Newsletter – Silêncio no Estúdio Vol. 35

23  de Março  de 2020


Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time destaca lançamentos que têm feito suas cabeças. 


LANÇAMENTOS

Bruno Leo Ribeiro

ATRÁS DO SANGUE

Pra quem me conhece há algum tempo já sabe que eu AMO música triste e depressiva. Nesses tempos de confinamento, nada melhor que entrar no sentimento e abraçar a causa. Já que é pra ficar em casa, melhor curtir a deprê. Essa é a ideia principal dos Suecos do Katatonia. 

O Katatonia é dessas bandas que eu considero que deveria e merecia ser mais reconhecida. É claro que eles fazem um metal meio nichado, mas acho que mesmo dentro do metal, eles ainda são subestimados demais.

Eles tem discos fenomenais e estava em pausa desde 2018 sem muita razão aparente. Eles apenas anunciaram que a banda daria uma pausa. Ainda bem que a banda fez um hiato de apenas 2 anos e agora podemos ouvir essa maravilha.

É uma música melancólica, com a voz linda e limpa do Jonas Renkse. Apesar de ser ainda muito Katatonia, essa música é mais rápida do que o convencional da banda, que geralmente é mais arrastado e sombrio. O single Behind the Blood é mais rápido, soando até como um heavy metal tradicional do movimento britânico dos anos 80. Mas vou parar de falar (já estou no Hype total aqui) e deixar o link pra você ouvir e curtir. Depois me diz se gostou 🙂

Ouça Aqui o Single Behind the Blood


Vinícius Cabral

A AGENTE COLORIDA DO CAOS

Pra começar:

Musicalmente, Miss Anthropocene é o melhor álbum de Grimes.

Os arranjos luxuosos, na medida entre o ousado e o preciso, embalam algumas das melhores melodias de sua carreira. E o álbum já começa deixando isso claro, com duas faixas absurdas (So Heavy I Fell Through The Earth e Darkseid) até chegar em Delete Forever, o single inusitado com violões e levada de trilha sonora de filme de High School americano, antecipado por um brilhante videoclipe. Além de refrões em singles matadores (Violence, My Name Is Dark), Grimes explora também com maestria os ambientes e climas (So Heavy I Fell Through The Earth, Before The Fever), expõe sua própria voz de uma forma inédita (sem apoio massivo de efeitos ou autotune) e chuta o balde completamente com a magnífica 4AEM, um climão pós-cyber-punk que se desdobra em uma espécie de drum’n’bass (!!!). Alguns têm chamado atenção para uma possível falta de inventividade nesse conjunto de canções (em uma era de PC Music, Charli XCX, etc), mas eu acho que isso é só “caça hype” de internet. Grimes é tão hábil em sua criação (desde sempre) que consegue aludir à sonoridades retrô sem parecer estagnada. Não precisa inventar algo, pq seu universo estético parece, quase sempre, suficiente, específico e auto determinado. E é aí, talvez, que more a próxima questão.

Pra terminar:

Conceitualmente, Miss Anthropocene é o pior álbum de Grimes.

A personagem da vez de Claire Boucher é uma vilã antropomórfica. Uma espécie de deusa da mudança climática, que veio nos anunciar a inevitabilidade da destruição do planeta. Uma distopia absolutamente insensível em um momento crítico para a história da humanidade. Embora o negacionismo terraplanista pareça imperar, é difícil esconder o consenso: o planeta já está em chamas. E Grimes, sem a menor ironia (a era da ironia acabou, aceitemos), aceita o desastre, como canta em My Name Is Dark: “So we party when the sun goes low / Imminent annihilation sounds so dope”. Se para ela a aniquilação parece uma brincadeira de videogame, para muitos de nós é uma realidade a ser evitada a unhas e dentes. Sua solução? Entregar a falência humana ao controle da inteligência artificial, superior e, para a artista, salvadora. Pena que poucos de nós possam vislumbrar a perspectiva de carregar suas consciências para uma nuvem, não é mesmo?

Chegando ao final do disco, porém, grimes parece abraçar a beleza de sua tragédia de uma forma quase ingênua, com ares shakespearianos. De fato, em uma entrevista recente a compositora chegou a se referir ao universo romântico do dramaturgo do Séc. XVII como um dos precursores do universo pop. Nas palavras dela: Shakespeare seria tipo “a Britney Spears da época”. Eu concordo.

Grimes nos redime (ou se redime) de sua distopia insensível e imprópria com versos melancólicos e tristes, em cima de uma melodia belíssima e sutil, na faixa final, IDORU: “I wanna play a beautiful game / Even though we’re gonna lose”.

Será que vamos perder? Será que chegamos ao ponto de não retorno? Tudo o que eu posso fazer, por ora, é abraçar a incerteza e me deixar emocionar com o lamento poético e melódico cravado pela Grimes com perfeição.

“O jogo é bonito, mas vamos perder”. Seria a vida então mais uma tragédia shakespeariana, onde a morte do final só existe para nos redimir de nossos erros mundanos?

Ainda que em profundo conflito; lanço meu veredito: Miss Anthropocene é uma obra prima. Para o bem ou para o mal.

Ouça Miss Anthropocene aqui *

*O álbum oficialmente se encerra em IDORU, com 10 faixas. No Spotify a versão do álbum contém as faixas bônus que, na minha opinião, não acrescentam nada. É possível ouvir o álbum “certo” no YouTube Music, aqui!


Márcio Viana

A ODISSÉIA DE FITO

Fito Páez e eu temos em comum a data de aniversário. Na impossibilidade de eu dar a ele um presente, escrevo este texto para agradecer o presente que ele me deu, involuntariamente: seu novo álbum, La Conquista del Espacio, com nove faixas, foi lançado em 13 de março deste ano, às vésperas desse nosso colapso, mas a tempo de nos fazer companhia no isolamento.

Repleto de convidados, o álbum tem produção muito caprichada, trazendo alguns sons que remetem a Beatles ou Elton John por exemplo, mas com a habitual personalidade do artista natural de Rosario, que compôs sozinho todas as canções, exceção para Ey, You!, em parceria com Hernán Coronel, líder do grupo de cumbia Mala Fama.

O disco já começa com grandiosidade, com as cordas guiando a faixa-título, passando para a beatlesca Resucitar, e vai em alto nível até o final, valendo destacar a temática social de Gente en la Calle, em que divide vocais com a cantora e atriz argentina Lali Esposito, com versos falando sobre pessoas a dormir na rua em Buenos Aires. Contrastando com a grandiosidade dos arranjos que dominam o disco, há também La Canción de las Bestias, gravada apenas com voz e violão.

Nós merecíamos esse carinho. Que bom que Fito, 57 anos dividiu conosco seu presente de aniversário.

Ouça La Conquista del Espacio aqui


Brunno Lopez

CULTO E GROSSO

Quero que vocês sintam exatamente a mesma coisa que eu: Esse lançamento apareceu num shuffle de streaming totalmente despretensioso. Quando percebi, era a vigésima vez que estava escutando.

Só clique no link e descubra. Não importa de onde a banda vem, quem é o cantor ou quem faz o dueto. Quero apenas que você sintam a música e a naturalidade com que ela está sendo apresentada. 

Ouça aqui 🙂


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana