Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time destaca lançamentos que têm feito suas cabeças. A coluna também permanecerá em aberto para que nossos colaboradores possam trazer pautas livres, caso o ritmo de lançamentos não seja satisfatório.
LANÇAMENTOS/PAUTA LIVRE
Por Bruno Leo Ribeiro
PERPÉTUO MESMO
No dia 24 de maio, saiu para mim o melhor disco nacional de 2024. O novo álbum do Black Pantera, chamado “Perpétuo”, é o quarto trabalho de estúdio da banda mineira e, sem dúvida, consolida o grupo como uma das forças mais impactantes do rock nacional, destacando a evolução e a maturidade da banda.
O que torna “Perpétuo” realmente especial é a combinação de uma sonoridade pesada e inovadora com letras poderosas e profundamente relevantes. A banda continua fiel às suas raízes de rock, punk e hardcore, mas, neste álbum, incorporaram elementos de percussão que remetem às suas influências afro-latinas e tribais. Essa mistura não apenas enriquece a musicalidade do Black Pantera, mas também fortalece a conexão deles com sua ancestralidade e cultura.
As letras das músicas são um verdadeiro grito de resistência e reflexão. Temas como racismo, críticas políticas e homenagens pessoais permeiam o álbum. Faixas como “Sem Anistia” abordam questões políticas atuais, enquanto “Promissória” fala sobre a dívida histórica da escravidão.
Esse disco tem tocado nos meus ouvidos quase que em loop desde que saiu e certamente merece aparecer em todas as listas de melhores discos brasileiros do ano. Quem não colocar, está errado. Ouçam essa pedrada.
Por Vinícius Cabral
PAIRA NO AR
É óbvio que eu ia falar deste trabalho. E sou até bem suspeito para falar, como sabem. Paira é um duo aqui de BH, formado pelos amigos Clara Borges e dedeco. O dedeco já foi guitarrista da godofredo, e fez a direção criativa do nosso primeiro LP, lançado em 2020. Logo depois, dedeco deixou a banda para focar em sua carreira solo (mais orientada ao eletrônico), o que incluía este lindo projeto, que finalmente veio ao mundo com a chancela da Balaclava (desta vez bem precisa).
Paira não é genial apenas porque eu conheço o pessoal, ou porque contribuí com as letras (assino 4 das 5 letras deste lindo EP). O projeto é genial porque traz um respiro à cena, com uma sonoridade bastante inventiva. O duo mescla Jungle/Drum’n’Bass com guitarras Indie/Midwest Emo e harmonias vocais angelicais. O resultado é, no mínimo, diferente. Tem espaço para gritaria e performances raivosas (como em Música Lenta e O Fio), mas também para bonitezas etéreas e tocantes (como em 19 e Como um Rio).
Como um Rio é, inclusive, uma catarse inexplicável. O videoclipe foi dedicado ao Ian, bebê que perdemos ano passado (como relatei neste mesmo espaço há exato um ano), e à Mônica, mãe de dedeco, que infelizmente faleceu muito cedo há poucos meses. É uma música sobre perda e reconstrução que transmuta, em música e letra, muita dor em algo novo, diferente e totalmente visceral.
Eu não tinha noção, quando o dedeco me convidou para colocar letras nestas músicas tão particulares, de que eu poderia ser só um letrista. Sempre escrevi letras apenas para as minhas próprias canções, e nunca achei que conseguisse fazer nada de extraordinário. Quando o convite surgiu, eu inclusive estranhei, mas dedeco se justificou, dizendo que tinha algo de diferente na forma como eu encaixava as letras na métrica. Eu mesmo nunca tinha percebido isso, e precisei ter um certo distanciamento para escutar a “marca” neste trabalho que é todo lindo, e só posso agradecer muito por poder ter contribuído de alguma maneira.
É certo que são letras muito simples e fortes. Talvez o melhor conjunto de letras que eu já tenha produzido. Mas não teria saído nada nem próximo disso se as músicas não fossem, por si só, uma porrada tão grande nos nossos sentidos. Me despeço, portanto, com um dos meus trechos preferidos do álbum, que conjuga uma melodia tocante com versos tão simples que dá até raiva de ter escrito.
“Outra vez / Acaba o mundo preu não me acabar / De uma vez /Eu sinto muito mas não vou ficar / Dessa vez / Acaba tudo e eu não me acabei / Por nós dois / Eu sinto muito mas eu vou ficar / Quando esse mundo acabar /Quando esse mundo acabar” – trecho da canção O fio ft. Adieu.
Quando esse mundo se explodir, que sobre a Paira.
Por Márcio Viana
A GRANDE ESCAPADA
Há pouco tempo viralizou um vídeo em que um guitarrista mostrava que o black metal sem distorção era praticamente surf music. O chiste foi altamente compartilhado e, por mais absurdo que parecesse, fazia sentido.
Acho que para a nossa realidade predominantemente ensolarada, é difícil evitar que se pense se os adeptos do metal extremo não se cansam de se vestir só de preto e produzir sons mais sombrios.
O Tomb Mold é uma banda canadense de death metal formada em 2016, e seu álbum mais recente, The Enduring Spirit, foi lançado em 2023. Por serem caras que renegam o dresscode do estilo e ousam aparecer em capas de revistas usando camisetas de outras cores, foram achincalhados pelos metaleiros tr00, motivo que faz com que ganhem minha admiração antes até de tê-los ouvido.
Mas o que chega por aqui neste momento é um projeto paralelo de dois integrantes do grupo, o baterista Max Klebanoff e o guitarrista Payson Power. A dupla se reuniu com o guitarrista Ace Mendoza e o baixista Kevin Sia sob o nome de Daydream Plus e vem lançando alguns EPs, incluindo o recém-lançado Escape at Your Own Pace, que entrega o que o título promete.
No EP, os integrantes fogem totalmente do death metal e trazem um pop-rock instrumental quase encostado no jazz-rock e com boas sacadas melódicas, num conjunto de quatro faixas que juntas somam menos de 15 minutos. Ensolarado o suficiente para deixar o metaleirinho com raiva, mas se valendo da experiência no death metal pra tocar com precisão técnica invejável.
Escape at Your Own Pace está sendo vendido pela banda em K7 e álbum digital pelo Bandcamp. Ouça lá:
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Por Brunno Lopez
RATATATA
Eu falei do Eletric Callboy em newsletters anteriores e sou obrigado a trazer eles de novo, entretanto, acompanhados de Baby Metal, num feat. simplesmente aniquilador.
Tem tantas camadas acontecendo aqui que fica impossível conseguir nomear todas elas. O importante é que tudo funciona bem demais. Um caos dançante com pitadas angelicais das cantoras japonesas do tal kawaii metal e o gutural-limpo desses alemães do eletronicore.
Estamos numa discoteca contemporânea que desafia o direcionamento da música atual e nos mergulha em hits incompreensíveis mas facilmente digeríveis, soando como algo que não sabíamos que precisávamos até sermos apresentados a eles.
Bem, aqui estamos.
E não dá pra sair.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana