20 de Julho de 2020
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. A newsletter desta semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!
IT’S A CLASSIC
Bruno Leo Ribeiro
A CLÁSSICA JOGADA FRIA
O Coldplay é dessas bandas que dividem as opiniões. Diferente do Norvana que une todas as tribos, o Coldplay é o Los Hermanos dos gringos. Sempre que você fala que gosta de Coldplay, você tem que justificar. Como se tivesse que ter aprovação das pessoas. Eu acho que as pessoas vão na onda dos haters e não gostam de Coldplay porque tem vergonha de dizer que gostam da banda. Ou talvez porque é uma banda que virou mainstream demais ou sei lá qual motivo. Os fã da banda nem são tão chatos assim. Então eu sigo sem entender qual é o problema com a banda. Eles são ótimo (até certo ponto da carreira acho que eles foram precisos e cirúrgicos, mas aí é um papo pra um outro papo… quando que o Coldplay ficou chatinho?).
No dia 9 de Julho o genial Rick Beato (que tem o melhor canal de música da YouTube), lançou mais um vídeo da série “What Makes This Song Great”. Dessa vez foi analisando os arranjos e harmonias da lindíssima The Scientist do disco “A Rush To The Blood Of Head”, o clássico de hoje. Lembro bem quando esse disco já tem 18 anos! (Assistam o vídeo do Rick Beato aqui).
O disco começa com “Politik” e segue pra música mais “Parachutes” (com cara do primeiro disco da banda) chamada “In My Place”. O disco segue em alto nível até chegar em “Clocks” que é dessas músicas com cara de hit que talvez tenha começado essa “preguiça das pessoas” contra a banda. Eu adoro.
Daylight é ótima e Green Eyes é uma baladinha quase folk lindinha. Dessas músicas confortáveis que parece que a gente tá debaixo de um cobertor quentinho. A reta final do disco é pura melancolia e fecha com a belíssima ”Amsterdam” que tem cara de dias de chuva olhando na janela as gotas escorrendo pelo vidro.
Então é isso. Não tenham guilty pleasure, seu gosto é seu gosto e é único. É o que faz você, você. Quem fica te julgando pelo que você escuta não merece suas recomendações. Se você gosta, você gosta. E eu adoro o “A Rush To The Blood Of Head”. Vem comigo :).
Ouça o A Rush To The Blood Of Head aqui
Vinícius Cabral
A REINVENÇÃO TARDIA DO ROCK’N’ROLL
Antes que vocês reclamem, “mas nossa Pavement de novo??” me permitam o exercício da crítica (afinal, é ela que nos permite consolidar conhecimentos e validar teorias): com quase 30 anos de idade, a banda parece mais atual a cada dia que passa. Por que será?
Será que é só porque os emos da década passada resolveram emular a indumentária do Stephen Malkmus, como contamos em nosso episódio sobre o estilo? Será que é porque suas letras, ácidas na medida, casam perfeitamente com essa distopia extravagante do capitalismo tardio que temos vivido?
Talvez as duas opções ajudem a entender. Mas 25 anos depois, reouvindo este segundo – e perfeito – álbum da banda, algumas coisas se destacam.
Já é sabido (e eu abordo isso de maneira crítica no episódio) que havia em Pavement uma tentativa deliberada de rejeitar o Rock tradicional. A missão ganha contornos cômicos nesta entrevista do Malkmus, na ocasião dos 25 anos de aniversário do Crooked Rain, Crooked Rain. Acontece que na fala, arrastada e claramente zombeteira, o compositor aponta seus alvos: suas influências neste álbum são “negativas”. Não se tratava tanto de “como soar”, mas de como não soar parecido com as bandas para as quais ele de certa forma torcia o nariz. É o “Rock Clássico”, de bandas como AC/DC (desculpa, gente), em Silent Kit. Ou o Folk californiano batido de The Eagles em Range Life. Ok se fosse uma simples rejeição irônica, onde se faz menção ao original que se quer sacanear. Mas como Pavement não se trata de uma mera sátira, era de se esperar que desse exercício brotasse uma nova poética. Ao remexer nos clichês do Rock em uma estrutura de “garagem”, já se esperaria que algo diferente nascesse. Mas tem algo ainda muito pouco falado sobre a banda que pra mim é preponderante para o nascimento desta poética: as afinações de guitarra.
Ao experimentar 5 afinações diferentes apenas neste disco, a banda sem querer consolida uma tendência. Não que eles tenham inventado a estratégia (afinal, bandas como Sonic Youth foram ainda mais ousadas nesse quesito). Mas em outras bandas as afinações alternativas geralmente servem a um exercício cacofônico, enquanto em Pavement elas servem para criar canções de Rock quase tradicionais, mas com “acentos” que não permitiriam nunca essa adjetivação.
Ao notar que existe até um catálogo on-line de afinações e tablaturas (de simplesmente todas as músicas da banda), chego à conclusão de que ela acabou reforçando – sem querer – um novo léxico musical que, do Indie do restante dos anos 90 ao Emo Revival dos 2000 – e até hoje- , tem sido fundamental para a preservação de alguma originalidade para o quase centenário Rock’n’Roll.
E é mais ou menos fácil explicar o fenômeno: ao pegar uma guitarra afinada em DADGBE por exemplo, é natural que os acordes sejam feitos de outra forma. A menos que o compositor fique o tempo todo fazendo conversões, muitas vezes ele nem precisa saber que acordes está tocando – o que lhe confere uma enorme liberdade -. É natural, pois, que no meio de uma progressão quase tradicional você “esbarre” em dissonâncias, sétimas “fora de hora”, etc.
Parece muito técnico, mas da pra ilustrar mais ou menos assim: imagine que alguém, só de sacanagem, criou um aplicativo que inverte as palavras quando você as escreve. Agora quando você vai digitar a palavra comida, sai adimoc. As sílabas continuam todas ali, mas vc precisa virar o celular de cabeça pra baixo pra ler a palavra de forma correta. É basicamente assim que funciona a composição em afinações alternativas.
Para se chegar em signos decodificáveis, é preciso plantar uma bananeirazinha.
E é aí nesse exercício quase que infantil, que o Pavement mostrou que, basta dar uma chacoalhada básica nos elementos tradicionais do Rock, para se fazer o “mais do mesmo” de forma que aquilo soe totalmente novo. Até hoje, eu diria, essa “descoberta” genial da banda segue sem ser explorada tão extensamente por músicos e compositores por aí. E é um prato cheio para aqueles que, como eu, precisam descobrir, insistentemente, novas formas para o velho – e tão surrado- Rock.
Ouça Crooked Rain, Crooked Rain aqui
Márcio Viana
TÃO PERTO, TÃO LONGE
Esta semana completaram-se 40 anos do lançamento de Closer, o derradeiro álbum do Joy Division, lançado em 18 de julho de 1980, exatos dois meses após o suicídio de seu líder e vocalista, Ian Curtis. Um pouco mais sombrio que seu antecessor, Unknown Pleasures, este segundo álbum, muito disso se deve ao fato de o grupo, junto com o produtor Martin Hannett, ter construído uma espécie de abóbada feita de estuque (um material derivado do gesso), para simular a ressonância de uma catedral, para gravar as faixas que fizeram parte do disco.
Também conceitual é o fato de originalmente o álbum não conter informações impressas sobre qual seria o lado A ou B do disco, nem no encarte, nem no selo do vinil. Para o CD e posteriormente o streaming, ficou definido que o disco começa com Atrocity Exhibition.
Uma das minhas principais lembranças enquanto músico em busca de reconhecer as referências, é de admirar o trabalho de Peter Hook como baixista, e essa percepção veio de trás para frente, até por conta da minha idade: me recordo de ter ficado fascinado com o New Order a partir da coletânea Substance, e a partir dela ir conhecendo as coisas mais antigas até chegar no grupo que deu origem ao atual (hoje em dia desfalcado de Hook). Inevitável pensar no trabalho em Love Will Tear Us Apart, clássico que consta apenas em single, mas que aparece na versão de luxo lançada em 2007, que reúne além das faixas originais, algumas gravações ao vivo. Ali, e no álbum todo, é possível ver o baixo por vezes “agudo” de Peter Hook como fio condutor das narrativas de Curtis, mais do que as guitarras e teclados de Bernard Sumner, que no New Order assumiu também os vocais, em uma banda que avançou mais no uso de recursos eletrônicos, se tornando referência.
Bem, e o legado de Curtis? É possível enumerar vários grupos influenciados pelo Joy Division e seu rock em tons monocromáticos, sendo que no Brasil o maior expoente foi sem dúvida a Legião Urbana, mas no rock mundial podemos falar principalmente em Nine Inch Nails e curiosamente em grupos que despontaram após os anos 2000, como The Killers e The National, o que podemos reputar à teoria de que sempre há uma tendência de revisitar a música produzida cerca de 20 anos antes.
Ainda que o New Order tenha se encaminhado para uma nova sonoridade, é preciso dizer que sua estreia, com o álbum Movement, de 1981, ainda é muito próxima do som que fazia o grupo original, o que é muito compreensível e agradável.
Brunno Lopez
MANTENHA A SUA PERUCA
Não estranhe o pedido. Aliás, nunca estranhe nada que vier dessa banda, pois eles são aquele tipo de grupo que não tem medo de experimentar. E invariavelmente acertam.
Aqui, em Keep Your Wig On, o Fastball desfila petardos viciantes, num disco com excelente produção, um verdadeiro passo adiante na carreira desses rockeiros alternativos de Austin.
Será que foi a mixagem do Bob Clearmountain que deixou o material tão cheio de personalidade? Tudo soa muito concatenado por aqui e é possível notar uma variação de atmosferas nas canções sem que umas se desprendam das outras.
Eles tem uma forma admirável de criar canções, é quase impossível não se deixar levar pelos hits da dupla Tony Scalzo e Miles Zuniga. Neste álbum, você vai se pegar cantando “Drifting Away”, “I Get High” e a incrível “Till I Get It Right”.
Muitos apenas enxergam o Fastball como One Hit Wonder, por causa de “The Way”, mas este registro de 2004 é um clássico subestimado dessa banda espetacular.
Então, mantenha sua peruca e seus fones de ouvido no repeat!
Ouça Fastball aqui
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana