvard Grieg, conhecida por integrar várias trilhas sonoras de filmes, incluindo produções da Disney. Nem é uma ideia tão inovadora, já que bandas como Madness, Electric Light Orchestra ou Epica já arriscaram versões da música. Mas a versão do Offspring cumpre seu papel de divertir.
Por fim, o grupo ainda resolveu gravar uma versão inusitada de Gone Away, hit de 1997 (do álbum Ixnay on the Hombre), só com voz e piano.
Dá pra dizer que o grupo voltou à boa forma e trouxe um trabalho bastante agradável de se ouvir, mesmo inspirado em tempos ruins. Ponto para eles.
*Diário de um ano ruim é o nome de um livro do escritor sul-africano J. M. Coetzee.
Ouça Let The Bad Times Roll aqui
Por Brunno Lopez
THE IDES OF MARCH
Myles Kennedy sempre me impressionou desde que surgiu como uma alternativa para os remanescentes do Creed, no competente Alter Bridge. Com o tempo, fomos percebendo que seu potencial era inesgotável, colocando o vocalista em grandes projetos, inclusive tocando com Slash.
E agora ele me aparece com um épico de oito minutos simplesmente irresistível, “The Idles Of March” – que inclusive é o nome do seu novo EP – e a única reação possível é de aplausos e ufania coletiva.
Mesmo sem se desprender de sua influência de rock clássico, é inspirador observar que sua evolução musical trouxe novos elementos, principalmente nessa canção.
O recado que fica é: Se o Grammy realmente for sério, essa música será escolhida a faixa do ano!
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana