07 de dezembro de 2020
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. A newsletter desta semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!
IT’S A CLASSIC
Bruno Leo Ribeiro
CRIANDO O INFERNO
Nada melhor que começar a semana entrando no clima do episódio que sai nessa quarta-feira. O próximo episódio é mais um dos nossos episódios em formato de áudio documentário. Dessa vez é a triste história sobre a morte do Jam Master Jay.
Jam Master Jay ficou conhecido como um dos DJs mais inovadores e criativos da história do Hip Hop. Ele ajudou a moldar o som que fez o Run D.M.C. um fenômeno não apenas nacional, mas global.
O 3° disco da banda chamado Raising Hell de 1986 foi uma explosão. Produzido pelo Rick Rubin, foi disco que fez o Run D.M.C. ficar mais conhecido no público fora do nicho do Hip Hop e também ajudou a resgatar o Aerosmith. Isso mesmo. O Aerosmith tava em uma decadência e essa regravação fez a banda retornar com tudo com o Permanet Vacation do ano seguinte. Foi nesse disco que temos a releitura e regravação de Walk This Way do Aerosmith junto com os integrantes do Run D.M.C.
Essa mistura não foi só importante pro Hip Hop, mas também pro Rock. Dali vem o New Metal, dali vem o Rap Rock, dali vem a evolução.
Discos assim mudam a história da música. Disco assim marcam vidas e mudam vidas.
Uma pena que em 2002 o DJ Jam Master Jay foi assassinado no seu estúdio em um caso que ficou em aberto por mais de 18 anos. Será que finalmente haverá justiça?
Enquanto isso, vamos ouvir a genialidade do Jam Master Jay, da banda e do disco.
Vinícius Cabral
CLIQUES MAIS DO QUE MODERNOS
Agora que já lançamos o episódio do Soda Stereo, posso investir em mais uma polêmica sem dó: por mais incrível que seja, Soda não está nem perto de ser o maior destaque do rock argentino. Pode até ser, comercialmente, em termos de repercussão ou de fama. Mas musicalmente não é. E esse é um consenso.
Cheguei em Buenos Aires achando que só haviam os Soda e o Spinetta, e me ferrei. Na primeira loja de discos que entrei o cara tacou na minha mão Clics Modernos do Charly, dizendo: Charly és el gran gênio, e me explicando logo em seguida que o maior álbum do rock argentino é o Artaud (que já passou por aqui), mas o Clics Modernos vem em um segundo lugar, bem apertado. Esse é outro consenso.
Pois é, eles são bons em consensos. Da Rolling Stone ao tio da loja de discos, passando por fãs anônimos e jornalistas, todos parecem concordar em dizer que Charly García é um capítulo à parte, e que Clics Modernos é o disco que deixa isso claro com mais facilidade. Pra mim, porém, não foi tão fácil saber qual disco indicar e apontar tão rapidamente como “o maior”. Seus álbuns com as bandas Sui Generis e Serú Girán guardam pérolas inesquecíveis, e os três primeiros álbuns solo do artista (lançados um após o outro: 82, 83 e 84) são todos absolutamente perfeitos. Porque então começar com este Clics Modernos, de 83?
Pode ser pela gama de gêneros que o Charly, um compositor clássico na pele de um rockstar, consegue dominar em apenas 9 faixas. Pode ser pelas texturas, guardadas a associação com o título, absolutamente modernas – nota importante do editor: Charly comprou uma nova gama de instrumentos e gravou o disco em NY, com um “time” pesadíssimo de músicos que contratou localmente (incluindo o Pedro Aznar que andava por lá estudando), gravações no mítico Electric Lady Studios e engenharia de som de Joe Blaney, que já tinha trabalhado com The Clash, Prince, Keith Richards, etc. Pode ser por reunir, em poucas faixas, as melhores características mostradas anteriormente em tantos projetos preliminares, agora amadurecidas e cristalizadas em uma obra inacreditavelmente coesa.
Pode ser, no fim das contas, porque esse é um disco inominável, gigante, absurdo, perfeito.
A essa altura Charly já era um dos poucos rockstars autênticos da história da música que não empunhava uma guitarra. A verdade é que o artista era (e é) um “Synth Hero”, mesclando pianos elétricos e acústicos com sintetizadores modernos, muitas vezes em uma só canção. A essa habilidade incomum Charly juntava neste disco o apuro melódico escandaloso que já demonstrara em canções do Serú Girán (como Seminare, Eti-Leida e Viernes 3AM), nas obras primas: Dos Cero Uno (Transas), Plateado sobre Plateado (Huellas en el Mar), No Soy un Extraño e na magnífica e inesquecível Ojos de Video Tape (que fecha o disco).
Ainda há lugar aqui para rocks diretos e marcados pela new wave (Bancate ese Defecto e No me Dejan Salir), mostrando um artista confortabilíssimo com a própria condição de rockstar, mantida às custas de muita loucura, polêmica e quartos de hotéis destruídos.
E é deste disco, claro, uma das obras mais importantes do cancioneiro argentino. A emblemática Los Dinosaurios. Acontece que além de ser harmônica e melodicamente impecável, a música fala (diz seu autor que, inconscientemente) do trauma então recente da sangrenta e horrorosa ditadura militar do país vizinho. Na letra Charly vai enumerando aqueles que podem desaparecer: as pessoas que se ama, os cantores, os que estão no rádio, os que estão na rua. Como o gênio que é, o artista termina as estrofes, porém, invertendo o jogo. “Pero los Dinossauros” (aqueles déspotas, aquele mundo velho) “… VAN a desaparecer“. Sim, Charly, eles vão. Estão aí até hoje, nos atormentando, mas um dia vão.
À frente de seu tempo em todas as ocasiões, Charly nos oferece nesta canção (mas em todo o álbum, na verdade) mais do que uma visão utópica; é uma visão de humanidade, de arte e de poesia, que talvez ainda não tenha se realizado, mas que podemos acessar sem medo de sonhar nesses cliques ainda tão modernos.
Márcio Viana
SEMPRE MAIS
É muito curioso observar que existem artistas que parecem ter controle de sua própria carreira a ponto de terem direcionado seus esforços para escolher o exato lugar que querem ocupar no mainstream. Um grande exemplo de artista que detém esta condição é Marisa Monte.
Marisa iniciou a carreira de um modo, digamos, pitoresco: seu primeiro disco, MM, foi gravado ao vivo, e é um disco em que a cantora atua como intérprete. Mas algo já se desenhava ali, sobretudo pela escolha de repertório, que incluía uma versão bastante particular de Comida, dos Titãs.
Pois foi com os Titãs que Marisa Monte encontrou sua “turma”, como ela mesma dizia à época do lançamento de seu segundo disco, o excelente Mais.
Iniciou-se ali uma produtiva parceria com Arnaldo Antunes, que segue até os dias atuais, inclusive no trio Tribalistas, completado pelo grande Carlinhos Brown.
Além de Arnaldo, outro Titã esteve presente nas parcerias: Nando Reis, com quem Marisa chegou a ter um relacionamento, e com quem compôs músicas para este disco e para o posterior, Verde-anil-amarelo-cor-de-rosa e carvão, além de músicas para outros artistas gravarem, como Onde Você Mora?, sucesso do Cidade Negra.
Mais, produzido por Arto Lindsay, abre com Beija Eu, parceria com Arnaldo Antunes que se valeu bastante do início da MTV para levar a faixa ao topo das paradas, sobretudo pelo belo jogo de palavras cantarolável, um dos grandes talentos do compositor. Diariamente, de Nando Reis, teve destino parecido, sempre frequentando os primeiros lugares no Disk MTV.
Reis ainda divide a composição com Marisa em outras canções, como Ainda Lembro, gravada com Ed Motta dividindo os vocais com a cantora, repetindo o dueto iniciado em I heard it through the grapevine e These Are The Songs em shows.
A porção intérprete ainda aparece em vários momentos, com destaque para De Noite na Cama, de Caetano Veloso, famosa pela gravação de Erasmo Carlos no clássico Carlos, Erasmo.
Sozinha, Marisa Monte compôs um de seus maiores sucessos, Eu Sei (Na Mira).
O fato é que à época do lançamento do disco, há quase trinta anos (!!!), a cantora já se mostrava uma das grandes artistas da MPB, e ao mesmo tempo sempre foi discreta em seus passos. Fato é também que com Marisa, as coisas nunca são menos, nunca são mais ou menos. Tudo é sempre Mais.
Brunno Lopez
ARDE EL CIELO
O Maná já havia encenado uma das maiores reviravoltas da história do pop rock latino com o disco “Amar Es Combatir”, lançado em agosto de 2006 que, para todos os efeitos, trazia os elementos que fizeram a banda mexicana reinar suprema ao longo dos anos 90.
Um verdadeiro fenômeno mainstream que flutuava entre rock acústico melódico, baladas com violão clássico e um shuffle reggae-rock que faria o The Police se sentir representado, só que em espanhol.
E após esse disco quebrar todos os recordes possíveis, era apenas uma questão de tempo para que um registro ao vivo viesse suceder todo esse sucesso: “Arde El Cielo” surgia não apenas como uma recapitulação em show de Amar Es Combatir, mas uma recapitulação do ressurgimento de uma carreira.
A monstruosa turnê desfilava grandes sucessos e mostrava a evolução do grupo que reinava altivo desde sua explosão em meados dos anos 90.
Gravado ao vivo em duas noites históricas no El Coliseo de Porto Rico, enxergamos uma banda coesa e madura, executando com euforia uma coleção de hits que pavimentaram sua carreira.
Além delas, duas faixas inéditas de estúdio também fizeram parte da tracklist. Uma delas, “Si No Te Hubieras Ido”, já estreou no topo do Hot Latin Charts.
De qualquer forma, “Arde El Cielo” é um legítimo souvenir pós-turê agradável: leve no repertório recente e também uma antologia nostálgica de uma das maiores bandas de rock do México, e por que não, do mundo.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana