10 de Agosto de 2020
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time destaca lançamentos que têm feito suas cabeças.
LANÇAMENTOS
Bruno Leo Ribeiro
UM OUTRO MUNDO
Quem me conhece, sabe do meu amor pelo Gojira. Uma das bandas de metal mais importantes da atualidade. Não só pela sonoridade moderna e inovadora, mas também pela importância de suas letras, temas e pela sua luta por um mundo melhor.
Na semana passada eles lançaram o clipe do primeiro single do disco que está por vir. Eu que já estava confortável em escolher o melhor disco do ano, agora tudo ficou mais complicado. A música é uma obra genial com um metal que está entre o super pesado e o metal sereno. O Gojira vem com um disco que eu não estava esperando.
Desde o lançamento do maravilhoso Magma, o Gojira vem fazendo turnês e shows pelo mundo (vi 3 shows dessa turnê) e tava preparado pra ver mais um agora no verão, mas tudo adiado pro ano que vem.
O primeiro single chamado Another World, não poderia ser diferente dos temas da banda. A letra, que começa com: “We mock and slaughter all the purest kinds. Blinded by the noise and maze, this flash in our eyes. Hope for the world but prepare for the worst. I’d rather find a way on my own”, mostra como estamos explorando nosso planeta. Usando tudo que podemos sem pensar nas consequências.
O clipe, muito bem feito e dirigido por Maxime Tiberghien & Sylvain Favre, aclamados com o curta de animação chamado “Beyond Us – After The Collapse”, mostra a banda tentando viajar para um outro mundo, usando os conceitos da física como o buralho de minhoca e no final, rola um plot twist que não vou dar Spoiler. Tem que assistir.
A sonoridade da banda deu uma encorpada e quando fui ver quem mixou o disco, tá lá o nome do homem… Andy Wallace (Nevermind do Nirvana, Grace do Jeff Buckley, Roots do Sepultura, entre outras obras de arte). Bem, vou parar de falar pra você clicar ali no link e assistir esse clipe muito bacana dessa música sensacional.
Veja o Clipe de Another World do Gojira aqui
Vinícius Cabral
ABSOLUTISSIMA LACRAÇÃO
Eu sou um cara do Rock. O que explica em boa parte minhas ressalvas com a música brasileira nos últimos anos.
Depois de duas décadas no topo das paradas (80 e 90) ocupando quase sempre o centro das atenções comerciais, o estilo foi sobrevivendo às custas de nichos pelas duas décadas seguintes. Tirando as prolíficas e salvadoras cenas regionais, é difícil citar uma banda ou movimento – com exceção do Emo dos 2000 e, goste ou não, do furacão Los Hermanos– que tenha “furado a bolha” em direção ao mainstream.
E ainda há um fenômeno por vezes complicador; em função do que eu ilustro no parágrafo anterior (ou como causa dele), vemos uma corrida incessante para uma sonoridade de hibridismos constantes, como se fosse proibido simplesmente amassar uma guitarra e um par de pratos sem ter que “suingar” um pouquinho ou acenar ao mágico antropofagismo tropicalista. Esse movimento (se é que podemos utilizar essa descrição) quando acerta é maravilhoso – justificando o uso positivo do termo “Nova MPB” – . Quando erra, gera cópias mal feitas de Caetano Veloso (só pra citar um dos mais copiados), geralmente com ex-roqueiros que passam a se levar a sério demais.
Pra reforçar meu ponto, basta dizer que a no mínimo 20 anos os maiores compositores e produtores que apareceram por aqui ou já iniciaram suas carreiras nos hibridismos dessa Nova MPB (no uso positivo do termo) ou acabaram desaguando nela, abraçando quase que uma inevitabilidade comercial. Fred 04, Pedro Sá, Kassin, Domenico, Moreno Veloso, Karina Buhr, Fernando Catatau, Marcelo Camelo, Guilherme Kastrup, Kiko Dinucci, Romulo Fróes.
A lista é grande. E por vezes agrega o melhor da tradição subversiva da nossa música, conseguindo mesclar elementos do Rock com as regionalidades das nossas bases rítmicas tradicionais. Esse fenômeno todo se cristaliza em A Mulher do Fim do Mundo, disco da Elza Soares que tem as mãos de pelo menos duas pessoas dessa pequena lista, e que é um dos álbuns nacionais mais prestigiados internacionalmente dos últimos anos, tendo ganhado um reconhecimento internacional de dar inveja a muito indie por aí (e a definição Punk-Samba, cunhada brilhantemente por algumas pessoas).
Pois bem. O Negro Leo, aos seus 37 anos e com uma carreira já cheia de discos (interessantíssimos) lança agora um dos álbuns que pede – desesperadamente – para entrar nessa “linhagem”, e chutando a porta: como um dos maiores petardos da música nacional em anos. desejo de lacrar é tudo o que se deveríamos ouvir em discos de Rock: uma porrada na cara, lotada de humor, liricismo inspirado, melodias e quebradas tortas, e um constante espírito de inquietude.
O álbum, produzido por Serginho Machado (o Plim), atual baterista dos Racionais Mc’s e do metá metá, confere as batidas quebradas “brasileiras” de um álbum que esperaríamos da Nova MPB, mas qualquer tipo de associação a esse movimento para por aí. Se em dança erradassa Negro Leo constrói a métrica mais “zoada” da música nacional desde Jards Macalé, em faixas como absolutismo lacrador o conceito e a sonoridade se concatenam com a clareza de uma canção centerpiece (daquelas que dá sentido ao disco).
Mas se a sonoridade é essa cacetada, e o conceito?
Bom, a gíria “lacrar”, termo auto afirmativo, político e inclusivo difundido pela comunidade LGBTQIA+, foi surrupiada pelos boçais de plantão, que passam a utilizar o termo como estratégia de silenciamento. “Lacrar”, em debates comuns de internet, geralmente significa “refutar”, ou “calar a boca” dos opositores. É algo que está na fala dos truculentos opressores o tempo inteiro, embora seja criticado por eles mesmos para “denunciar” qualquer espécie de luta identitária das “esquerdas”. Quem não se lembra, afinal, do próprio presidente em seu discurso de posse, celebrando o “fim da lacração”? Pois é. O “desejo de lacrar” de Negro Leo tem algo de subserviso. Quer retomar o horizonte da luta contra a opressão; contra a boçalidade reducionista dos “liberais na economia, conservadores nos costumes”, escandalizados com a liberdade e expansão das minorias e adeptos das formas mais cruéis e violentas de opressão.
Como não tá rolando de tomarmos porradas bem dadas assim do Rock, que elas fiquem a cargo de alguém que, independente da mistura que se propõe a fazer (ou da mistura que surja naturalmente do processo de digestão de influências), domine tão bem assim a arte de nos dar porradas – ou de “lacrar”, realmente – tão bem quanto Negro Leo.
Dentro dessa trajetória errática do nosso cancioneiro, que busca desesperadamente se afirmar em um momento histórico de dispersão e apagamento de identidades – e vidas – é interessante ver que ainda existe campo para uma música brasileira que enfie os pés na tradição para, ao mesmo tempo, rejeitar qualquer tipo de conformismo e imobilidade. Neotropicalista, antropofágico e nervoso, desejo de lacrar cumpre essa função de forma triunfal.
Márcio Viana
O NOVO DEEP PURPLE É O VELHO DEEP PURPLE. E TUDO BEM.
Se alguém me dissesse que Whoosh! era um disco perdido do Deep Purple gravado em 1987, eu provavelmente não duvidaria. Não chega a ser um demérito. Eu estranharia muito mais se a banda ficasse tentando moldar seu som às novas tendências.
Ok que Steve Morse não é Richie Blackmore, muito menos Don Airey chega aos pés do saudoso Jon Lord, mas se não dá para tê-los, por motivos distintos, ambos – é bom que se diga – foram as melhores escolhas possíveis para suprir a falta deles.
Ok também que a trajetória do Deep Purple vem sendo errática há bastante tempo. Purpendicular, a estreia de Morse em 1996, é um bom disco, mas seus sucessores até aqui patinaram bastante, apresentando canções genéricas demais e alguns momentos até constrangedores, como a cover de Roadhouse Blues, do The Doors, no fraquíssimo Infinite, de 2017.
Ok que as canções de Whoosh! também são genéricas. Quem coloca pra tocar No Need to Shout pode pensar que é apenas uma introdução para Perfect Strangers (de 1984) nos primeiros segundos. Don Airey parece ter consciência de que não dá pra fugir das harmonias e timbres de seu antecessor Jon Lord, que deixou a banda em 2002 e faleceu 10 anos depois. E assim o álbum se faz, num Deep Purple emulando a si mesmo (quem mais teria este direito?).
E ok, por fim, que Ian Gillan, prestes a completar 75 anos, não tem mais o alcance vocal do jovem que emprestava seus agudos a Child in Time, Highway Star ou Black Night, entre outras. Mas em Whoosh!, diferentemente de alguns dos álbuns destes últimos vinte anos, ele administra muito melhor a situação.
Este é o terceiro álbum seguido em que a banda, investindo num porto seguro, conta com a produção do veterano Bob Ezrin. Isso explica muita coisa.
E já que estamos falando em porto seguro, se dá pra ter uma certeza, é de que, ao ouvir este álbum em alguma plataforma digital, é grande a chance dela te oferecer Smoke on The Water quando a última música de Whoosh! terminar. Talvez essa seja uma forma de fazer você se lembrar de um mundo que já existiu.
Brunno Lopez
SPREAD YOUR FIRE
Perder o André Matos não foi fácil, não tem sido fácil e provavelmente nunca será fácil. É estranho você perceber que nunca mais conseguirá ouvir certas obras ao vivo de novo e, no caso do Angra, as tão aguardadas reuniões.
Esses registros ao vivo de discos clássicos deveriam ser obrigatórios pois representam a essência de um grupo em sua melhor forma.
O maestro se foi, mas deixou gravações históricas, principalmente o live da sua segunda banda, o Shaman.
Edu também se foi, mas não desse mundo. Só do Angra.
E sempre foi complicado a não existência de um live do Temple of Shadows, um dos maiores álbuns de metal da história.
Com mudanças de integrantes e problemas de relacionamento, a banda brasileira segue hoje em boas mãos, mas faltou para a antiga formação esse tipo de gravação.
Edu reuniu Aquiles e Fábio Laguna – além de um grupo competente de músicos – e entregou o tão adorado disco com a qualidade que a história pede.
Assistir a esta intro em 2020 é viajar no tempo com o coração na mão e lágrimas nos olhos.
Mesmo sem Kiko, Rafael e Felipe, é mágico.
Num ano bastante competente em nos decepcionar, a notícia do Temple of Shadows in Concert é aquela brisa revigorante de boas notícias que não nos deixa desistir de acreditar.
Assista ao clipe
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana