05 de Outubro de 2020
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time destaca lançamentos que têm feito suas cabeças.
LANÇAMENTOS
Bruno Leo Ribeiro
Ω
De 10 em 10 anos o Deftones vem pra salvar o ano. Em 2000 eles lançaram o genial White Pony. Em 2010 eles lançaram o Diamond Eyes e agora em 2020 eles lançaram uma pedrada chamada Ohms.
Acho que ficou bem claro a minha paixão pelo Deftones desde que começamos esse podcast. No nosso episódio da semana passada sobre as origens do New Metal, falamos super bem da banda, que pra mim, sempre foi e sempre será a banda mais incrível do Nu Metal.
Apesar de hoje o Deftones ser mais associado ao Metal Alternativo e até o Dream Pop, é uma banda que é difícil de colocar um rótulo. Melhor assim. Eles podem fazer o que quiserem e assim continuarem a ser o Norvana (clique aqui pra ver esse Tweet maravilhoso do Dinho Ouro Preto) dos novos tempos.
O Ohms é um disco cheio de emoção. Começando com a Genesis, que já abre o disco com um sintetizador e o riff limpo de guitarra bem característico da banda. É o momento que você se lembra de onde vem todo esse clima sexy da banda. De repente vem um riff super pesado e a voz incrível do Chino.
Pela primeira vez o Stephen Carpenter tá usando uma guitarra de 9 (ISSO MESMO! NOVE) cordas. Isso deixa o disco mais pesado e mais robusto.
Em sequência, Ceremony vem com um Dream Pop com uma linha linha melódica sedutora e cheia de sussurros e sensualidade. Em Urantia, talvez o Riff mais Heavy Metal do disco, mas que logo se transforma em uma viagem fluída trazendo um sentimento transcendental.
Aí vem Error, que pra mim é a melhor música de 2020 até agora. É uma das misturas criativas mais impressionantes que o Deftones fez nesses mais de 30 anos de banda. Pega o Faith no More e mete um The Cure no meio, dá uma misturada boa e é isto!
Com a pesadíssima The Spell Of Mathematics, o disco cresce em clima e simplicidade. Lembrando que ser simples é ser genial. Em Pompeji e This Link is Dead, mais clima e mais ousadia em transições de ritmos leves e riff pesados.
Radiant City veio pra entrar no clube de melhores riffs de introduções de baixo da história da música. Headless é a música do disco que mais me peguei fechando os olhos pra sentir todos os detalhes de arranjo e mixagem.
O disco fecha com Ohms que talvez seja a música mais ousada da banda nos últimos anos. Um Riff de guitarra com dissonância que chega até ser estranho no início, mas depois que a banda toda entra, tudo faz sentido.
Eu nem tenho muito o que falar sobre os gênios Stephen Carpenter, Abe Cunningham, Frank Delgado, Chino Moreno e Sergio Vega. O Deftones basicamente salvou o meu 2020 emocionalmente.
O disco foi novamente mixado e produzido pelo mestre Terry Date, que trabalhou com a banda no Adrenaline (1995), no Around the Fur (1997), no White Pony (2000) e no autointitulado Deftones (2003). Além desses 4 trabalhos geniais, o Terry Date ainda produziu bandas como Slipknot, Pantera, Soulfly, White Zombie, Dream Theater, Slayer e Soundgarden.
O Deftones junto com o Terry, fizeram um disco que eu estava precisando ouvir. Senti isso ouvindo o White Pony e o Diamond Eyes. Não só esse disco virou um dos melhores da banda, mas também começa a década de 2020 com uma pedrada mostrando que o Rock tá poderoso e forte.
O disco estreou no número 5 da Billboard Top 200 e foi o disco de vinil mais vendido nos EUA na semana de estreia.
É daqueles disco que quando acaba você pensa, “Ué? Mas já!?” Preciso ouvir de novo. É um disco que já nasceu clássico. Daqui há alguns anos, as pessoas que fizeram uma tatuagem do White Pony, vão tatuar ao lado os olhos da capa do Ohms.
Que disco!. Desde o Fear Inoculum do Tool do ano passado, eu não me emocionava tanto com algo novo. Obrigado, Deftones!
Vinícius Cabral
INCRÍVEL HANNAH
Nos primeiros acordes de Kisses (primeira faixa desse disco da banda Lomelda) eu já me fechei totalmente: “reflexos estilísticos de Big Thief, óbvio…nada mais”, pensei com arrogância. Bastou começar Hannah Sun (single e uma das músicas mais bonitas do ano, disparado) para que eu mordesse a língua e começasse a prestar real atenção.
E a sequência não desaponta. Outro single, Wonder é uma obra de arte de dois minutinhos, um petardo.
Enquanto isso, músicas como Reach, Hannah Happiest e a instrumental Both Mode (além das já citadas Wonder e Hannah Sun) deixam bem clara a filiação da compositora Hannah Read, para além da pobre associação que fiz logo no início, com a seminal Big Thief. Em It’s Lomelda ela cita algumas claras influências: Frank Ocean, Frankie Cosmos … Yo La Tengo. Essa última se junta a outras influências que me parecem bem claras: Modest Mouse, Built to Spill e, talvez, um Guided by Voices acústico. Um belo repertório estético, de uma artista ainda bem desconhecida na cena.
O disco é incrível. Suave, ousado, “fresco”, intimista e rascante. Soa novo, mesmo fazendo referência a tantas linguagens já clássicas do indie.
Márcio Viana
BOB MOULD E A CRÔNICA DE UM MUNDO EM CHAMAS
Bob Mould tem uma visão incrível do mundo em que habita. Seu novo álbum, Blue Hearts, inicia com a frase “a costa esquerda está coberta de cinzas e chamas”. Preocupante e sintomático: Mould mora na Califórnia, onde incêndios florestais têm mudado a cor do céu e a qualidade do ar.
Além do testemunho em tempo real de um mundo em chamas, Bob Mould sabe que os EUA de Donald Trump são muito parecidos com os EUA de Ronald Reagan, época em que o cantor já sabia das coisas estando à frente do Husker Dü, banda que antecipou muito do que foi e do que é o rock alternativo. Krist Novoselic, baixista do Nirvana, hoje surpreendentemente um defensor do atual presidente norte-americano, declarou certa vez que Nevermind não trazia nenhuma novidade, tudo aquilo já havia sido feito antes pela banda de Bob Mould (com Grant Hart e Greg Norton). Depois do fim da banda, Mould continuou à frente de seu tempo, liderando outro trio, o Sugar, além de já ter uma carreira solo bastante produtiva.
Mais ainda: Mould é homossexual e viveu toda sua carreira em um meio predominantemente masculino e heteronormativo, o do hardcore. Com seu estilo que unia o punk rock com toques de psicodelia e pop, o cantor ainda experimentou criar letras que falavam de relacionamentos, saindo (não totalmente, é claro) do tradicional rock de protesto. Aqui, observe, nasceu muito do que depois viria a ser o movimento do emocore.
Bem, o ano é 2020, Bob Mould está em seu 13º álbum solo e tem de lidar com os mesmos problemas dos anos 80. E faz isso com preocupação, mas também com esperança, nas letras de Blue Hearts. Em especial em American Crisis. Sente só:
Nunca pensei que veria essa merda de novo.
Chegar à maioridade nos anos 80 já era ruim.
Fomos marginalizados e demonizados
Eu vi muitos da minha geração morrerem.
Ao tablóide britânico Guardian, Mould disse “Blue Hearts foi escrito como um aviso terrível, mas será uma celebração louca se chegarmos ao outro lado”. É o que todos nós queremos, Bob, é o que todos queremos.
Assista ao clipe de American Crisis aqui.
Brunno Lopez
2020
O mundo ainda não acabou e aparentemente o Bon Jovi também não.
O fresquinho álbum ‘2020’ saiu completo – pois já tínhamos 3 singles conhecidos no streaming – e confesso que consegui gostar do resultado.
Diferente da temática usual da banda, o grupo de New Jersey focou em temas mais políticos e menos amorosos. Podemos dizer que é uma espécie de The Circle mais engajado.
Honestamente, acho que acertaram!
Claro, seguimos sem Richie Sambora e nosso querido Phil X já começa a desenhar seu estilo.
Algumas canções tem potencial de se tornarem favoritas, como a energética “Beautiful Drug”.
Em tempos de pandemia, a banda segue pulsante com os membros remanescentes e consegue entregar um material que, se não flerta com os melhores dias do grupo, ao menos oferece um frescor criativo que credencia o Bon Jovi a continuar na estrada.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana