Na newsletter desta semana nosso time destaca lançamentos que têm feito suas cabeças. A coluna também permanecerá em aberto para que nossos colaboradores possam trazer pautas livres, caso o ritmo de lançamentos não seja satisfatório.
LANÇAMENTOS/PAUTA LIVRE
Por Vinícius Cabral
O DRAGÃO DA MALDADE (OU, O DRAGÃO TRANSCENDENTAL DE BONIFRATE)
Em algum lugar eu li o Bonifrate dizer que Dragão Volante era seu melhor álbum. Ele está certo.
Ainda que seja difícil tirar destaques de uma discografia tão prolífica, o último disco do artista fluminense desponta como um verdadeiro dragão. As baforadas quentes geram um som “aconchegante” (como o artista mesmo define), mas também podem te queimar. É neste pêndulo, entre um abraço pacífico e a guerra declarada, que Dragão Volante se coloca.
Ou nos coloca.
O disco começa com Alfa Cruz, o “épico de abertura”, que é realmente um épico, mas sem a pompa e a arrogância dos épicos tradicionais. A canção é charmosa e única, naquele cruzamento entre Erasmo Carlos e Super Furry Animals que só o Bonifrate consegue nos trazer. A música cresce, a partir de uma bela frase harmônica circular, e culmina em dois últimos versos, pontuados por um solo melódico de guitarra que está entre as melhores coisas do rock nacional dos últimos anos. A primeira vez que isso acontece, aos 4:12 da música, chega a ser covardia (você pode ter essa experiência logo abaixo).
Notem que, até agora, só falei de uma faixa. O resto do disco não perde muito a mão. Segue-se uma sequência matadora até a seminal Teto de Estrelas. Essa mais voltada àquelas melodias complexas e carinhosas do pop dos anos 70. Pedro se desdobra aqui como uma espécie de Todd Rundgren dos brejos fluminenses. A música é luxuosa, com uma harmonia riquíssima e viradas melódicas redentoras. 5 faixas adentro, o disco só cresce. E não para aí.
Pedro ainda tem mais novidades em sua caixa de ferramentas. Ando Cabreiro me desloca um pouco das associações que sempre faço do som de Bonifrate com os clássicos do indie noventista e com a tradição do rock nacional dos 70, e me remete a projetos gringos recentes. É uma música que poderia facilmente ter saído da discografia de Spirit of The Beehive, ou Feeble Little Horse.
Outra música que me chama muito a atenção (desta vez mais pelo aspecto lírico) é a canção Fuga da História. Na verdade, ele não foge da história, mas a recria em versos brilhantes, partindo dos visigodos e bantos e chegando à mítica Califórnia dos “paspalhos” que “compram até seu passo”. É uma dessas músicas que mostram o quanto Bonifrate é, também, um trovador. Um contador de histórias densas, sempre adornadas com uma sensibilidade indie bastante rara.
Ainda cabe aqui uma reprise de Grande Nó, de seu disco anterior, Corisco, e a bela Pedra de Raio; um final curto, sutil e delicado para um disco que não somente te abraça, como digo lá no início. Ele também te instiga com a mística do dragão. Que nem sempre é da maldade, mas que também pode ser. O dragão da nossa miséria, da nossa raiva, da nossa urgência de libertação (“do deserto ao mar”). Da nossa música.
Dragão Volante é filho de Corisco, mas se cria em novos ares. Logo para um artista que nem precisava mais se reinventar. Mas que se reinventa lindamente.
Pra finalizar, é preciso dizer que Dragão Volante não é apenas o melhor disco de Bonifrate. É o melhor disco do rock brasileiro de 2024. De longe.
Por Bruno Leo Ribeiro
SEM MISERICÓRDIA
As últimas oito semanas foram agitadas com tantos lançamentos, o que de certa forma, até deu um gás no fim do ano. Até mais ou menos agosto, eu estava achando o ano um pouco abaixo da média. Alguns álbuns de pop viralizaram, viraram memes, foram assunto, mas nada que realmente me pegasse. Então na primeira semana de outubro, saiu o melhor disco do ano para mim até agora (e provavelmente será até o final): The New Sound, do Geordie Greep, que já escrevi aqui na newsletter.
Desde então, muitos lançamentos bons apareceram. Tivemos Soccer Mommy, Jerry Cantrell, Poppy, Opeth, Kim Deal, só para citar alguns. Mas houve um que me surpreendeu de forma extremamente positiva e estou encantado: Merciless, dos veteranos do Body Count. Que disco, meus amigos!
Com produção de Will Putney, o Body Count se encaixou perfeitamente na linguagem moderna e adaptou seu som para os tempos de hoje, entregando uma pedrada que mistura crítica social foda com metal. É um álbum que flerta com o thrash, mas também carrega elementos de “rap-metal”. Li algumas críticas que não entendi muito bem. Alguns disseram que o pico de musicalidade e criatividade do Body Count ficou no passado. Discordo 100%. Para mim, a banda soa mais nova e renovada do que nunca.
O disco conta com participações especiais de peso, como Howard Jones (ex-Killswitch Engage), George “Corpsegrinder” Fisher (Cannibal Corpse), Joe Bad (Fit For An Autopsy) e o mestre Max Cavalera. Além disso, há a participação icônica de David Gilmour, que gravou o solo no cover de Comfortably Numb. Esse cover ficou simplesmente fantástico.
A lição que fica é a seguinte: com review bom ou ruim, a gente precisa dar play. Muitos desses reviews não debatem a obra em si, mas apenas expressam opiniões pessoais – e tá tudo bem. Um dos discos mais falados do ano, por exemplo, não me agradou, mas prefiro nem falar sobre ele. Melhor focar no que realmente gosto e compartilhar isso aqui.
Por Márcio Viana
PARA O OESTE, MEU JOVEM!
Não sei se dá pra chamar o West 11 de supergrupo. O fato é que o núcleo formado por Beth Hirsch (voz em várias canções de Moon Safari, do Air), Phil King (ex-Lush e Jesus and Mary Chain) e Mark Shaw (ex-Crewe’s Train Set e residente em Portugal) se reuniu em torno deste novo projeto, com apoio de mais alguns músicos, e lançou seu álbum de estreia, Atlantic Coast Highway.
Diante desta formação e sua experiência, não espere uma sonoridade previsível. O som é bem mais orgânico do que o de Moon Safari (até porque não é o Air).
Atlantic Coast Highway foi gravado em Portugal, e ao seu modo, é conceitual: trata de uma fictícia rodovia, como um paralelo à existente Pacific Coast Highway.
São 11 faixas com a voz de Beth Hirsch no centro de tudo. Minha favorita, o single Love Resistance, é uma regravação de um single de um antigo projeto dos anos 80 de Phil King, o Apple Boutique.
Fica aí o convite a embarcar no conversível e pegar essa estrada com o som ligado.
Por Brunno Lopez
MÚSICA PRA SE SENTIR BEM. COM UM ANO DE ATRASO
O oitavo pecado capital certamente é não conseguir ouvir obras primas no ano de seus lançamentos. Sem dúvidas, meu 2023 seria consideravelmente mais radiante se tivesse colocado ao menos 2 segundos da srta. Endea Owens pra tocar.
Pouco importa se a baixista, compositora e gênia de 36 anos já ganhou um Emmy, um Grammy e os caralhos a quatro que tanto rotulam qualquer cenário musical. O ponto sempre será como a música toca e aqui, num jazz que pode ser uma máquina do tempo para passado e futuro, ela faz as cachoeiras correrem ao contrário.
Feel Good Music é uma luz radioativa que aproveita o buraco da nossa camada de ozônio de informações irrelevantes pra queimar a nossa pela com vitamina D boa. Abandonem seus protetores solares e deixem “Where The Nubians Grow” marcar a sua epiderme.
Ou melhor, experimentem “Miss Celie’s Blues”.
É tão bonito quanto o fim da escala 6×1.
Ouça aqui
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana