Newsletter – Silêncio no Estúdio Vol. 40

27  de Abril  de 2020


Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. A newsletter desta semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!


IT’S A CLASSIC

Bruno Leo Ribeiro

AQUELE GRANDE
Em qual momento que coletâneas foram descartadas como discos clássicos? Em nenhum momento! E por esse motivo que nessa edição vou indicar um disco clássico que é basicamente uma coletânea de uma das melhores trilogias do Aerosmith: Os discos Permanent Vacation (1987), Pump (1989), and Get a Grip (1993). Eu gosto bastante de Aerosmith dos anos 70, quando a banda dominou o rock americano, mas gosto muito também dessa fase mais pop da banda.

Depois do auge nos anos 70, a banda teve uma decadência no começo dos anos 80 e tiveram até problemas financeiros (que conto sobre a história da guitarra do Joe Perry no episódio das jornadas das guitarras famosas). Depois disso, eles tiveram quase um renascimento com o lançamento do Permanent Vacations com hits como “Dude (Looks Like a Lady)” e “Angel”.

Na sequência com o sensacional Pump, eles lançaram hits como “Going Down/Love in Elevator” e fecham o disco com a minha música favorita da banda que é a maravilhosa e sem defeitos “What It Takes”.

Já em Get a Grip de 1993 (famosa capa com as tetas de uma vaquinha), eles vieram com duas das maiores farofadas do hard rock mundial que são Crazy e Cryin’ (clipes inesquecíveis na MTV).

Nada melhor que um disco como o Big Ones pra pegar o melhor da trilogia, lançar uma coletânea e ganhar mais dinheiro com vendas. 

Tenho a impressão que o lançamento do Big Ones só confirmou que a banda era gigante novamente como nos anos 70, talvez até maior por ter um público maior e mais acessível com os grandes hits baladinhas, incluindo a grande “Janie’s Got a Gun” do Pump.

Nesses tempos de quarentena, nada melhor que um hard rock bem pop pra animar. Muitos não gostam desse disco já que a banda ficou mainstream demais, mas eu não me importo. Se a música é boa, quem se importa se ficou popular? Essa mania de crítico musical que acha que o popular é ruim. Se é popular, é por um motivo e muitas vezes, é porque é bom mesmo. 🙂

Ouça o Big Ones aqui


Vinícius Cabral

A OBRA PRIMA DE POLLY JEAN
Ouvir Rid of Me desavisadamente é um esporte perigoso. Até explodir aos 2:10 em uma porradaria inesquecível, a faixa-título e canção de abertura parece sumir no ar. Tudo o que se ouve são sussurros da PJ Harvey, embalados por uma guitarra fazendo um “mute”. Até a bateria, marcando o ritmo, parece estar a metros de distância. Não sabemos o que fazer ali, a não ser aumentar o volume o máximo possível (para nos arrependermos amargamente de ter feito isso quando a banda estoura a caixa de som sob os versos secos e rasgados: “Don’t you wish you never, never met her?”). 

O nome disso é dinâmica. E dinâmica é marca essencial do Rock Alternativo “clássico”, mesclando a inocência e suavidade do universo Pop com a porradaria escancarada do Punk. Rid of Me explora a dinâmica ao máximo, fazendo o loud-quiet-loud dos Pixies, por exemplo, parecer uma brincadeira de jardim de infância. 

O lendário Steve Albini gravou este disco com o trio de PJ sob a máxima de “deixar o pau quebrar”. Tudo foi feito no estúdio (incluindo a mixagem) em duas semanas, não dando espaço ao perfeccionismo metódico de Polly Jean. O resultado é um dos principais álbuns da “era de ouro” do rock noventista; pesado, sincero, cru, direto ao ponto … sem concessões. E, claro, isso tudo com uma das figuras mais misteriosas e geniais das últimas décadas no comando (sim, a Polly Jean Harvey). Por mais que seja tentador traçar o legado de Patti Smith e do contemporâneo Riot Grrrrl à sua presença na cena, PJ não aceita nenhum rótulo e nenhuma linha. É “filha” do Punk e do Rock Alternativo, mas também é livre demais para abraçar a missão de ser mais uma feminista na linha de frente do rock. Como ela própria já se queixou, se você for mulher e tiver uma banda, o assunto será inevitavelmente este (ser mulher em uma banda). Eu mesmo já me vi citando as “mulheres no rock” ou coisas assim. O que PJ Harvey nos lembra, porém, é que além de nada disso ser novidade (“Girls invented Punk Rock, not England”, como diz a máxima de Kim Gordon), ela própria não se confina com seu gênero. 

Seja na fantasia de estar em um corpo masculino (Man-Size) seja rejeitando os falsetes em backing vocals (delegando a função ao seu baterista Rob Ellis, que é quem grita “Lick my legs, I’m on fire” na faixa título), a obra de PJ nos lembra a todo tempo que gênero é uma construção social. 

Este não é um dos maiores álbuns femininos dos anos 90. É um dos melhores álbuns daquela década, e segue cada dia mais pesado e urgente. 

Letra por letra, canção por canção, o que se ouve aqui é um ataque desenfreado de guitarras explosivas, refrões nervosos (após estrofes climáticas e “baixinhas”), baixos Punk e as baterias mais cruas e pesadas que já ouvi em um disco. Rid of Me é um dos exercícios mais potentes do Rock nas últimas décadas, e merece ser ouvido bem alto, mesmo que alguns refrões levem suas caixas de som ao limite.*

*ps- é óbvio que a audição desse disco em vinil, explorando o ambiente, nos dá um pouquinho melhor a ideia de como ele foi gravado e mixado. É nessas horas que o exercício fast food das plataformas e (horrorosos) amplificadores bluetooth nos deixam, evidentemente, na mão. Não dá pra pedir pra todo mundo ouvir isso em vinil (até porque o disco está esgotado … consegui uma cópia usada na mais pura cagada), mas tentem pelo menos deixar a obra “ocupar” a sala ou quarto de vocês, no maior volume possível com as melhores caixas de som possíveis. É uma experiência que vale muito a pena!

Ouça Rid of Me aqui


Márcio Viana

UM GURU SEM LIMITES E SEM TEMPO PARA BRINCADEIRA

No último dia 20 de abril, completaram-se 10 anos do falecimento do rapper Guru, alcunha de Keith Elam, vítima de um câncer. O nome Guru veio das iniciais da expressão Gifted Unlimited Rhymes Universal (Abençoadas Rimas Universais sem Limites). Sem Limites é um bom modo de representar o que foi a carreira deste cantor e produtor. Prova disso é o conjunto de álbuns da série Jazzmatazz, em especial o primeiro, lançado em 1993, do qual falo a seguir.

Não tenho a informação exata de em que momento o hip hop começou a usar ritmos jazzísticos em composições, mas Guru foi mais longe: em Jazzmatazz, ele convidou músicos do cacife de Donald Byrd, Courtney Pine, Lonnie Liston Smith, Branford Marsalis, Ronny Jordan, Donald Byrd e Roy Ayers, entre outros, para construírem os grooves que compõem a base do trabalho, o primeiro álbum solo do rapper, depois de, junto ao DJ Premier, ter feito parte do duo Gang Starr.

É até curioso o fato de que o álbum segue a estética do jazz em sua disposição: tem uma faixa de introdução, um bloco de cinco músicas, um interlúdio de agradecimentos e mais cinco faixas.

A arte da capa também remete aos discos clássicos do jazz, muito parecido com os álbuns clássicos da gravadora Blue Note. É uma nítida homenagem, e quem diria, um despretensioso lançamento de tendência.

Minha preferida do álbum é No Time To Play, com Ronny Jordan na guitarra e DC Lee & Big Shug nos vocais, mas há grandes momentos em todo o registro, como por exemplo em Trust Me, com N’Dea Davenport do lendário The Brand New Heavies  nos vocais.

O rapper produziu mais três álbuns da série, e foram feitas algumas releituras e lançamentos especiais ao longo dos anos, então vale a pena ouvir todos os desdobramentos deste que é um dos primeiros clássicos dos anos 1990. É o que eu pretendo fazer, inclusive.

Ouça Jazzmatazz Vol. 1


Brunno Lopez

MONSTROS FAMOSOS
A saída de um vocalista nunca é um acontecimento muito agradável pra banda nenhuma – ainda mais quando estamos falando de alguém como Glenn Danzig, que foi a voz do Misfits desde a sua fundação, em 1978.

Quem poderia imaginar que o disco mais vendido dessa banda de horror punk (se podemos classificar assim pelo conteúdo de suas letras baseadas em filmes de terror B) viria com um substituto nos microfones?

Palmas para Michael Graves, que após brilhar no antecessor American Psycho, viria trazer um material mais contemporâneo para a sonoridade do grupo. E funcionou muito bem.

“Famous Monters” chegava em 1999 com canções com várias atmosferas, acordes pesados, ritmos acelerados e melodias que ficam na sua cabeça por horas inteiras.

Mesmo que você se depare com letras do tipo “Se eu cortar seus braços e suas pernas, você ainda me amaria?”, presentes na faixa “Helena”, é engraçado perceber que, apesar dos temas perturbadores, as músicas são cativantes e, de certa forma, até animadoras.

“Saturday Night” é uma obra irretocável desse disco, com capacidade de se tornar a favorita de qualquer um que a ouça pela primeira vez.

É sério. É potencialmente viciante.
Já estou reouvindo pela vigésima vez.
Vigésima primeira…
Vigésima segunda…

Ouça o Famous Monsters aqui 


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana