Newsletter – Silêncio no Estúdio Vol. 33

9  de Março  de 2020


Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time fuça seus apps de streaming e suas discotecas (físicas) especiais para revelar o que anda nos plays recentes, embalando seus dias. São dicas especialíssimas que revelam os gostos pessoais do grupo e reforçam toda a diversidade apresentada semanalmente em nosso podcast.  


RECENT PLAYS

Bruno Leo Ribeiro

PROBLEMAS DE PASSARINHO
No episódio da semana passada, falamos sobre o Futuro do Streaming e, apesar da gente falar algumas verdades sobre os serviços de Streaming, de vez em quando eles acertam e a gente tem que elogiar.

Na minha aba de “Feito pra Você”, sempre dou uma tocada de leve no Discover Weekly e também o Release Radar. Os dois são baseados no que escuto, nas bandas que sigo e de certa forma, eu diria que eles acertam em 50% das vezes. 

Mas na última semana o acerto foi 200% preciso. 

Eles me sugeriram o lançamento do EP de uma banda chamada Bird Problem. Achei o nome interessante. A capa então, nem se fala (que você pode ver ali em cima do texto). Coloquei a primeira música pra tocar e já gostei de cara nos primeiros 30 segundos. Eu sempre tento dar a chance de ouvir a música inteira. Julgar uma música ou banda nova por 15 ou 30 segundos é meio injusto. Ainda mais se a banda for meio Jazz-Metal Progressivo.

O Bird Problem é uma banda novíssima de Montreal no Canadá e eles fazem um som bem moderno de Rock / Metal progressivo. Você percebe que eles tem esse gosto pelo Djent e pelo Metal Progressivo moderno que discutimos no episódio “Se é Djent ou Metal Modern” e eles se encaixam bem nesse estilo.

As músicas, todas as 4 sensacionais, tem alguma coisa relacionada com pássaros no nome. “Pigeon Superstition”, “Cold Turkey”, “Quailia” e “Jerk Chicken”, são as 4 músicas desse EP, que tem tudo pra ser um destaque de 2020 pra mim. 

Uma banda que tem humor, que faz músicas com estruturas diferentes, levadas e quebradas intensas, agressividade, calmaria e Jazz numa mesma música. Tem que ouvir pra ver se você gosta. Bem, eu gostei muito e andei ouvindo a semana inteira. Espero que você curta também. 🙂

Ouça aqui o EP Beyond the Nest


Vinícius Cabral

ENTRE O EXCESSO E O SILÊNCIO
Uma das coisas mais honestas e urgentes que temos levado às mesas deste podcast é a reflexão crítica sobre o formato do streaming e demais meios de consumo de música vigentes. Assunto espinhoso, que tenho enfrentado com enorme conflito. 

– De um lado; a facilidade absurda de se dar play em qualquer lançamento. Todos os dias, em meio à tarefas inadiáveis e demandas de “vida ou morte” relacionadas ao trabalho, os links se acumulam … disco novo daquele artista que eu adoro, single novo de artista promissor, reedição de um clássico sensacional, e por aí vai. As chamadas são constantes, irresistíveis. Eu, no ápice do TDAH, quero clicar em tudo, ouvir tudo, assimilar tudo. Mas é impossível, e é aí que o sistema se rompe e me traz enxaquecas (reais). 

– De outro lado; a enorme dificuldade de acessar e ouvir devidamente discos longos, clássicos perdidos ou pouco difundidos, obras cuja masterização exige, por exemplo, algum tipo de “preparo” técnico diferenciado para o consumo ideal, por aí vai. Para mim, a luta é real! 

Desde que fechei minha lista da década, não consegui ouvir uma só vez o disco triplo de Joanna Newsom (e um dos meus álbuns preferidos de todos os tempos) Have One On Me inteiro. Defenestrado do Spotify, só o encontro no YouTube Music, mas sinceramente não consigo me liberar durante duas horas para ouvir o disco com atenção na frente do computador, e me recuso a pagar mais um serviço de streaming. O álbum ainda está esgotado, então também não acho o LP para comprar (ainda que achasse, teria que desembolsar uns bons 250 reais). 

Outro disco que se tornou completamente “invisível” para mim foi o clássico-mor da esquisitice Trout Mask Replica, de Captain Beefheart & His Magic Band. Apesar de existir esse link, com qualidade razoável, é o mesmo dilema: como ouvir um disco tão grande e complexo assim, com 10 abas abertas, dentre elas um link de YouTube com uma tracklist? Eu não consigo assimilar … e diria que poucos conseguem. Aqui do lado de casa, em meu sebo favorito, dei de cara hoje com uma reedição raríssima. 300 reais … proibitivo (não, não comprei!). 

Sigo assim, afogado no excesso, no dilema entre a cacofonia e o silêncio. Há coisas demais pra escutar, e poucos caminhos para degustar os álbuns que eu queria, do jeito que eu queria. Correndo o risco de parecer velho e chato, só digo isso: precisamos nos reconectar urgentemente com o prazer de ouvir música!


Márcio Viana

MUITO ALÉM DO JARDIM

Eu confesso que não me lembrava bem do Cornershop, mas uma rápida busca no streaming me trouxe a memória de Brimful of Asha, hit do grupo que ganhou até remix de Fatboy Slim.

Fato é que o Cornershop ainda está na ativa, e veio em 2020 com um belíssimo álbum, o recém-lançado England is a Garden. E é este álbum que venho ouvindo no repeat desde que foi lançado, dia 06/03.

O som do Cornershop traz muitas referências sessentistas e setentistas, especialmente do glam e do psicodélico, aliado a um certo suingue, como fica característico em Slingshot, a segunda faixa, em que uma flauta se sobressai na canção, acompanhada de uma guitarra limpa e vocais melódicos.

A mesma flautinha reaparece em Highly Amplified, num clima de jam session com a banda e um naipe de cordas.

Dá pra ouvir sem pular faixas, tranquilamente. Ainda é cedo, mas existe grande chance de figurar em listas de melhores do ano.

Outro disco que ando ouvindo é o de estreia do duo luso-mineiro Spicy Noodles, formado pela cantora e instrumentista mineira Érika Machado e a tecladista portuguesa Filipa Bastos. Érika, já razoavelmente conhecida em território nacional, sobretudo por sua proximidade com os conterrâneos do Pato Fu, juntou-se a Filipa para lançar o inspiradíssimo Sensacional!, co-produzido remotamente por John Ulhôa (as maravilhas da rede que encurtam as distâncias) e gravado em estúdio portátil. 

Para quem está carente de lançamentos do Pato Fu, dá pra enxergar muita semelhança no som e na temática do duo, o que não tira a originalidade do trabalho. Os destaques ficam para o primeiro single Leve Leve (que encerra o álbum), José Francisco e principalmente a faixa-título, com o divertido refrão que diz “às vezes me sinto Mr. Bean, às vezes me sinto Charlie Brown”. Quem nunca?

Ouça aqui England is a Garden, do Cornershop

Ouça aqui Sensacional!, do duo Spicy Noodles


Brunno Lopez

DA PRIMEIRA AUDIÇÃO PARA A MELHOR DE 2020
Meus ouvidos ganharam mãos enormes e estão aplaudindo uma certa música de uma certa banda ininterruptamente. Quase tenho chegado ao limite entre a adoração e o perigoso ponto de enjoar da canção, pois realmente trata-se de um trabalho impecável, viciante e colecionador de repeats.

Falamos sempre de Hard Rock por aqui e pudemos acompanhar o crescimento de bandas do estilo no mainstream, principalmente no fim de 2019.
É sem qualquer medo de errar ou mudar de ideia que menciono o single mais impressionante desse primeiro trimestre a todos vocês: “Invisible”, da banda de Oklahoma City, ARANDA.

Toda a estrutura da música é absurdamente cativante, mas imaginem a minha experiência incontrolável quando me deparei em lágrimas quando o refrão se apresentou. Existe uma química tão assustadora entre letra e melodia nesse ponto que eu me senti viajando no tempo, revivendo emoções aleatórias que a canção trouxe.
Talvez pareça exagero ou excesso de sensibilidade, mas tem algo de magnético e irresistível nesse single do grupo.

Aí resolvo pesquisar um pouco mais sobre a banda e me deparo com uma tragédia brutal ocorrida com o baterista Michael Walker, que foi assassinado junto com a sua mulher pelo próprio filho, de 19 anos.

Vivemos tempos nebulosos e violentos, cada um busca se segurar em algo e seguir em frente.
A música é uma forma de se viver para sempre, mesmo com as armadilhas assassinas do cotidiano. O episódio, apesar de já distante, me impactou em muitas esferas mas preferi reforçar ainda mais o material da banda que virá por completo logo mais.

Ouçam. Não dá pra saber quando será a última vez.

Ouça ARANDA aqui


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana