Newsletter – Silêncio no Estúdio Vol. 64

12  de Outubro  de 2020


Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. A newsletter desta semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!


IT’S A CLASSIC

Bruno Leo Ribeiro

MCMLXXXIV

Clássico é clássico. Alguns são clássicos por marcarem nossas vidas. Outros são clássicos por nascerem clássicos. Outros são clássicos por envelhecerem bem.

O meu disco clássico da newsletter de hoje é um clássico por esses 3 motivos. Apesar dele ter sido lançado quando tinha ainda 3 anos, quando descobri esse disco com uns 8 ou 9 anos muita coisa mudou. Então tem o fator emocional aí.

Já falei aqui do 5150, primeiro disco do Van Halen com o Sammy Hagar, mas agora vou falar do último disco com o David Lee Roth, o 1984.

O disco já começa clássico com sua capa ousadíssima. Um anjo criança fumando um cigarrinho. Essa capa é icônica demais.

Curioso que eu tava numa fase de ouvir Van Halen de vez em sempre durante esse ano. Ele me leva pra lugares bons da lembrança. O disco ao vivo Right Here Right Now, escutei até furar, o “The Best of” também, mas quando você vai pros discos de estúdio que descobre a genialidade do Eddie Van Halen.

Nem vou ficar falando muito aqui sobre a morte dele… ontem bateu forte a dor. E com essa dor e saudade que vamos soltar um episódio essa semana em um formato novo de uma série chamada “Lendas da Música”. E o primeiro teria que ser sobre o Eddie Van Halen. 

Além de ser um guitarrista brilhante, ainda era um pianista ótimo. Com o passar do tempo o Eddie queria evoluir o som da banda usando sintetizadores e o David Lee Roth queria fazer um Rock mais cru.

No meio desse conflito nasceu o 1984. Um disco no meio dessa transição de ideias e evolução musical. O disco conta com os hits Panama, Hot For Teacher e a que todo mundo do planeta conhece, “Jump” (talvez a melhor introdução de teclado na história da música).

Falar do Eddie sem me emocionar é difícil. Estamos chegando naquele momento que os meus maiores ídolos da vida estão partindo deste plano. Eddie VH, Chris Cornell, Neil Peart… esses últimos anos tem sido pesadíssimos pra mim.

Mas pra celebrar o legado do gênio Eddie Van Halen, nada melhor do que colocar o 1984 pra tocar, fazer a posição de air guitar e dançar sorrindo. Sorriso que o Eddie sempre tinha tocando. E é com essa imagem que queremos lembrar dele. Tenham uma semana maravilhosa.

Ouça o 1984 aqui


Vinícius Cabral

A BALADA DE PRINCE ROGERS NELSON

Semana passada o clássico de Prince, Sign O’ The Times ganhou uma reedição megalomaníaca. Dessas de ostentação mesmo: 8 discos, mais de 90 faixas. Um deleite para os fãs mais fervorosos do disco.

Pra mim não passa muito de uma curiosidade digna de nota. Apesar deu ser  irremediavelmente apaixonado pelo álbum (há um bom tempo já), sempre sou meio cético com relançamentos tão grandiosos, e definitivamente acho que esse formato não encontrou ainda um “gancho” interessante na era do streaming. Tenho falado isso desde que lançaram a coletânea definitiva do SMiLE, disco perdido dos The Beach Boys em 2011 (mas essa já é pauta pra um momento bem mais elaborado no futuro). Se fazia sentido adquirir um pacote com diversos discos, encarte, guias legais, entrevistas, etc, isso no formato virtual se perde totalmente, nos colocando diante de uma infinidade de faixas e horas e horas de reprodução que dificilmente vamos encarar dentro de um aplicativo (convenhamos!).

Mas o relançamento megalomaníaco serviu, ao menos, para me fazer reouvir entusiasmadamente o lançamento original. Sign O’ The Times é o álbum definitivo de Prince. Uma obra que agrega a visão criativa do artista de forma total. Sua fusão única de funk music e R&B com as linguagens modernas do new wave, do rock e até mesmo do hip hop ainda em seu nascedouro, por assim dizer, ficou para a história como a base que formaria tantos e tantos artistas ao longo da década de 80 (e entrando nos 90 enfaticamente). Fato é que, ouvindo esse disco hoje, fico com a impressão de que Prince inventou todo o “jogo”. As batidas eletrônicas dançantes de It, U Got The Look e I Could Never Take The Place Of Your Man, hits absolutos, forjaram a identidade do pop da época (não esqueçamos que se trata de um álbum de 1987) – Michael Jackson, Madonna e afins que o digam.

Além de tão conectado com as novas possibilidades do pop oitentista – e de se colocar à frente delas em tantos sentidos – o disco parece também trazer um artista no auge de sua potência lírica e de performance. The Ballad Of Dorothy Parker, uma das melhores músicas da história do planeta, é uma daquelas crônicas quase eróticas – definitivamente provocativas – que só Prince poderia escrever, e que reforça o que digo. Dos synths “desafinados” (produto de uma modulação errada que “invadiu” o estúdio na gravação da música) aos sussurros e falsetes perfeitos do mestre, a música é uma aula; de composição, performance, letra, emoção. Uma aula pop, dançante e sensual. É a canção mais representativa de um álbum que segue se impondo – provavelmente- como o melhor disco dos anos 80.

Poderia gastar mais alguns parágrafos citando canções, arranjos e letras, mas nada disso faria justiça à memória trazida por um inusitado lançamento póstumo. Sei que o legado de Prince parece às vezes meio turvo, confuso. As personagens e controvérsias sempre falaram mais alto e, além disso, o artista não tem uma discografia fácil de se catalogar e acessar de forma mais crítica. Seja como for,ís segue como um óbvio e necessário destaque dessa longa trajetória do artista e, para a nossa sorte, o álbum está de volta às plataformas de streaming mais populares, depois do Jay Z ter “sequestrado” seu catálogo às vésperas de seu falecimento (também assunto para outro episódio).

Ouçam esse clássico. especialmente se não conhecerem Prince tão bem assim.

Ouça Sign O’ The Times aqui


Márcio Viana

UM SABOR DIFERENTE NO DEEP PURPLE

Na última semana, o único disco da quarta formação do Deep Purple completou 45 anos. Come Taste The Band, lançado em 10 de outubro de 1975, marcava mais uma ruptura no grupo, com a saída do guitarrista Ritchie Blackmore, reduzindo a participação de membros-fundadores aos dois únicos perseverantes, o baterista Ian Paice e o tecladista Jon Lord. Junto a eles, o cantor David Coverdale e o baixista e cada vez mais vocalista Glenn Hughes, ambos já presentes na formação desde dois anos antes, quando substituíram Ian Gillan e Roger Glover, respectivamente.

Bem, a história da saída de Blackmore, além de seu conhecido temperamento difícil, teve a ver também com seu descontentamento com os rumos que o grupo tomava à época: influência direta dos dois integrantes recentes, o grupo se aproximava cada vez mais da sonoridade soul/funk, com divisão de vocais entre ambos. Se o à época ainda inexperiente Coverdale ainda mantinha a banda com um pé no rock, o polivalente Hughes puxava o grupo cada vez mais para perto de influências de Stevie Wonder, James Brown, entre outros. Isso desagradou bastante o guitarrista, que frustrado, foi montar o Rainbow e trabalhar inicialmente com Ronnie James Dio, entre outros vocalistas ao longo dos anos, mantendo a referência do hard rock.

Para seu lugar, a banda recrutou Tommy Bolin, guitarrista do James Gang, que havia feito um trabalho espetacular no disco do baterista Billy Cobham, Spectrum, de 1973, um clássico.

A participação de Bolin em Spectrum mostrava que o guitarrista era o cara certo. O comportamento dele mostrou que a hora era a errada: afundando no vício (em parte compartilhado e carregado também por Glenn Hughes, diga-se), ele pouco rendeu após a gravação de Come Taste The Band, e a mudança de som também não agradou boa parte da banda, que acabou encerrando as atividades ao fim da turnê de lançamento do álbum. Tommy Bolin ainda gravou dois álbuns solo, um em paralelo ainda em 1975, Teaser, e outro após o fim da banda, Private Eyes, já após a separação. Porém, ao final daquele ano, após a abertura de um show para Jeff Beck, o guitarrista foi encontrado morto em um quarto de hotel, vítima de overdose. Em sua necropsia, foram encontrados traços de heroína, cocaína, lidocaína, morfina e álcool.

Dos outros integrantes, Glenn Hughes se aventurou por uma carreira solo que teve altos e baixos, e a dupla de fundadores se juntou a Coverdale no Whitesnake, até voltar com a formação clássica do Deep Purple no meio dos anos 80, com a volta de Gillan, Glover e Blackmore. O resto é história.

A despeito do fiasco do “novo” Deep Purple da época, o álbum é bastante inspirado, e talvez até subestimado na carreira do grupo, que tem muitas músicas boas, como a bela This Time Around, colaboração de Hughes e Bolin com Jon Lord, momentos mais próximos do hard rock conhecido do grupo, como na faixa de abertura, Comin’ Home, até o final suingado de You Keep on Moving, com seu dueto de vocalistas. Love Child tem um riff sensacional, o que faz pensar até onde a banda teria ido se as coisas não tivessem colapsado. 

Ouça Come Taste The Band aqui


Brunno Lopez

QUANDO PEAVEY FOI DESMOND CHILD

Parece difícil mas foi real.

Peter ‘Peavey’ Wagner, baixista e vocalista do Rage conseguiu fazer refrões tão impressionantes quanto aqueles criados pelo songwriter cubano que amamos.

E isso aconteceu após uma mudança radical de line-up do Rage. Curiosamente, essa formação pode ser considerada a melhor tecnicamente em toda sua história. Peter “Peavey” Wagner encontrou parceria perfeita no guitarrista Victor Smolski e no fenomenal baterista Mike Terrana.

Mesmo tendo raízes alemãs, naquele momento a banda adquiria raízes multinacionais, com um russo e um norte-americano juntando-se ao líder germânico. E Unity chegou pra mostrar essa força.

Estávamos diante de uma banda coesa, entrosada, trazendo composições inspiradíssimas. Isso fica claro nas melodias fortes e impactantes, em cada refrão fácil de decorar e, é claro, em todo o instrumental fora de série oferecido pelo trio durante as onze faixas. E o principal é que eles conseguem fazer algo acessível sem perder o peso em nenhum momento. 

Abrindo o disco, temos a impecável “All I Want”, perfeita para fazer o fã mais convicto se esgoelar, especialmente no refrão poderoso. A arrasadora “Insanity” segue a mesma linha, com o grupo caprichando na mistura de velocidade e peso. Na seqüência, “Down”, que foi escolhida como single. Um momento superior vem em “Set This World On Fire”, música que ganhou um coral simplesmente espetacular. O coro foi comandado por Hansi Kursch (Blind Guardian) e DC Cooper (ex-Royal Hunt), elevando a faixa a outro patamar de qualidade.

Outros destaques inevitáveis vão para as viciantes “Living My Dream” e “You Want it, You’ll Get it”, outras que se destacam pelo refrão. Encerrando o play, a faixa-título, uma bela exibição de virtuosismo.

Unity marcava o recomeço de uma banda que poucos anos antes estava com os dias contados.
E agora, sobram plays!

Ouça o Unity aqui


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana