26 de Agosto de 2019
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter dessa semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!
IT’S A CLASSIC
Bruno Leo Ribeiro
DEEP PURPLE – MADE IN JAPAN
Eu não sou muito de disco ao vivo. Prefiro ver um show do que ouvir um disco de um show. Claro que existem alguns clássicos como o Life After Death do Iron Maiden e também a dica de clássico da nossa newsletter dessa semana. Coincidência ou não, o engenheiro de gravação desse disco foi o Martin Birch, que é muito conhecido por seus trabalhos no Iron Maiden, inclusive produzindo e mixando o Live After Death também. O cara é um gênio.
O disco lançado em 73, foi gravado em dois shows diferentes no Japão e o set list é uma coisa escandalosa. “Highway Star”, “Child in Time” (com um dos melhores solos de Richie Blackmore) e “Smoke on the Water”, só pra começar.
Uma curiosidade é que a banda não tava muito preocupada com esse lançamento e apenas o Ian Paice e o Roger Glover foram acompanhar as mixagens. O resto da banda nem ouviu antes do lançamento. Talvez isso tenha sido bom. Ficou maravilhoso do jeito que ficou.
Vinícius Cabral
PAVEMENT- SLANTED AND ENCHANTEDImpossível me propor a falar de Pavement sem engasgar. Difícil também apontar um disco só, diante de um conciso e impecável conjunto-da-obra de apenas 5 álbuns de estúdio, um melhor do que o outro. Entre 1992, data de estréia com este Slanted and Enchanted e 1999, Pavement foi provavelmente a banda mais notável dentre todas as anti-maisnstream indies dos anos 90. Quase posso tocar aquele adolescente rebelde e punk se transformando em um jovem retraído, introspectivo e crítico, trocando a gritaria do Black Flag pelas melodias angelicais do Stephen Malkmus. No mundo invertido, onde os tímidos são as super-estrelas, aquele rapaz era o meu Guitar Hero, mesmo que chacoalhando as cordas em afinações bizarras e dedilhados sutis. Pavement não só me agradava, como me abraçava. Era uma banda que parecia me conhecer, e eu honrei a influência encarando minhas próprias angústias millenials com a mesma energia. Se hoje os jovens balançam as cabeças diante do arrastado slacker rock, Pavement já abria esse caminho lá atrás, fazendo um rock que não precisava ser distorcido, gritado ou radiofônico. Era dissonante e melódico, raivoso e doce. Tudo numa só tacada, com uma grande pitada de esquisitice para pessoas esquisitas (em tempos esquisitíssimos).
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Márcio Viana
IRA! – PSICOACÚSTICA
O ano era 1988. A década perdida se encaminhava para seus créditos finais. Embalado pelo estrondoso sucesso de Vivendo e Não Aprendendo, seu segundo disco, sobretudo por conta da canção Flores em Você, incluída na abertura da novela O Outro, da Rede Globo, o Ira! adentrava o ano com o pé direito, com o grande show no Hollywood Rock. Meses depois, para desespero da gravadora WEA, apresenta para lançamento um disco totalmente anticomercial, o seu Psicoacústica.
Corta para o ano anterior. Em setembro de 1987, as praias de São Paulo e Rio de Janeiro recebem uma entrega inusitada. O navio japonês Solana Star naufraga e despeja nas águas grandes quantidades de maconha asiática conservada em latas, que ficam à deriva até chegar a estas praias. O período entre 1987 e 1988 ficou conhecido como verão da lata.
Embalados pelo uso recreativo do produto ao qual tiveram acesso e às novas influências incorporadas ao som da banda – o vocalista Nasi e o baterista André Jung se envolveram na produção de hip hop, em especial o disco de estreia de Thaíde e DJ Hum – os membros do Ira! fizeram um álbum que uniu scratches, samples (principalmente de trechos do filme O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla, mas também tem uma fala do líder da Legião da Boa Vontade, José de Paiva Netto) com a tradicional influência mod na sonoridade da banda. Os riffs e solos de Edgard Scandurra estavam inspiradíssimos.
Um dos resultados dessas novas influências é a música Advogado do Diabo, cantada por Nasi e Jung, uma espécie de hip hop misturada com temas regionais guiados pela batida de um pandeiro, misturada com a guitarra psicodélica de Scandurra e o baixo pulsante de Ricardo Gaspa. Não por acaso, esta música era uma das prediletas de Chico Science, pois antecipou parte do que viria a ser o mangue beat, em tema e sonoridade.
O álbum trazia ainda o quase hit Receita para se fazer um herói, com letra entregue a Scandurra por um ex-colega dos tempos de exército, que dizia ser criação sua. Após o lançamento, porém, a banda descobriu que tratava-se de um poema do escritor português Reinaldo Ferreira. Desfeito o equívoco, a banda chegou a um acordo com a família do poeta e pôde continuar tocando a canção.
Além da música citada, os destaques são Pegue essa Arma, Rubro Zorro e Farto do Rock And Roll, essa na realidade um rock pesado, ou seja, a ironia está na combinação da letra e da música, que aliás é cantada por Scandurra, com Nasi “atacando de DJ” e mandando scratches de James Brown.
A capa dupla é um show à parte: com cores contrastantes, tem nuances a serem observadas com o uso de um óculos 3D de papelão, brinde junto com a capa.
Brunno Lopez
MISFITS – FAMOUS MONSTERSEste disco me lembra imediatamente a primeira banda que tive e o primeiro show remunerado que fizemos. Todos nós adorávamos Misfits e queríamos incluir uma canção deles em nosso repertório pra tocar na casa de shows. O lugar, claro, era rock pop, mas foi uma grande surpresa quando vimos pessoas cantando com a gente quando tocamos Descending Angel.
Reminiscências à parte, fiz essa introdução só para vocês terem uma ideia do quanto este disco foi importante pra mim. Lançado em 1999, é o último álbum com o ótimo vocalista Michale Graves. Destaco sempre a forma melodiosa com que eles conseguiam fazer o punk, deixando o som com uma personalidade única.
Além do música que citei inicialmente, destaco as faixas Scream e a maravilhosa balada mórbida Saturday Night. Inclusive, termino minha sugestão com uma curiosidade sobre a gravação dessa música: Na época da gravação dela, Graves queria levar seu cachorro para o estúdio para dar inspiração a ele. Porém, o doguinho morreu antes que ele começasse a gravar os vocais. Em homenagem ao amigo canino, ele pendurou a coleira sobre o microfone durante todas as sessões de gravação.
Ouça aqui
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana