Na newsletter desta semana, nosso time destaca as principais notícias, curiosidades, acontecimentos relevantes e/ou inusitados do mundo da música ou, simplesmente, alguma curiosidade ou indicação. Claro que, cada um à sua maneira, e abordando sempre o universo musical de sua predileção.
NOTÍCIAS & VARIEDADES
Por Bruno Leo Ribeiro
MESMO SANGUE
Uma das coisas mais difíceis de fazer, seja na arte, na escrita ou em qualquer outro tipo de criação, é o ato de editar. Cortar o que não interessa. Enxugar o desnecessário para deixar apenas o essencial. Complicar as coisas pode muitas vezes parecer um atalho para tentar enganar que se é mais competente. É como jogar purpurina quando se está suado. Mais atrapalha do que ajuda a embelezar.
Poucas pessoas conseguem ver a essência das coisas do jeito mais simples possível. E talvez ninguém tenha captado tão bem a essência dos riffs de guitarra de Tony Iommi do Black Sabbath quanto Jerry Cantrell, líder e guitarrista do Alice in Chains. Ele parece enxergar a matrix daqueles riffs, e suas músicas sempre começam dessa forma – riffs muito bem feitos, criativos e simples. Dá pra cantarolar dezenas de riffs de guitarra da carreira do Alice in Chains, desde a explosão de Them Bones até o refrão grudento de Man in the Box ou a genialidade de uma nota só usando bend em Check My Brain.
Em seu quarto álbum solo, I Want Blood, Jerry Cantrell nos entrega mais um disco cheio de riffs e melodias, mas com sonoridade de banda. Não soa como um trabalho estritamente solo. Ele expande seus gostos e referências e nos presenteia com músicas como a faixa-título, “I Want Blood”, que é mais Hard Rock trilha sonora de viagem na estrada, do que de seus famosos ritmos arrastados e melancólicos (embora o álbum tenha isso também, ainda bem!).
Apesar de não estar com sua banda principal, Jerry se juntou a grandes nomes, como Duff McKagan (Guns N’ Roses), Rob Trujillo (Metallica) e Mike Bordin (Faith No More), entre outros convidados, formando um super time para dar suporte às suas ideias. Parece que Jerry é um riff em forma de pessoa, sempre cheio de ideias e quando precisa, ele externaliza seu bom gosto.
O Alice in Chains não lança um disco desde 2018 e a minha impressão é que Jerry Cantrell tem muito mais cuidado ao mexer no catálogo da banda, evitando alterar a perfeição da discografia. Por isso, ele usa seu projeto solo para experimentar e se permitir mais liberdade, sem ficar preso a algo idealizado pelos fãs do Alice in Chains. Desde 2018, ele lançou dois discos solo: Brighten em 2021 e I Want Blood agora.
Mesmo assim, o Alice in Chains continua fazendo shows e turnês nesses intervalos. Parece um acordo bacana entre ele e a banda, onde todos ficam felizes. Enquanto não temos material novo do Alice in Chains, podemos continuar viciados e aprendendo a cantarolar os riffs de Jerry Cantrell em seu novo disco. Lembra Alice In Chains? Claro que lembra (que bom!). Ainda é o mesmo sangue criando todos esses riffs maravilhosos, mas soa diferente. Tem que conferir.
Por Vinícius Cabral
NOVIDADES NA MÍDIA MUSICAL
Não sou só eu que ando exausto com a atual mediocridade dos portais mainstream de música. Nos últimos tempos, um grupo de jornalistas tarimbados, a maior parte deles saída da Pitchfork, lançou um novo portal de música, chamado Hearing Things. Trata-se de um site que promete não ter algoritmos curando automaticamente páginas iniciais em busca de mais “engajamento”, e que garante liberdade editorial para destacar o que acharem mais adequado. A proposta está bem descrita no about do site, e já mostra alguns resultados práticos.
Boa parte do inferno que estamos vivendo diz respeito ao que eu chamo do excesso que produz a escassez. Quanto mais informação é atirada em nossa direção, mais temos dificuldades de aprofundar o conhecimento. Entram aí os algoritmos, as “dicas” recortadas (na verdade, por IAs) e os malditos “cortes”- tirando conversas complexas do contexto para servirem como reforço, pra variar. Tudo na web se transformou em reforço, com muito pouco espaço para debate, crítica e conhecimento.
Hearing Things oferece um antídoto para isso tudo no pensamento musical. O portal funciona como um site pré-histórico, que te estimula a navegar pelas seções e descobrir as coisas. Nos reviews, caem as notas categóricas, e entram textos mais descritivos e críticos. Ao invés de uma seção de “Melhores lançamentos“, a empolgação de um selo “Tem que ouvir” destaca os álbuns que a equipe mais gosta. Listas? Eles também já fizeram uma, mas com disposição alfabética (o que é mais democrático e menos polêmico).
Só que tudo isso está diagramado de uma forma não hierarquizante. Você tem que navegar um pouquinho (só um pouquinho, vai, não tenham preguiça) para achar um artigo legal como “Qual sua canção favorita em um álbum Debut?”. São provocações instigantes, como algumas das que fazemos em nossos episódios de mesa. A gente quer, afinal, falar de música, e não com quantos views estreou a última diss entre Drake e Kendrick.
Há, enfim, não só pelo Hearing Things, mas por uma crescente vontade que percebo se espalhando de organizar as informações de modos diferentes, um respiro no cenário musical. Eu já embarquei de primeira hora, e descobri alguns dos lançamentos mais legais do ano por este site (que tinham passado totalmente batidos). Vamos ver se a coisa se sustenta – literalmente.
Por Brunno Lopez
A VOZ DE 2024 ESTÁ EM TODO LUGAR
Chame de obsessão, de veneração, de admiração absoluta, de fanatismo tardio, sei lá. Enquanto existir espaço para fazer o timbre de Charlotte Wessels ir mais longe, não pouparei o devido destaque merecido.
Dessa vez, a holandesa emprestou suas cordas vocais encantadas à uma canção de prog muito bem arranjada para o Chasing Zeniths, um projeto bem interessante de um sujeito chamado Carl Kernie – curiosamente conhecido nas rodinhas como “wicked smart rabble-rouser of the finest manners”.
Com um apelido desse, a expectativa de qualquer produção é evidentemente grande e talvez por isso ele tenha colocado a srta. Wessels pra entregar essa experiência.
É uma boa notícia. É uma boa novidade.
Por Márcio Viana
NÃO SE VÁ, NÃO FIQUE
Tem uns músicos que parecem incansáveis. Barrett Martin, ex-baterista do Screaming Trees e de vários projetos, acabou de produzir e tocar em um extenso disco do Nando Reis, mas tá aí com novo trabalho ao lado de Peter Buck (ex-REM), outro que acumula projetos (inclusive também tocou no disco do Nando Reis) e Rich Robinson, do The Black Crowes.
Junto a eles, o cantor Joseph Arthur completa os Silverlites, que projetam o lançamento de seu disco de estreia para 15 de novembro.
Enquanto o álbum não chega, o supergrupo lançou o primeiro single, Don’t Go, Don’t Stay. Tem uma crueza que explora a mistura entre as bandas de origem dos instrumentistas, mas não dá pra encaixar muito na prateleira de algum deles.
O disco é produzido por outro ícone, Jack Endino.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana