Na newsletter desta semana, nosso time destaca as principais notícias, curiosidades, acontecimentos relevantes e/ou inusitados do mundo da música ou, simplesmente, alguma curiosidade ou indicação. Claro que, cada um à sua maneira, e abordando sempre o universo musical de sua predileção.
NOTÍCIAS & VARIEDADES
Por Vinícius Cabral
A CRÍTICA DA CRÍTICA SEM CRÍTICA
Gastei muitas linhas este ano por aqui reclamando do atual estado da crítica musical gringa. Me parece que, generalizadamente, ela está em um círculo vicioso. Apresenta um viés (favorável ou desfavorável a cada obra) e segue em uma defesa deste viés amparada por abstrações inacessíveis; metáforas, figuras de linguagem, devaneios quase poéticos. Não faz uma exegese, que seria mergulhar na obra e identificar as proposições que estão na obra, clamando por serem identificadas – mais do que interpretadas ou negadas. Em bom português, é uma crítica surda.
Por falar em português, quando passamos a olhar o cenário brasileiro do jornalismo musical, o quadro não é menos dramático. Existem diversos sites, comandados por poucos indivíduos e colaboradores, que fazem um esforço hercúleo para tentar dar conta de tudo. São iniciativas como Hits Perdidos, Trabalho Sujo, Scream and Yell, Música Instantânea (entre muitos outros), que colocam novos artistas nos holofotes, apresentam entrevistas e perfis, textos históricos reflexivos e, às vezes, reviews (de shows, ou discos). Neste último quesito, parecemos repetir alguns cacoetes da crítica gringa.
Pego como exemplo o último trabalho do rapper Kamau. Depois de quase 10 anos sem lançar material, o artista soltou diversos singles em 2023, que foram finalmente compilados este ano em uma obra espetacular, chamada Documentário. Falarei mais do disco (ou da “sequência”, como o artista prefere) em breve. Por ora basta dizer que as informações sobre o trabalho espalhadas pela web são escassas. Achei algumas entrevistas no YouTube (bem mais informativas do que os releases). Nos sites de música mesmo, apenas alguns parágrafos, que parecem ser um “copia e cola” do release do próprio artista. Em três sites é possível ler exatamente o mesmo texto, que não passa da própria descrição que o artista fez do trabalho. A única crítica que encontrei chega até a refletir mais detidamente sobre a obra, citando algumas letras e ensaiando um mergulho. Mas cai na armadilha de fazer um juízo de valor não solicitado, colocando julgamentos pessoais acima da exegese. Falar “bem” ou “mal” de determinados aspectos de uma obra não é crítica. É opinião.
Mas vejam, não estou aqui querendo ensinar ninguém a escrever crítica musical. Nem mesmo afirmo que o que eu escrevo é, sempre, crítica. Mas é fato que, no Silêncio no Estúdio, tentamos sempre apresentar informações que derivam da obra, sem muito juízo de valor. Optamos por trazer referências, traçar genealogias, identificar marcadores de gênero. Não sei se isso é, propriamente, crítica musical. Mas é, sem dúvida, um exercício crítico. É propor um pensamento sobre música que transcende a opinião.
Só que, para fazermos isso, são necessárias duas coisas, totalmente contraintuitivas nos dias de hoje: 1. propor recortes editoriais que só atendem, necessariamente, as cenas que temos repertório e interesse em descortinar , e 2. não adotar um ritmo frenético de audição musical, compatível com a quantidade absurda de lançamentos que o cenário atual nos impõe.
É por isso que esse texto não é, nem de longe, uma crítica (no sentido de reclamação, ou juízo) aos poucos sites que carregam todo o piano nas costas no Brasil, falando de tudo o que é lançado. Neste contexto, sendo impossível se debruçar sobre as coisas, é inevitável o ctrl c+ctrl v, o ChatGPT como redator auxiliar e outros artifícios. Não é essa nossa proposta, e continuará não sendo. Buscamos um equilíbrio, sem dar passos maiores que nossas pernas, para mantendo o pensamento crítico vivo. E fazemos também um convite a outras iniciativas.
Que tal se começarmos a desacelerar? Escrever um texto como este leva algumas horas, entre pensamento, redação, revisão, etc. Mas vale a pena. Se cinco pessoas lerem, e levarem para seus corações as ideias que proponho aqui, já terá sido válido.
É necessário também dar um pequeno spoiler. Em 2025 nosso projeto apresentará algumas mudanças. Que vão de encontro a tudo isso que temos refletido. Enquanto isso, vocês podem continuar escarafunchando a extensa lista dos melhores de 2024 de cada um dos nossos colaboradores aqui!
Por Bruno Leo Ribeiro
CONCORDO COM O RELATOR (ACIMA).
Li uma frase uma vez que faz todo o sentido: “A Crítica deve sempre ser feita com juízos sérios e não com prejuízos.”
Existem estilos e estilos. Tem gente que gosta de falastrões que falam mal de tudo e quem concorda vira fã. Isso gera raiva, debate, polêmica e muita atenção. Já a crítica que debate a obra fala sobre seus contextos, linguagens e estética. É falar: “Esse disco, com influências de X, tem toques de uma estética Y e a obra soa como inovadora dentro do contexto de Z.”
Claro que uma “crônica” misturada com crítica sempre terá uma observação de gosto pessoal. É um recorte de um momento da pessoa que ouviu. Quantos discos eu ouvi anos depois e passei a amar? Vários. Quantos álbuns eu amava e hoje não escuto mais, já que não curto mais tanto? Inúmeros. É tudo contexto e tempo.
Gosto de críticas que têm uma certa anedota pessoal, que colocam quem escreveu ali no seu contexto pessoal para falar como se sentiu ouvindo certa música. É assim que eu tento sempre fazer. E é o que tenho tentado melhorar a cada newsletter. Mas sempre sendo abertamente clubista e emocionado. Criamos o Silêncio no Estúdio pra isso. Pra gente dedicar toda a energia em falar do que a gente gosta. Sendo clássico, novo ou uma descoberta de pouco tempo atrás.
O texto do Vini acima é bem melhor do que esse meu aqui, mas queria só escrever um pouquinho mais do que “sem palavras! Concordo com o Vini” (um pleonasmo aqui do nosso time).
E reforçando o micro spoiler: ano que vem teremos algumas mudanças. Vamos desacelerar um pouco pra nos dedicarmos melhor. Uma mudança editorial de 7 temporadas de podcast. Que loucura! Vamos talvez ser mais do que apenas um podcast? É o que queremos. Vamo junto! Queremos uma comunidade. Nos aproximar. Queremos uma troca mais pessoal.
Um texto ou episódio é pra muita gente, mas é pra uma pessoa só. Se um novo play for dado com sucesso, nosso trabalho continua fazendo sentido.
Amo vocês e um feliz Natal!
Por Márcio Viana
ANTES QUE SEJA TARDE
Como dissemos no episódio de melhores do ano, as listas são retratos do momento em que foram pensadas, e se eu fizer uma leitura das minha próprias escolhas agora, é provável que a ordem mude de alguma forma. Além disso, começa o exercício de ouvir as escolhas dos colegas pra sentir o que talvez tenhamos deixado passar.
Dá também pra dar uma olhada nas listas de publicações em geral e rever algumas coisas.
Eu simplesmente me esqueci do disco do Ekko Astral, grupo de Washington DC que pratica uma mistura de noise punk com art rock bastante interessante, e este ano lançou seu álbum de estreia, pink balloons.
Com letras irônicas que passam pelos clichês da música pop e sobre o capitalismo, entre outros temas, junto ao som que busca – segundo eles próprios – a disrupção, parece uma boa escolha para quem ainda está tentando descobrir o que foi o ano.
Ouça no Bandcamp:
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É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana