18 de Janeiro de 2020
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time destaca as principais notícias, curiosidades, acontecimentos relevantes e/ou inusitados do mundo da música. Claro que, cada um à sua maneira, e abordando sempre o universo musical de sua predileção.
NOTÍCIAS
Vinícius Cabral
NOTÍCIA VELHA (MAS EM ALTA FIDELIDADE)
Em 2020 estreou pela Hulu um remake da obra High Fidelity, romance original de Nick Hornby, transformado em filme em 2000 com direção de Stephen Frears e, agora, adaptado para o formato série. Infelizmente, a série já chegou cancelada ao Brasil, o que é altamente frustrante e inacreditável. Basta dizer que a adaptação foi tão bacana que daria pra render umas 5 temporadas sem nenhuma encheção de linguiça.
Para respeitar o conceito dessa fraquia tão legal, vou fazer uma pequena lista com Os 5 motivos para vocês assistirem High Fidelity:
1- A série transforma o protagonista Rob em uma mulher. E não se trata somente de uma mudança de gênero para satisfazer necessidades comerciais. A mudança nos permite lançar um olhar totalmente novo para esse perfil “nerd musical”. O Rob homem era extremamente arrogante e babaca ao esbanjar, ainda que de forma blasé, seu imenso repertório musical. Na pele de uma mina, ao invés de arrogância o que vemos é um profundo conhecimento, transmitido apaixonada e respeitosamente, mas sendo recebido com desconfiança ou desinteresse (afinal, mulheres não podem conhecer mais de música do que homens, não é mesmo?). Mas esse é só um exemplo. Há sutilezas na construção da personagem, na forma com que ela batalha com a felicidade afetiva, etc.
2- Isso me levou a pensar sobre como seria legal termos mais mulheres na crítica, na produção musical, na loja de discos e em diversas outras atividades do mundo da música. Esse processo está em curso, e faz parte de uma mudança de comando mesmo, extremamente necessária pra gente conseguir mudar essa cena tão dominada por homens (quase sempre sem ideias novas).
3- Ah….a loja de discos. A gente poderia até imaginar que uma obra que se passa uma loja de vinil não faria sentido em 2020, mas faz…e muito! A verdade é que, se por aqui a tão alardeada volta do vinil ainda engatinha, nos EUA o negócio é forte. Verdade seja dita, aqui também a coisa começa a decolar. A Acervo Discos, loja vizinha minha aqui em BH, anda lotada, e o que os donos me disseram foi que “nessa pandemia as pessoas descobriram que ainda existe disco de vinil”. Adorei a notícia. Ainda são produtos caros, que afastam uma popularização mais radical, mas a gente pode (e deve) chegar lá. O futuro é mesmo conciliarmos a música em formatos antigos com o streaming e suas formas virtuais.
4- Novas referências! Se a obra original é cheia de referências, em especial aos clássicos do rock e aos cânones dos anos 80, a adaptação atualiza também as centenas (sepa milhares) de citações. Há espaço agora para Frank Ocean, Pixies, Dead Kennedys, Tyler The Creator, Jay Reatard, Notorious BIG e diversos artistas de fora do eixo estadunidense, com destaque até para Os Mutantes. É claro que a série ainda se mostra mais voltada ao eixo do norte, mas pra democratizar mais do que isso só quando nós fizermos nossas próprias séries por aqui também (e já estamos começando, com essas investidas da Netflix em bandas e artistas da america-latina).
5- A Zoë Kravitz. Filha de um homem lindo com uma mulher maravilhosa (Lenny Kravitz e Lisa Bonet – que faz um papel secundário no filme de 2000), essa mulher é um fenômeno da natureza. Grande atriz, e uma das mulheres mais bonitas do planeta. Sem nenhum defeito, a gênia ainda nos deixou um comentário extremamente ácido, se referindo ao cancelamento da série pelo Hulu: “At least Hulu has a ton of other shows starring women of color we can watch. Oh wait.”. Segura essa, Hulu.
Para mim, que ando tão desencantado com séries ultimamente, High Fidelity foi um refresco apaixonante.
Márcio Viana
SEPARAR O ARTISTA DA OBRA
Morreu neste domingo Phil Spector, renomado produtor musical responsável por discos de nomes como Ike & Tina Turner, The Ronnettes, Ramones, John Lennon e famoso também por ter sido chamado para finalizar a produção de Let it Be, o derradeiro lançamento dos Beatles, em 1970.
Ainda como produtor, Spector deixou sua marca ao implantar um sistema conhecido como wall of sound, que é exatamente o que o nome diz, onde várias camadas de instrumentos são adicionadas, formando uma “parede” de sons.
Ronnie Spector, líder das Ronnettes e ex-esposa do produtor, postou no Twitter que Phil era um excelente produtor, mas um péssimo marido.
Mas o fato mais marcante sobre Phil Spector, que macula sua genialidade como produtor, é o fato dele ter sido condenado em 2003 pelo assassinato da atriz Lana Clarkson.
Voltando então ao que já discutimos no episódio #48 – Dá pra separar o artista da pessoa?, é inegável que Spector construiu um legado inestimável. Mas ao mesmo tempo, considerando os relatos de quem conviveu com ele e o desfecho que levou ao fim de sua carreira, ficou difícil respeitá-lo. Talvez seja mais fácil pelo fato de o produtor não ser frequentemente a figura central de um disco, mas Phil Spector é daqueles profissionais com assinatura. Mas infelizmente ele resolveu borrá-la.
Ilustro este texto com uma foto das Ronnettes, do sucesso Be My Baby, uma das primeiras canções gravadas sob a técnica do wall of sound.
Spector tinha 81 anos e foi diagnosticado com Covid-19 há um mês.
Assista aqui The Ronnettes com Be My Baby
Bruno Leo Ribeiro
AINDA BEM QUE NEM GOSTAVA ANTES
Seguindo na mesma onda do texto do Márcio, sobre separar o artista da obra, essa semana o guitarrista da banda de heavy metal americana Iced Earth, Jon Schaffer, foi preso por estar no meio daquela multidão que invadiu o Capitólio e tentou um golpe pra manter o Trump como presidente.
É o tipo de notícia que você não queria que existisse, mas já que teve, a gente comemora. Um camarada que acha OK marchar ao lado de gente fazendo saudação nazista, segurando bandeira dos confederados e usando casaco de supremacia Branca, tem mais é que se foder.
“Ah, mas nem todo mundo ali é supremacista Branco ou Nazista, tinham famílias que não invadiram”. Bem, as pessoas têm todo o direito de protestar, mesmo sendo um protesto por uma causa que é uma mentira desde o início, mas se você olha pro lado, vê que no meio de todo mundo tem nazista e supremacistas, você no mínimo vai embora pra casa. Tudo bem se isso acontecer, mas não foi o caso do mau caráter do Jon Schaffer do Iced Earth.
Segundo o Wall Street Journal, Schaffer foi acusado de envolvimento em violência em um prédio restrito e conduta desordeira, entre outros crimes. Parece que ele enfrenta seis acusações no total.
Ele foi fotografado no tumulto usando um chapéu proclamando que era membro vitalício do Oath Keepers, um grupo de extrema direita considerado uma organização extremista pelo Southern Poverty Law Center.
Depois da sua prisão, os membros restantes do Iced Earth divulgaram um comunicado por meio da conta do baixista Luke Appleton no Instagram, denunciando as ações dos manifestantes.
“Alguns de vocês têm se preocupado com o nosso silêncio. Precisamos de algum tempo para processar adequadamente as informações e descobrir alguns fatos antes de fazer uma declaração. Nós absolutamente NÃO toleramos nem apoiamos distúrbios ou atos de violência nos quais os manifestantes estiveram envolvidos em 6 de janeiro no prédio do Capitólio dos Estados Unidos. Esperamos que todos os envolvidos naquele dia sejam levados à justiça para serem investigados e responder por suas ações ”.
Bem.. uma nota oficial bem genérica. Demoraram demais pra soltar. Eles sabem que o guitarrista era supremacista, não precisavam de “mais fatos”. Enfim… é dessas bandas que nunca gostei e agora posso falar que com orgulho que sempre achei ruim, ainda mais pelo guitarrista ter sido preso por ser um supremacista / golpista / terrorista.
O metal tem muito conservador e isso ficou claro nos últimos dias. Muita gente tá querendo ver um posicionamento das bandas sobre o que aconteceu nos EUA e muitas nem falaram nada. Eles sabem que se falarem algo contra, vão perder boa parte dos fãs. Não é mesmo Blind Guardian? Estamos aguardando.
Brunno Lopez
PAPA ROACH PARTINDO PRA PORRADA
Não pense em violência imediata ao ler o título.
Trata-se apenas do novo single dos californianos de Vacaville que lançaram uma parte da canção “Stand Up” no comercial do UFC, em parceria com a ESPN.
Depois de um 2020 de muito trabalho para o lançamento do disco com previsão de sair este ano, a impressão que se tem ouvindo um pouco dessa faixa é a de que o Papa Roach está vindo com tudo. O baterista Tony Palermo disse que a música parecia ter sido escrita para o UFC.
Porém, o que todos esperamos é que não só a música – mas também o álbum todo – tenha sido feito para os fãs.
É a pancadaria que todos esperam.
Assista aqui
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana