Na newsletter desta semana, nosso time destaca as principais notícias, curiosidades, acontecimentos relevantes e/ou inusitados do mundo da música ou, simplesmente, alguma curiosidade ou indicação. Claro que, cada um à sua maneira, e abordando sempre o universo musical de sua predileção.
NOTÍCIAS & VARIEDADES
Por Bruno Leo Ribeiro
DESCULPA AÍ, IRMÃO
Justin Vernon, mais conhecido como Bon Iver (que em suas novas fotos parece estar fazendo cosplay de Rick Rubin) acaba de lançar a música “S P E Y S I D E”. Fui procurar a definição dessa palavra e encontrei algumas coisas. Traduzindo seria alguma coisa como Lado do Espírito, mas também é um whisky single malt escocês destilado em Strathpey perto do Rio Spey, mas também é uma pessoa com quem você fica presa, speyside é uma dor que você não consegue apagar.
Acho que a música representar isso tudo. É o primeiro single do EP SABLE que sai no dia 18 de outubro. Composta basicamente voz e violão, a música é uma confissão sincera e melancólica. Ele reflete sobre erros e arrependimentos, culminando com a frase “Man, I’m so sorry”, uma das mais diretas de sua carreira. O Bon Iver se destaca pra mim pelo seu poder da simplicidade e pela profundidade emocional.
Essa nova fase mostra sua habilidade de transformar sentimentos em experiências universais. “S P E Y S I D E” surpreende pela suavidade, uma mudança em relação às experimentações eletrônicas de trabalhos anteriores. Me leva pra um lugar mais próximo do que ele fez em For Emma, Forever Ago de 2007 que amo tanto. Vale o play.
Por Vinícius Cabral
CHATO DO CARALHO
Ando meio de saco cheio do blá-blá-blá retórico que tomou conta da “crítica” contemporânea. Coloco inclusive a palavra (crítica) entre aspas, porque o que andamos lendo/ouvindo passa longe de ser crítica. Pra ser mais específico, dois momentos recentes me deixaram pistola com dois dos veículos mais hypados da “crítica” da última década.
O primeiro foi o horroroso review da Pitchfork do último álbum de Nilüfer Yanya. Horroroso não; abstrato, viajado, irrelevante. O autor do texto gostou do álbum. Eu não. Mas isso é, também, completamente irrelevante. O ponto é que o que era pra ser crítica- contextualizar o trabalho, cavar as referências, falar da obra em uma exegese- acabou se transformando em defender uma premissa (“este álbum é bom”) e sustentá-la a partir de pseudoargumentos (“eis o porquê”).
Neste caso, os “argumentos” são apenas abstrações/máximas absolutamente desnecessárias- como em: “a ‘espinhudez’ do romance como temática lírica”. Meu irmão em cristo; o que diabos é a “‘espinhudez’ do romance”, ô arrombado? Claro que o senso comum nos diz que algo que é de natureza espinhosa é desafiador, ou doloroso, mas vocês acham sinceramente que um texto sobre um álbum precisa ficar cuspindo códigos a serem decifrados? Os únicos códigos que quero decifrar a partir de um álbum são os que a própria música me apresenta. Quando o texto é um “desafio poético” à parte, podem saber: não é crítica.
O outro momento que me deixou de cabelo em pé* foi o review de Anthony Fantano (do famoso canal The Needle Drop) para o disco novo do MJ Lenderman, o Manning Fireworks – por sinal, um disco que está no hype, e que, apesar disso, é um dos meus álbuns favoritos do ano (explicarei o porquê com mais eloquência, em edições futuras). Fantano não explica nada. Segue a lógica de defender uma premissa (neste caso a de que “este álbum é fraco”) e se enrola mais nos pseudoargumentos do que o pobre autor do review do álbum da Nilüfer.
Ele basicamente reconhece todas as referências (positivas) que MJ acessa, mas diz que é tudo “mal executado”, e que as canções são “fracas”, com “progressões simples”. Como assim “mal executado”? É mal cantado? Mal tocado? Mal gravado? Se assim for, será que esses “problemas” de execução fazem parte da proposta? É proposital? Nunca saberemos, porque Fantano não nos explica. Ele apenas lança isso no ar, e passa o restante do seu review detonando as letras de MJ no álbum (algumas realmente infantis, confesso). Sobre isso, caberia uma reflexão: o quanto essas letras são limitadas porque o indie pop anda limitado liricamente? O quanto isso tem a ver com o fato de que o inglês (esse “dialeto de piratas”, como disse uma vez o Peirce) é extremamente limitado? Acho que foi o Gessinger uma vez quem disse que, em inglês, você pode rimar tranquilamente sky com fly que ninguém tá nem aí. No Brasil é um pouco mais complicado a gente se safar de rimar amor com dor. E que bom!
Todas essas reflexões seriam possíveis- e necessárias – não fosse por um simples problema; Fantano interdita o debate ao se recusar a fazer crítica. Joga isso tudo no ar, a esmo, dá uma nota 3 para o álbum e pronto. Não gostei- aqui está o porquê. Só que os porquês são tão arbitrários quanto os de Matthew Schnipper, que assina o review de My Method Actor, disco novo de Nilüfer. São arbitrários por caminhos diferentes: Fantano “lança” clichês prontos em nossa direção, enquanto Matthew recorre à figuras de linguagem e abstrações “bonitinhas” para florear uma peça que, no fundo, existe para elogiar o álbum.
Quando a gente reduz a crítica musical à defender ou detonar uma obra, aí é porque a coisa já desandou. E fica a sensação, no fim das contas, de que esses textos são apenas blá-blá-blá de uns chatos do caralho que estariam melhor aproveitados escrevendo poesia ruim. Acreditem, eu tenho certeza que o mundo não precisa de mais poesia ruim, mas pelo menos a poesia eu consigo evitar. O pensamento sobre música não.
E, em termos de pensamento, infelizmente, não andamos bem.
*Não podia deixar de registrar a ironia do “cabelo em pé”, sendo que Fantano não tem cabelo.
Por Brunno Lopez
CHARLOTTE, QUE OBSESSÃO É ESSA?
Desde o Delain, o timbre dessa maravilhosa cantora holandesa faz morada nos ouvidos dos adoradores do – já desgastado – metal sinfônico. Entretanto, mesmo dentro da cena, a srta. Wessels conseguia soar marcante. Dava pra notar que o talento era maior que o clichê estabelecido naquele segmento e que a artista tinha asas gigantescas pra voar pra onde quisesse.
E ela foi explorar esse poder por outras nuances, como pudemos conhecer nos dois volumes de Tales From Six Feet Under. De fato, ela pode cantar qualquer coisa e faz suas escolhas parecem absolutamente geniais.
Agora, Charlotte Wessels ajusta sua rota para atravessar o universo do metal com novos trajes. Claro, acerta em cheio. The Obsession realmente produz o que seu nome quer dizer, tornando até os mais desatentos, potenciais fãs.
Eu já havia mencionado aqui sobre a excelente parceria dela com Simone Simmons em ‘Dopamine’. Não ficou só nisso, ela também nos presenteou com a voz limpa da poderosíssima Alissa White-Gluz, em ‘Ode To The West Wind’.
Engana-se quem pensa que Wessels precisa se escorar nesse calibre de participações. Dobre os joelhos e experimente “The Crying Room”, uma daquelas canções que fazem discos lançados em 2024 valerem a pena.
Impecável, adorável, obsessão.
Por Márcio Viana
TRETA, TRETA, TRETINHA
Enquanto todo mundo espera para saber se a volta do Oasis (e você poderá conhecer as nossas reflexões no episódio que sai esta semana) vai ser marcada pela paz entre os irmãos ou será azeitada com o picante molho da treta que sempre os caracterizou, o mundo do rock continua quente.
Tivemos nas últimas semanas uma briga meio inexplicável (ok, é até explicável, mas não totalmente) entre os integrantes do Jane’s Addiction em pleno show.
Para quem esteve alheio ao fato, Perry Farrell partiu para cima do companheiro de banda, o guitarrista Dave Navarro, no show no Leader Bank Pavilion, em Boston, Massachusetts. Foi contido por roadies e pelo baixista Eric Avery, que também talvez tivesse alguma questão com o vocalista, e aproveitou para aplicar uns carinhos de mão fechada no estômago do colega.
Como não poderia deixar de ser, a turnê da banda foi cancelada, e em postagem recente, Navarro expressou seu lamento, dando a entender que este é o fim da banda.
Costumo dizer que sou contra retornos, no futebol e no rock, e geralmente eu penso nisso pelo fato de que com muita frequência a decisão pela volta é tomada sem que problemas passados sejam resolvidos. No caso do Jane’s Addiction, havia o afastamento de Dave Navarro por problemas de saúde, em um período em que foi substituído pelo operário do rock, Josh Klinghoffer (que, assim como Navarro, foi guitarrista dos Red Hot Chili Peppers, e acumula trabalhos com nomes como Pearl Jam e Redd Kross, por exemplo).
Não sei se o problema era realmente o alegado por Farrell – o som muito alto, o que em teoria faria ser mais justo ele tentar agredir o técnico de som – mas essa roupa suja lavada em pleno palco leva a pensar se a banda chegou a um ponto de não retorno, ou se dá pra conversar.
Havia a possibilidade de um álbum com a formação clássica da banda, e um single, True Love (que irônico), foi lançado após o cancelamento da turnê. Resta saber se este é o canto do cisne ou as coisas se acertam.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana