Newsletter – Silêncio no Estúdio Vol. 68

09  de Novembro  de 2020


Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. A newsletter desta semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!


IT’S A CLASSIC

Bruno Leo Ribeiro

LEVANTANDO DA SEPULTURA

Semana passada o Márcio fez o episódio sensacional sobre a Geografia Musical de Brasília. E já puxando essa inspiração, nessa quarta-feira tem episódio novo sobre o Rock Nacional. E como é que tá isso aí?

Além da gente falar de como começou o Rock no Brasil, passamos pelas décadas e algumas bandas e no meio do debate surgiu a frase, “o Sepultura é a maior banda Brasileira conhecida no mundo”.

É uma afirmação grande demais? É claro! É passional? Com certeza! Tá errada? De maneira nenhuma! 🙂

Minha primeira lembrança do Sepultura foi com o disco que eles gravaram junto com o Overdose, o Bestial Devastation. Meu irmão tinha esse disco e eu escutava de vez em quando, mas nunca me pegou. 

Os anos se passaram e eu nem me liguei mais tanto no Sepultura. Era criança né?

Mas quando o Sepultura lançou o Arise em 1991 eu tinha 10 anos e tava começando a virar metaleirinho de comprar a revista Rock Brigade todo mês. (Nessa época, meu irmão que é 11 anos mais velho que eu casou e saiu de casa e eu perdi o meu fornecedor de discos).

Eu não lembro exatamente, mas acho que só fui ouvir o Arise inteiro em 92 ou 93. Em casa não tinha ainda tocador de CD e meu primeiro CD foi o Fear of the Dark do Iron Maiden, que acho que comprei com dinheiro da mesada em 92 ou 93. Eu comprei e fui na casa de um amigo pra gravar uma fita do CD :).

O Arise foi um dos primeiros CDs que comprei logo em sequência e nessa época já tinha tocador de CD em casa (um CCE que era vagabundo, mas resolvia).

Do Arise, só conhecia mesmo o cover de Orgasmatron do Motorhead que tinha numa dessas fitinhas com compilados gravados dos amigos.

Quando peguei o Arise e coloquei pra tocar a primeira vez fiquei chocado! A sequência inicial com Arise, Dead Embryonic Cells, Desperate Cry e Murder, é um das melhores sequências de abertura de um disco de Metal que já ouvi.

O disco todo é perfeito. Gosto de absolutamente todas as músicas. Ali foi quando o Sepultura falou pro mundo, “Aqui é Brasil, porra!”.

E eu mal sabia que ainda tinha o Chaos AD e o Roots por vir. 🙂

Ouça o Arise aqui


Vinícius Cabral

FALE MAL DE MIM

E eis que o geografia musical sobre Brasília me transportou para um momento mágico da minha adolescência. Precisamente para o ano de 2000, quando os Autoramas lançam seu debut, Stress, Depressão & Síndrome do Pânico.

Eu ainda não tinha sido acometido por nenhum desses males (passei pela síndrome do pânico por volta de 2008), mas o disco me atingiu como uma bomba, e segue sendo um dos meus álbuns do coração do rock brasileiro.

A relação com Brasília vem com Gabriel Thomaz, que já tinha feito algum sucesso na cena da cidade com a também ótima Little Quail And The Mad Birds – como o Márcio conta no episódio. Hitmaker, Gabriel já havia escrito canções para outros artistas, incluindo o hit absoluto dos Raimundos, I Saw You Saying, e estava credenciado para tentar qualquer parada, inclusive a de mesclar jovem guarda, punk, surf music e rockabilly nesse clássico esquecido do rock nacional.

Já formada no Rio de Janeiro, os Autoramas contavam nesse disco com seu lineup original: Gabriel, Simone e Bacalhau (ex Planet Hemp). Um power trio de responsa, que apresentava canções tão simples quanto inesquecíveis: Carinha Triste, Eu Não Morri, Fale Mal de Mim, Agora Minha Sorte Mudou, Tudo Errado, entre outras.

A banda segue firme até hoje, ainda que muito mais ligada ao rockabilly e já sem aquele espírito meio irresponsável e inovador que nos trouxe esse belo e marcante Stress, Depressão & Síndrome do Pânico.

Uma excelente pedida pra quando a gente ouvir alguém dizendo que o rock brasileiro pós anos 80 é medíocre. Nosso rock tem umas pérolas tão escondidas que quando a gente (re)descobre, dá uma alegria danada. E, como reza a máxima que abre o álbum, uma das coisas mais importantes para não deixarmos o rock nacional morrer é, sempre, continuar falando dele. 

“Fale mal de mim / Fale o que quiser de mim / Mas por favor não deixe que em nenhum momento / Eu deixe de estar no seu pensamento” 

Ouça Stress, Depressão e Síndrome do Pânico aqui


Márcio Viana

EU QUERO É TODO MUNDO NESSE CARNAVAL

A transição de Raulzito, líder do grupo Os Panteras, para o ícone Raul Seixas, deixou para trás um promissor terceiro personagem: o produtor fonográfico Raulzito Seixas. O fracasso comercial do grupo de rock liderado pelo cantor e compositor baiano, fez com que ele voltasse cabisbaixo à terra natal, até que um dia, por indicação do amigo Jerry Adriani, fosse contratado pela gravadora CBS com incumbência de compor canções e dirigir gravações de artistas do casting. Neste período, compôs para o próprio Jerry, para Leno & Lilian, Odair José, Diana, entre outros.

Ocorre que Raul não havia desistido de seu sonho de ser artista, e apesar do sucesso fácil ser bom para pagar as contas, havia a vontade de lançar algo original e inovador, e foi aí que surgiu o álbum A Sociedade da Grã Ordem Kavernista Apresenta Sessão das Dez, projeto gravado às escondidas dos diretores da gravadora, e surpreendentemente lançado. O disco, cheio das excentricidades, foi feito em conjunto com Miriam Batucada, Edy Star e Sérgio Sampaio, e a gracinha foi o princípio do fim da carreira de produtor de Raul.

Houve tempo para produzir, junto com Leno, Vida e Obra de Johnny McCartney, que no fim foi engavetado pela CBS, se tornando um clássico perdido, lançado posteriormente, após o artista conseguir recuperar os fonogramas.

Eu fiz essa introdução toda para falar da produção que considero a mais importante de Raul: Eu Quero é Botar o Meu Bloco na Rua, do amigo Sérgio Sampaio, um trabalho genial do cantor capixaba.

Conterrâneo de Roberto Carlos, Sampaio participou do Festival Internacional da Canção com No ano 83 em 1971 e com Eu Quero é Botar o Meu Bloco na Rua em 1972, e acabou contratado pela Phillips/Phonogram, por influência de Raul, que tinha acabado de assinar com a gravadora, desta vez como artista. E foi Raul quem produziu o disco de Sérgio Sampaio, uma pérola.

Com composições inspiradíssimas, todas de autoria do cantor, com exceção de Cala Boca Zebedeu, feita por seu pai, o maestro Raul Gonçalves Sampaio, o disco antecipa muito do que o amigo Raul Seixas se tornaria: é facilmente perceptível a influência absorvida pelo baiano no modo de cantar do capixaba. O próprio Raul aparece nos vocais de apoio em Viajei de Trem (desconfio que Trem das Sete bebeu desta fonte) e na faixa-título. E o produtor é o homenageado na vinheta final do disco, Raulzito Seixas, uma canção-incentivo de artista para artista.

O disco, como muitos dos clássicos incompreendidos, foi um fracasso de vendas à época do lançamento, e Sérgio Sampaio teve uma carreira pouco reconhecida, pela sua real grandeza. Uma pena. O cantor faleceu em 1994, vítima da mesma doença que levou Raul cinco anos antes, a pancreatite.

As músicas de Sérgio Sampaio ganharam regravações importantes, como a de Ney Matogrosso para Eu Quero é Botar o Meu Bloco na Rua.

Um trecho de Eu Sou Aquele Que Disse:

Eu tenho os dias contados

Um encontro marcado

E as mãos na cabeça

Eu tenho o corpo fechado

Que soltem as feras

Diante da mesa

Ouça Eu Quero é Botar o Meu Bloco na Rua aqui


Brunno Lopez

FICARIA NOVO MESMO SEM LAVAR

Em 1995 o rock brasieiro passou a ter as rédeas tomadas sem qualquer dificuldade por uns caras conhecidos por Raimundos.

E grande parte desse domínio foi em razão do disco “Lavô Tá Novo”. Aqui, a banda de Rodolfo e companhia desfilava todo o seu leque de hits, misturando o rock com as pitadas nordestinas que fizeram o som do grupo tão característico.

Gravado nos estúdios Mosh, em São Paulo, o disco foi produzido por Mark Dearnley, produtor norte-americano que já trabalhou com o Def Leppard, Black Sabbath e AC/DC.

Difícil imaginar quem não cantava “Eu quero é ver o oco” a plenos pulmões, ou quem não pegou o violão naquele famigerado churrasco dos amigos do colegial pra tocar “I saw you saying”.

As faixas variavam de temáticas e velocidades, mas a marca da banda brasiliense estava presente desde “Tora Tora” até “Herbocinética”.

Era o suspiro no meio da década de 90 que o rock precisava pra seguir em frente.

Ouça aqui o Lavô Tá Novo


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana