Newsletter – Silêncio no Estúdio Vol. 86

15 de Março  de 2021


Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana, nosso time destaca as principais notícias, curiosidades, acontecimentos relevantes e/ou inusitados do mundo da música ou, simplesmente, alguma curiosidade ou indicação. Claro que, cada um à sua maneira, e abordando sempre o universo musical de sua predileção. 


NOTÍCIAS & VARIEDADES

Por Bruno Leo Ribeiro

ONDE ESTÃO AS MINHAS MÚSICAS?

Eu vivi numa época que só ouvia o que tinha em casa. Sorte de ter um irmão 11 anos velho, é que tive acesso a muita coisa. Os discos dele e os discos da minha irmã e alguns dos meus pais, era o que eu ouvia. Quando meu irmão casou, eu tinha 9 anos. Perdi totalmente o meu fornecedor de música. Foi uma época que ouvi o que tinha ou tocava na rádio. Quando saiu os primeiros CDs, juntava o dinheiro do lanche da escola (passava fome) pra comprar os meus CDs. Tinha uma loja de CDs de rock e metal em Brasília que você achava as coisas importadas. Em 93/94, abriu uma super loja chamada Redley Records e frequentava toda semana (um dos caras que trabalhavam lá virou amigo e ele era baterista do Câmbio Negro). 

Depois de anos ouvindo CDs, veio a internet e saí baixando tudo do mundo. Todas as discografias das bandas que já tinha ouvido falar, eu baixei. Fui tirar o atraso. Fiquei entre 93 e 2000 ouvindo só metal. De 2000 pra frente fui ouvir mais MPB, Rock Clássico e outras coisas. 

Fiquei 10 anos sem comprar nada. Em 2010, eu basicamente voltei a comprar discos. Vi uma vitrola com preço bom e trouxe pra Finlândia e peguei alguns discos que tinha perdido na casa da minha mãe.

Quando cheguei aqui e vi o tanto de loja de discos, fiquei meio sem saber por onde começar. Eram tantas opções que eu resolvi ignorar os vídeos e fotos dos colecionadores com aquela parede de estante cheias de discos e resolvi comprar o que eu realmente amo.

Essa é a minha regra pra comprar discos. Não tenho tanta coisa. Ainda estou na casa da primeira centena, partindo pra segunda centena, mas com o tempo vou comprando e preenchendo algumas lacunas na coleção. 

Na última leva, comprei vários discos por menos de 6€ cada um. São discos meio detonadinhos, com a descrição no Discogs que estão com o vinil com qualidade apenas boa. Algumas linhas de cabelo, mas que tocam sem pular. Pra mim é o que importa. Não me incomoda tanto alguns pequenos cliques e ruídos. Pra mim, isso sempre fez parte do som do vinil. O crepitar e o processo é o que me deixa mais feliz. 

Se amanhã o Spotify sair do ar, ainda tenho muita coisa pra ouvir. E toda vez que chega um disco novo aqui em casa, fico mais tranquilo sabendo que aquele registro histórico está garantido pra mim e pros meus filhos (eles que se estapeiem pela herança!).

Nessa última leva, veio um disco que o Vini já falou, o Tapestry da Carole King, então volta lá na newsletter que ele escreveu. (Silêncio no Estúdio Vol. 28 – Se você não recebeu, me fala que mando pra você!).

Outro que chegou e vou indicar aqui pra você é o Invisible Touch do Genesis. Land of Confusion é uma musicáça e você tem que ouvir. Apesar da grande importância do Peter Gabriel no Genesis, eu gosto mais da fase Phil Collins da banda. Ficou bem mais pop, eu sei, mas me emociona mais. Talvez seja a memória afetiva, talvez porque lembro que meu irmão tinha esse disco e eu escuto com lembranças, mas talvez seja só porque eu gosto mais e não precisa de explicação.

Nem tudo nessa vida precisa de explicação. A gente não tem que justificar o que compramos, o que colecionamos, o que não temos na nossa coleção. O que você tem na sua estante, foi uma escolha sua e só sua. Ouça os discos que você ama. Compre os discos que você acha que tem que comprar. Qualidade é melhor que quantidade. Uns dizem que menos é mais. O Yngwie Malmsteen diz que mais é mais. Quem te emociona mais? O David Gilmour ou o Yngwie Malmsteen? 🙂

Começando ou não uma coleção, sei que você ama música. E isso é o que mais importa.

Ouça aqui o Invisible Touch do Genesis


Por Vinícius Cabral

O FUTURO DA ARTE PRECISA SER O FIM DEFINITIVO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL

Arte da Grimes vendida por alguns milhões de dólares em NFT

Não sei se vocês já sabem dessa novidade, mas como se não bastasse toda a virtualização excessiva das atividades humanas, amplificada pela atual pandemia de Covid-19, agora já existe o NFT: Non-Fungible Tokens. Basicamente, uma estrutura de blockchain para a venda “certificada” de arte digital. Para começo de conversa, sejamos sempre céticos em relação a estruturas de produção de valor a partir da especulação e da “exclusividade”. Dito isso, resta muito chão ainda para vermos onde isso vai parar. É óbvio que projetos e artistas de destaque na indústria (como Grimes, Kings of Leon, e até o André Abujamra) estão utilizando o recurso de forma precursora. Óbvio. Artistas consolidados devem puxar a fila para promover qualquer novidade (foi assim com o streaming, será assim, infelizmente, por muito tempo ainda). 

O ponto é que, com o advento da internet e de plataformas verdadeiramente democráticas de acesso à arte, conhecimento e cultura, o que está em questão – mas todo mundo parece não querer debater – é a estrutura de valor na arte, e o fim da ideia de propriedade intelectual. Recomendo, pra alimentar esse debate, o “documentário”* Fake Art: Uma História Real (disponível na Netflix). É uma história tão absurda que serve, no mínimo, para observarmos o quão ridículo é a arte ser validada por um circuito de autenticidade baseado em uma assinatura (a tal da “procedência“, ou “provenance“). 

Os mais astutos perguntam: “tudo bem, mas sem a tal da propriedade intelectual, como os artistas recebem pela sua arte?”.  Eu tenho mil propostas. Uma delas, muito fácil de enxergar, é começar a reverter os bilhões que instituições obscuras como a BlackRock (uma das maiores empresas de ativos do mundo, avaliada em trilhões de dólares) destina para a Netflix, por exemplo, para fundos de desenvolvimento de artistas ao redor do mundo. É sempre aquela velha questão: todo mundo sempre acha que no capitalismo os negócios dão a tônica de tudo (conteúdo “x” dá dinheiro, por isso recebe os investimentos). Mas o ponto central é que o capitalismo não se importa tanto com dinheiro. It’s not economics, stupid. It’s power

*O asterisco vai só pra dizer que (quase) todo documentário da Netflix mais parece reportagem do que documentário. Eu sei que eu sou chato, mas foda-se. O que essa empresa faz é reportagem e entretenimento baseado em Big Data. “Documentário”, “arte”, etc, é outra coisa. 


Por Márcio Viana

REIMAGINE ALL THE PEOPLE

Bem lá nos últimos dias de 2020, Paul McCartney lançou seu McCartney III, e eu comentei por aqui sobre ele. Bem como os outros dois da trilogia, foi um trabalho do velho beatle em isolamento, embora em circunstâncias bem diferentes, mas com a mesma premissa de gravar todos os instrumentos sozinho, fazendo disso o grande mote do álbum.

Pois bem: fato inegável é que o mundo todo continua em isolamento (exceto por alguma pilha de negacionistas amantes da tragicomédia fúnebre) e as canções de McCartney III precisavam ganhar algum movimento, e isso não será alcançado em shows, por enquanto.

A saída para o inquieto britânico foi convidar uma série de artistas para reimaginar as composições do disco. E foi assim que Macca convidou nomes como St. Vincent, Phoebe Bridgers, Josh Homme, Damon Albarn e  Anderson .Paak, entre outros, que tiveram liberdade para recriar a seu modo as canções. O álbum cheio sai no dia 16 de abril, mas já é possível conferir a versão do rapper norte-americano Dominic Fike para The Kiss of Venus.

Confira a lista das faixas e os convidados de McCartney III Imagined:

01. Find My Way (feat. Beck)

02. The Kiss of Venus (Dominic Fike)

03. Pretty Boys (feat. Khruangbin)

04. Women And Wives (St. Vincent Remix)

05. Deep Down (Blood Orange Remix)

06. Seize The Day (feat. Phoebe Bridgers)

07. Slidin’ (EOB Remix)

08. Long Tailed Winter Bird (Damon Albarn Remix)

09. Lavatory Lil (Josh Homme)

10. When Winter Comes (Anderson .Paak Remix)

11. Deep Deep Feeling (3D RDN Remix)

12. Long Tailed Winter Bird (Idris Elba Remix)

Assista aqui o clipe de The Kiss of Venus, com Dominic Fike

Ouça aqui a versão original de The Kiss of Venus, com Paul McCartney


Por Brunno Lopez

O ESPÍRITO CONTINUA 

Tivemos no último dia 10 de março a comemoração mundial em homenagem aos guitarristas. E é engraçado como eu, mesmo sendo um baterista de origem, sempre tive uma fascinação pelos personagens das 6 cordas.

E não se trata apenas de virtuosidade e técnica. Minha predileção sempre se concentrava nessa mistura com ênfase em dois outros ingredientes importantíssimos: emoção e musicalidade.

Temos muitos guitarristas que carregam esses atributos em suas músicas. Poderia citar aqui o impressionante Victor Smolski, ex-Rage, que pra mim é um dos músicos mais criativos e impressionantes do instrumento. A forma com que ele desenha suas ideias e varia suas técnicas é única. 

Porém, poucos no mundo conseguem fazer linhas de guitarra tão tocantes e geniais quanto John Petrucci. O guitarrista do Dream Theater é um arquiteto de artes sonoras, sempre trabalhando a favor da música, mesmo em momentos de pleno virtuosismo.

Lembro-me da primeira vez que ouvi o Scenes From a Memory – que por si só é impecável – e ao chegar em “The Spirit Carries On”, o solo nos leva pra outra dimensão.

Petrucci consegue fazer com que todas as suas notas ali reverberem sentimentos, por mais que eventualmente o ouvinte queira esconder. É como se fossem palavras despejadas por cordas e palhetadas, numa atmosfera de uma beleza inenarrável.

É um registro tão imersivo que quando James Labrie volta após o final do solo pra cantar “Safe in the light that surrounds me”, a impressão que temos é que somos trazidos de volta à realidade.

Petrucci consegue unir todos os elementos de uma forma coerente e apaixonante. Uma aula de como atravessar os ouvidos e os corações das pessoas, emocionando de verdade quem para pra escutar.

Ouça e se emocione aqui


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana