Newsletter – Silêncio no Estúdio Vol. 67

02 de Novembro  de 2020


Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time destaca lançamentos que têm feito suas cabeças. 


LANÇAMENTOS

Bruno Leo Ribeiro

CÁLCULO EXISTENCIAL

Que eu sou fanboy do Maynard James Keenan, tudo mundo sabe. Além da sua genialidade como vocalista e empresário do ramo de vinhos, ele tem várias bandas que adoro. A mais conhecida como certeza é o Tool, seu primeiro projeto que atingiu o sucesso nos anos 90. Criando uma geração de fãs, que me inclui, acabamos seguindo e acompanhando seus outros projetos musicais. Entre eles, o Perfect Circle e o Puscifer.

2020 está estranho, tá longo e está caótico. Essa loucura talvez tenha começado quando o mundo inteiro se fechou por conta do Covid-19. 

Ainda na oceania, fazendo uma turnê com o Tool, o Maynard acabou pegando Covid-19 ainda em fevereiro e ele conta que sente os seus efeitos até hoje como tosses aleatórias em alguns dias por 10 minutos sem parar. Ele conta mais sobre essa experiência no podcast do Joe Rogan que ele gravou semana passada (que você pode assistir aqui no YouTube antes de virar exclusivo do Spotify).

Além de contar sobre sua experiência pegando o “coronga”, ele fala sobre o lançamento do novo disco do Puscifer chamado Existential Reckoning.

Se você acha Tool muito complexo e progressivo demais, no Puscifer você vai encontrar um Rock Alternativo de muito boa qualidade que poderia muito bem fazer uma turnê com o Smashing Pumpkins. Então se você ainda não conhece a banda, vale começar como esse disco novo que tá sensacional. 

A banda conta como várias participações nas gravações a principal parceira do Maynard na banda e dividindo os vocais é a Carina Round, que já colaborou até com o Tears for Fears.

Comece a semana com esse lançamento e me diga o que achou 🙂

Ouça aqui o Existential Reckoning


Vinícius Cabral

LIVE FOREVER, BARTEES!

O rock foi inventado por negros. Ao longo do tempo, porém, assim como acontece com quase todos os gêneros que não levam a marca de “música negra”, ele foi sendo embranquecido. Até chegar ao ponto de acharmos que os seus subgêneros são majoritariamente brancos. O indie rock por exemplo sempre carregou a pecha de ser um estilo de (e para) garotos brancos de apartamento. O que é inaceitável. Observando sobretudo o indie rock estadunidense, o que se confere é a presença central de mulheres, negros, imigrantes latinos, etc. Apesar do indie ser, por diversos caminhos, um gênero afeito à diversidade, eu sei bem que, infelizmente, não é assim que ele é vendido para o público mais amplo.

É inclusive um saco iniciar esse texto falando da questão racial, mas esse é um assunto o que o próprio artista, Bartees Strange, ao promover seu magnífico e irretocável debut, tem falado nas entrevistas. Em uma apresentação recente na rádio New Music, o artista de Oklahoma desabafa sobre ter sido criado em um estado 85% caucasiano. Além do medo, instigado pela tensão racial daquele país, mantida por grupos racistas extremistas, ele compartilha o sentimento de se sentir só. Até porque, geralmente, era o único garoto negro nos shows locais de hardcore e punk. Mas o garoto não poderia seguir outro caminho que não fosse o do rock alternativo, certeza que – ele conta na mesma entrevista – se reforçou quando viu a seminal TV on the Radio se apresentar em um talk show. A banda, liderada por negros, foi uma das mais inventivas e completas do indie na década de 00. Baita influencia, que já valeria um play curioso no disco sensacional do estreante.

Sim, o disco é sensacional. Revive uma sonoridade dinâmica e inquieta que a própria banda inspiradora citada acima sabia atingir tão bem. Há canções aqui como Kelly Rowlands (quase um pós-trap desmontado, meio grime, meio trippy), Stone Meadows e Flagey God, que poderiam estar em discos de artistas e bandas tão díspares quanto, digamos, Broken Social Scene e Frank Ocean. Pois é. Bartees tem esse alcance sônico. Consegue ir do indie mais “cru” a uma balada de voz e violão (como a belíssima Far), passando por signos (desconstruídos) do rap contemporâneo.

Os momentos mais potentes do álbum, porém, estão na potência das guitarras, nas letras imagéticas e na dinâmica roqueira das canções. Em uma das melhores sequências do ano, o artista nos traz Mustang, homenagem à sua cidade natal – uma porrada de guitarras com um arranjo de babar e uma letra sensacional. Na sequência, a canção Boomer (até aqui no meu top 5 de melhores singles do ano) me deixou babando: guitarras a lá Dinossaur Jr., uma melodia que “puxa” maneirismos dos flows do rap (com direito a adlibs) e um refrão de matar. Uma canção perfeita. Indie rock com um frescor sensacional.

O mais engraçado, após ouvir Bartees falando, é que seu plano nem é mais ser o “strange”, mas “invadir” um espaço que é considerado (ou vendido como sendo) dominado por brancos. Eu só espero que ele invada absolutamente tudo. É provavelmente a melhor revelação do rock alternativo desde Snail Mail.

Como em suas raizes, o rock segue vivo, desafiador e … negro.

Ouça Live Forever aqui


Márcio Viana

TEMPORADA DE SINGLES/COVERS

Baixou nas redes esta semana uma releitura impressionante de Under Pressure, clássico do Queen com David Bowie (que já havia revisitado a música com participação de Annie Lennox no tributo a Freddie Mercury).

A versão une a improvável dupla Karen O, cantora dos Yeah Yeah Yeahs e o veterano cantor e instrumentista de country Willie Nelson. Karen contou que procurou Nelson para perguntar se ele assinaria uma carta ao Congresso que pedia ajuda para salvar locais de música independentes. Após a resposta positiva, a cantora resolveu tentar a sorte e perguntar se ele aceitaria uma colaboração conjunta. Para surpresa dela, ele aceitou prontamente.

Na cover, Karen O faz as partes que eram de Freddie Mercury, enquanto Willie Nelson se encarrega das partes originalmente gravadas por Bowie. 

É uma bela reinvenção, com violões, piano e pedal steel.

Por falar em versão, outro destaque é a cover de Tainted Love, música de 1964, composta por Ed Cobb e gravada por Gloria Jones naquele ano, mas que atingiu o sucesso mundial em 1981, na regravação do Soft Cell.

Na nova versão, o Sepultura empresta todo o seu peso para a sentimental letra da música, para servir à trilha da série Desalma, do Globoplay, que trata de temas sobrenaturais. Vale ouvir.

Ouça Under Pressure, com Karen O e Willie Nelson aqui

Ouça Tainted Love, com o Sepultura aqui


Brunno Lopez*

*AINDA DE FÉRIAS

Brunno Lopez ainda tá curtindo as férias merecidas. Semana que vem ele está de volta.


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana