Newsletter – Silêncio no Estúdio Vol. 84

1 de Março  de 2021


Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. A newsletter desta semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!


IT’S A CLASSIC

Por Bruno Leo Ribeiro

LOUCO DO OUTRO LADO DA ÁGUA

Um disco que começa com Tiny Dancer não pode ser um disco ruim. Na verdade é um disco perfeito. 

Em 1971 o Elton John lançou seu quarto disco chamado “Madman Across the Water” e se tornou um clássico imediato. Começa com Tiny Dancer, segue com a lindíssima Levon e ainda tem outro sucesso chamado Indian Sunset. 

A parceria do Elton John com o Bernie Taupin estava cada vez melhor. Pra mim, esse é o melhor disco do Elton na fase dos anos 70. 

O disco não é exatamente um disco conceitual, mas narra um pouco das experiências do Elton John nos Estados Unidos (do outro lado da água). 

Na música, “Tiny Dancer”, os arranjos são perfeitos e a voz do Elton se encaixa de uma maneira escandalosamente maravilhosa. As progressões de acordes complexas, trazem o que tem de melhor das músicas do Elton e a melodia de vocal é pra fechar os olhos e se imaginar ao lado do piano dele.

Em “Levon”, as letras obscuras do Bernie Taupin aparecem e conta a história de cara que fica entediado fazendo a mesma coisa. Ele quer mudar, mas não pode porque é tudo parte dos costumes da família. “

A segunda metade do disco é um pouco menos incrível que a primeira parte, mas nada que comprometa a qualidade do disco como um todo. É um disco que vale demais ouvir do começo ao fim.

Depois do lançamento, o Madman Across the Water foi considerado um fracasso, pois não conseguiu alcançar o Top 40 na Inglaterra. Com o passar dos anos, se tornou um sucesso multi-platina e obteve aclamação crescente da crítica, assim como tantos outros discos de tantos outros artistas que inovam e ninguém entende naquele momento.

Ouça o Madman Across the Water aqui


Por Vinícius Cabral

QUANTO MAIS LONGE DO CIRCO / MAIS EU ENCONTRO PALHAÇO

Se alguém me perguntar se há um disco que resume a diversidade da música brasileira em (quase) toda a sua amplitude, não tenho dúvidas: Contrastes, de Jards Macalé, 1977. O gênio subestimado, muitas vezes tido como “maldito”, “maluco”, ou “excêntrico”, conseguiu estar sempre à frente, atrás e ao lado. Com uma visão de 360 graus sobre todo o território estético nacional, Jards conseguiu com este trabalho algumas façanhas, como a de entregar uma obra que, finalmente, ainda no final dos anos 70, superou qualquer tipo de ideia, ou antes, idealização, de fusão e tropicalismo. Isso porque Contrastes não é um álbum de samba, de rock, ou de baião (ou disso tudo “misturado” em um caldeirão sem identidade que poderia ser chamado de – sic – MPB). É um álbum de música brasileira, sem outras subcategorias ou misturas genéricas e estereotipantes. 

Outras façanhas, também dignas de nota; Jards bota Gilberto Gil para fazer uma levada de reggae em Negra Melodia, música composta com Wally Salomão para Luiz Melodia; bota Dominguinhos para tocar acordeom em Sim ou Não, música de Geraldo Gomes Mourão, irmão de Jackson do Pandeiro; ressuscita a mítica Orquestra Tabajara para orquestrar O Conto do Pintor, resgate do samba de breque de Moreira da Silva (e da famosa orquestra, até então “encostada” pelo tempo); também bota a mesma orquestra pra arrasar em cima de um tema composto no cavaquinho para o filme Tenda dos Milagres, de Nelson Pereira dos Santos (a maravilhosa Choro de Archanjo); além de tudo isso, Jards acena à modernidade do rock brasileiro, gravando uma canção de Walter Franco (Cachorro Babucho) e contando com arranjos e condução de Wagner Tiso em diversas faixas, acompanhado pela “cozinha” do Som Imaginário (Luiz Alves e Robertinho Silva).

Um verdadeiro catálogo, com curadoria e direção especialíssima de Jards, que além de tudo também se supera como compositor e intérprete. Em canções como Sem Essa, No Meio do Mato e Poema da Rosa (onde o artista põe música em letra escrita por Augusto Boal, em tradução de poema de Bertold Brecht), Jards se mostra no auge da inspiração, abusando de suas cacofonias e geniais “dribladas” na métrica. É com a faixa título, porém, clássico samba de Ismael Silva, que a visão do disco talvez se realize em essência. Nas próprias palavras do cantor, o disco representa uma espécie de “maturidade da loucura”. Nada melhor, para sintetizar essa imagem, do que uma canção que bota supostas oposições para sambar, se acabando com a trágica e atual tirada: “quanto mais longe do circo / mais eu encontro palhaço”.

Um disco de samba, samba de breque, reggae, rock, blues, jazz (sim, Jards “imita” Louis Armstrong em Black and Blue), rock experimental, pop, choro e orquestra. Cover, canção original, poema musicado, homenagem, curadoria e colaboração. Um disco perfeito, inusitado e criativo, de uma das mentes mais férteis e fundamentais da cultura brasileira.       

Ouça Contrastes aqui


Por Márcio Viana

HOJE JOHNNY VAI CANTAR

Aproveito o gancho que trouxe com o Raio-X sobre o disco Krig-Há Bandolo!, no qual dediquei alguns minutos para falar sobre o disco do cantor Leno, produzido por Raulzito na CBS e lançado somente em 1995, e recupero o texto que escrevi na primeira newsletter que enviamos aos apoiadores, em 2019.

O cantor e compositor Leno, famoso nos anos 1960 por ser metade da dupla Leno & Lilian (sucesso na Jovem Guarda), gravou entre 1970 e 1971 o álbum Vida e Obra de Johnny McCartney. Foi uma verdadeira guinada na carreira do antes intérprete de canções inocentes junto com sua parceira de dupla, como Pobre Menina e Devolva-me (sim, aquela regravada por Adriana Calcanhotto). Leno até já havia iniciado sua carreira-solo ao final dos anos 60, mas com Johnny McCartney ele foi além: produzido por ninguém menos que Raulzito (é, o nosso Raul Seixas), o álbum enfrentou a resistência da própria gravadora CBS, que, incomodada com o álbum, simplesmente não se esforçou para submetê-lo ao departamento de censura do governo militar. Um tempo depois, Leno foi informado que a master do disco seria apagada para reutilização.

Tudo mudou em 1994, quando o jornalista e pesquisador Marcelo Fróes encontrou as fitas originais da gravação, o que permitiu que o próprio artista bancasse um lançamento independente no ano seguinte. 14 anos depois, em 2009, o álbum ganhou um relançamento pelo selo americano Lion Records. Em 2018, uma nova prensagem em vinil foi encomendada pelo Selo Fonográfico 180, e continua à venda. 

As músicas do álbum, executadas com o apoio dos grupos ‘A Bolha, Renato e Seus Blue Caps, os uruguaios dos Los Shakers, além do apoio vocal do Trio Ternura e dos Golden Boys, carregam diversas referências, como por exemplo Por que não?, com riff idêntico ao de All Right Now do Free, além de trazer alguns arranjos que depois seriam reaproveitados por Raul em seus discos. Convite para Ângela tem muito do que depois se tornou Sapato 36. Marcos Valle tocou piano elétrico e contribuiu com a composição Pobre do Rei, em parceria com o irmão Paulo Sérgio Valle. É fácil de se identificar o sarcasmo nas letras que também caracterizou a obra de Raul Seixas. Em Sr. Imposto de Renda dá até pra ouvir um évéribódi nitidamente raulseixístico.

Algumas outras referências são identificáveis, como o clima Pet Sounds / Sgt. Peppers no arranjo de Lady Baby, o country-western de Não Há Lei em Grilo City e os hard-rocks Peguei um Apollo e Sentado no Arco Íris (mérito d’A Bolha, que fez coisas de qualidade semelhante em seus próprios álbuns).Até pouco tempo o disco estava disponível nas plataformas de streaming, mas surpreendentemente saiu um pouco antes de eu gravar o Raio-X. Mesmo assim, dá para encontrá-lo no YouTube, como no link abaixo.

Ouça Vida e Obra de Johnny McCartney aqui


Por Brunno Lopez

CÃES E GATOS

Este álbum contém todos os ingredientes necessários para se definir, tranquilamente, que estamos diante de uma joia preciosa do Hard Rock. 

Cada uma das doze canções despeja uma grande dose de melodias viciantes, como seria de se esperar de artistas deste gabarito. Os vocais de grande harmonia são usados ​​generosamente para acentuar os ganchos de cada música, sem soar muito “doce”. 

Com uma produção  cristalina e perfeitamente balanceada, é aqui que podemos reverenciar o poder de interpretação de Jeff Scott Soto e a genialidade de Marcel Jacob, o baixista mais incrível que o mundo já teve a honra de ver tocar.

Desde Humaninal, era quase impossível imaginar que eles poderiam criar um disco com tantas canções impecáveis e variadas no universo do groove hard rock.

Mas acredite, eles conseguiram. 

2003 certamente foi um ano em que o rock teve orgulho dos representantes do seu estilo. E tudo isso se deve ao Talisman e seu impactante “Cats and Dogs”

Link Para Ouvir


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana