Newsletter – Silêncio no Estúdio Vol. 83

22 de Fevereiro  de 2020


Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time destaca lançamentos que têm feito suas cabeças. 


LANÇAMENTOS

Bruno Leo Ribeiro

NASCEU PRA ISSO

Acho que toda newsletter eu começo falando alguma coisa do tipo, “Todo mundo sabe que sou muito fã da (insira aqui uma banda ou artista).” E dessa vez não poderia ser diferente. Eu, que sou muito fã dos franceses do Gojira, tinha que escrever sobre o novo single deles na newsletter. 

Ano passado, a banda lançou um clipe e um single chamado Another World. Não que a música não seja boa, mas eu esperava um pouco mais. Como o disco não saiu ano passado, achei que a banda daria uma pausa e voltaria depois que a pandemia melhorasse pra gravar um disco inteiro.

Me enganei. A banda gravou o disco inteiro e semana passada lançou o segundo single chamado “Born For One Thing”. Aí sim!!!!

Essa música é o Gojira que a gente gosta. Peso, transições inesperadas, riffs de guitarra criativos, bateria poderosa e uma voz cheia de emoção.

O disco foi produzido pelo próprio guitarrista e vocalista Joe Duplantier e foi mixado pelo mestre / monstro sagrado Andy Wallace, que mixou o Roots do Sepultura (que fez 25 anos semana passada!!!) e muitos outros clássicos do rock e metal.

O disco terá 13 músicas e o hype está enorme, pelo menos pra mim. Já até fiz a pré compra do disco que vai sair no dia 30 de abril. 

Enquanto isso. Curtam o clipe e essa nova música pra começar a segunda feira cheia de energia com a paulada na orelha do Gojira!

Veja o Clipe aqui


Vinícius Cabral

A SUTILEZA DA IGNORÂNCIA

Vivemos a era das singer-songwriters. Não tenho nenhuma dúvida disso. Uma tradição ligada ao folk rock e ao indie, sempre habitada por muitas mulheres, com a bênção de algumas precursoras – uma das quais recentemente comemorou 50 anos de lançamento do seu clássico Tapestry: ela mesmo, a Carole King.

Mas, história à parte, da metade final da década passada pra cá, o que se vê são compositoras-cantoras de envergadura e talento fora do comum reinarem quase que absolutas na cena (quem acompanha nosso podcast sabe que tô de olho nisso a tempos). Pois bem. Tamara Lindeman – ou Tamara Hope, como a artista se identifica em sua carreira como atriz- segue essa linha. À frente da banda The Weather Station, a artista chega ao seu ponto mais alto como compositora neste álbum, Ignorance. Sensacional, cheio de camadas e subtextos apaixonantes.

Acontece que, de primeira, o disco simplesmente não me pegou daquele jeito que a gente espera. Superficialmente, fiquei preso às melodias, algumas bem familiares e genéricas. Se por um lado isso traz uma enorme vantagem (grudar as músicas na cabeça), por outro você fica buscando o que há “por trás” disso. Geralmente, quando não há nada, é aí que eu identifico o que chamo de “indie genérico”. Não é o caso.

Ignorance é uma obra densa. Se a voz grave e profunda de Tamara, bem como algumas batidas meio 00s pós-punk imediatamente lembram grupos como Yeah Yeah Yeahs, a riqueza dos arranjos e a performance de Tamara chutam a associação pra bem longe. E digo isso após assistir todos os clipes do disco também (tarefa que recomendo fortemente). No de Robber, por exemplo, temos imagens inesquecíveis de uma cena bizarramente contemporânea: a cantora em uma floresta, rodeada por personagens “da Internet” com seus celulares, e uma equipe de TV (liderada por um repórter que parece uma cruza de Donald Trump com Ben Shapiro), para quem Tamara canta os versos que marcam a canção: I Never Believed in The Robber. Forte pra caralho.

Musicalmente, esta mesma canção (faixa de abertura), já entrega as cartas: beat enérgico nessa lógica meio pós-punk revival, com um arranjo milimétrico e luxuoso, que chega a contar com um saxofone, marcando pontualmente a música ao lado de um piano elétrico e de guitarras cirúrgicas. Quando se presta atenção na letra, não há dúvidas: é uma das canções mais potentes do ano. As demais letras, inclusive, seguem o tom ácido, alertando para a urgência de tomarmos alguma atitude em relação ao colapso global, tão iminente, mas tão evitável. Tudo, claro, de uma forma poética, elegante (trata-se da ignorância humana, afinal, em uma rara e precisa crítica poética). Quanto mais se aprofunda na obra, maior a certeza de que não é um trabalho qualquer, a ser pendurado em uma biblioteca virtual qualquer sem maiores pretensões. 

A tracklist traz destaques óbvios: Tried  to Tell You, Parking Lot, Separated. De cara, parece que todas as canções são hits. Fruto, talvez, dessa familiaridade meio genérica que se observa nas melodias em primeiras audições.

Eu já estou na quarta, e posso dizer: há muito aqui para além da superfície. Assim como suas contemporâneas Cate Le Bon, Sharon Van Etten e Weyes Blood, Tamara Lindeman utiliza alguns clichês do indie para nos trazer uma obra delicada, meticulosa, cheia de nuances, letras e harmonias memoráveis.

Esse tem que ouvir! No mínimo 4 vezes. 

Ouça Ignorance aqui 


Márcio Viana

QUE BELO E ESTRANHO DIA PRA SE TER ALEGRIA

Eu juro pra vocês que o Vinícius Cabral e eu não combinamos o tema da newsletter desta semana, mas como tenho o privilégio de ler os textos dos colegas antes da newsletter chegar à caixa de e-mail dos apoiadores, tive a grata surpresa de poder escrever este texto com uma bela introdução sobre as singers-songwriters, o que me permitiu ir direto ao ponto: estamos ainda no segundo mês de 2021, mas o álbum de Jillette Johnson, It’s a Beautiful Day and I Love You, tem grande chance de estar em minha lista de melhores do ano. Pode ser só empolgação de início de ano, mas eu realmente gostei muito das canções e da produção do disco e é um dos que mais ouvi nos últimos dias.

Jillette Johnson compõe desde os oito anos de idade. It’s a Beautiful Day and I Love You é seu terceiro disco, e possivelmente o mais coeso. Apesar disso, é um álbum de canções. E que canções!

O álbum abre com Many Moons, naquele clima psicodélico de seu piano e texturas, para ir ao longo de seus pouco mais de 30 minutos passear por estilos como o country pop em Annie, o soul em Graveyard Boyfriend, o rock alternativo com acento pop-rock em Jealous e uma pegada bluesy em What Would Jesus Do (essa, a melhor do disco).

Se me permitem a comparação, um amigo disse no Twitter que este é o disco que Sheryl Crow está devendo desde The Globe Sessions. Quem diria que seria Jillette Johnson quem pagaria essa dívida?

E tá bem paga.

Ouça It’s a Beautiful Day and I Love You aqui 


Brunno Lopez

HISTÓRIA DO AMOR

Eu talvez tenha dado um spoiler do que escreveria aqui lá no nosso grupo do Whatsapp. Porém, na hora eu ainda não tinha me debruçado devidamente para a simbologia dessa música/clipe.

O Bon Jovi passou a maior parte da sua carreira falando de amor – assim como a maioria das bandas de Hard Rock oitentistas – mas a reflexão que Jon traz aqui, em “Story of Love” é de uma profundidade que nos faz ouvir na mesma velocidade que nos faz chorar.

O amor em formato de família, de pais que amam filhas e mães que amam filhos. Essa materialização em forma de nascimento de um ser humano que passa a crescer ao seu lado e ver o mundo junto com você. Os laços que se cria e as histórias que se coleciona são de fato mais memoráveis que qualquer aventura que se orgulhe com estranhos.

Eu não sou pai, ainda sou filho. E hoje, me sinto pai do meu próprio pai e isso talvez seja uma história de amor. E talvez ninguém esteja pronto pra isso, como não estou. Mas amo. E este é o verbo que Jon quer ensinar ao enxergar as coisas dessa forma. 

Das fotos familiares que viram lembranças quase inesquecíveis e dos papéis que se invertem. Dos conselhos que não escutava e hoje dou. Ou tento dar.

Enxergo essa canção como uma forma de tentar eternizar as relações que, de fato, genuinamente desejamos que durem para sempre. Ou que durem tempo suficiente para que possamos consertar tudo o que não deu muito certo.

Num dia estamos num berço e no outro estamos pedindo para que eles tomem seus remédios direitinho e se alimentem bem pois não podemos mais abraçá-los durante a semana.
Essa é a história do amor?

Talvez seja.

Pois talvez seja a única que todos saberão contar sem precisar se inspirar na história de ninguém.

Assista aqui 


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana