Newsletter Vol. 253

Na newsletter desta semana, nosso time destaca as principais notícias, curiosidades, acontecimentos relevantes e/ou inusitados do mundo da música ou, simplesmente, alguma curiosidade ou indicação. Claro que, cada um à sua maneira, e abordando sempre o universo musical de sua predileção.  


NOTÍCIAS & VARIEDADES

Por Bruno Leo Ribeiro

RECUPERANDO ANOS ESQUECIDOS

A era do vocalista Tony Martin no Black Sabbath, nosso querido subestimado de estilo icônico (o famoso careca-cabeludo), finalmente está recebendo o tratamento que merece. Antes, só podíamos apreciar esses discos em áudios de qualidade questionável no YouTube, mas agora podemos abrir o streaming e ouvir essa fase subestimada da banda.

Entre 1987 e 1997 (com uma pausa aqui e ali), o Tony Martin foi o frontman do Black Sabbath, participando de álbuns como “The Eternal Idol”, “Headless Cross”, “Tyr”, “Cross Purposes” e “Forbidden”. Durante anos, esses álbuns estiveram indisponíveis tanto fisicamente quanto nos serviços de streaming. Muitos fãs nem sabiam que Tony Martin foi vocalista da banda por tanto tempo.

Na última sexta-feira, 31 de maio, a coleção intitulada “Anno Domini 1989-1995” foi lançada, incluindo versões remasterizadas de “Headless Cross” (1989), “Tyr” (1990) e, o meu favorito, “Cross Purposes” (1994). Além disso, “Forbidden” (1995) foi completamente remixado pelo guitarrista Tony Iommi, que expressou sua insatisfação com a mixagem original, especialmente em relação ao som da guitarra e da bateria. Embora eu não tenha gostado da nova mixagem do Forbidden, é interessante ouvir essa nova interpretação do álbum. Infelizmente, “The Eternal Idol” não foi incluído nesses relançamentos já que os direitos desse disco são de outra gravadora.

Esses discos são uma resposta aos pedidos dos fãs e oferecem uma nova oportunidade para que a era de Tony Martin, muitas vezes negligenciada, receba o reconhecimento merecido. Tony Martin tava precisando dessa ajudinha na sua aposentadoria com um cascalho inesperado a mais.

Com uma voz super bonita, uma mistura de Joe Lynn Turner e Dio, e letras que exploravam temas de magia e misticismo, essa fase do Black Sabbath com o Tony Martin produziu músicas incríveis. Destaco o disco “Headless Cross” (apesar da sonoridade datada dos anos 80) e “Cross Purposes”, que eu comprei quando foi lançado em 1994 e ouvia o dia inteiro e envelheceu super bem.

Para colecionadores e completistas, a coleção “Anno Domini 1989-1995” promete ser uma adição indispensável, resgatando uma parte crucial da história da banda que esteve fora dos holofotes por muito tempo.

Ouça aqui o Cross Purposes (meu favorito)


Por Vinícius Cabral

ANALOGIA IS MY PASSION (OU, JONI MITCHELL VS. BILLIE EILISH)

Como diz meu cunhado, é melhor ler certas coisas do que ser cego. Este é o único lado positivo, às vezes, de ter a visão intacta (ou quase).

Certo dia li um tweet com uma das analogias mais absurdas que já foram escritas. A pessoa dizia algo sobre a Billie Eilish, atribuindo à jovem cantora a grandeza de Joni Mitchell. Como eu não sou cego, li. Mas fiquei com uma pulga atrás da orelha, porque sei que um pensamento dessa magnitude de absurdo e surrealismo não poderia ter saído espontaneamente de uma única cabeça, ainda que perturbada. Fui atrás e descobri o pensamento original no review” do The Telegraph do disco novo de Eilish. Leiam se tiverem retinas (ou estômago).

Eu li, infelizmente. E não estou aqui para criticar o texto, ou criticar Billie Eilish e ficar igual um velho ranzinza dizendo que “não se fazem mais artistas como antigamente”, ou blá-blá-blá. Meu ponto é desmontar a premissa central do argumento do artigo, que sustenta que o disco novo de Eilish é “grande o suficiente para ficar ao lado de Blue, da Joni Mitchell”. A gente já gastou horas e horas do tempo de vocês, leitores e ouvintes deste podcast, tentando descrever o quê torna um artista, ou um álbum, “grande”. O que constitui um clássico?

São questões complexas, que exigem muita reflexão e não podem ser encaradas de forma simplista. Mas alguns dos elementos que sempre citamos ao tentar endereça-las passam pela ideia de tempo e relevância. Ou de uma relevância que pode vir (ou não) com o tempo. O Blue, da Joni Mitchell, fez 50 anos em 2021. Nós reouvimos o álbum, o analisamos sob a luz da história do rock, do rock alternativo, do folk e dos efervescentes anos 70.

Cravamos, não só nós aqui no Silêncio no Estúdio, mas dezenas e dezenas de fãs de música, que Mitchell basicamente definiu a forma de um certo rock autoral, influenciando 5 décadas de compositores e, sobretudo, compositoras, com sua forma tão própria de abordar a lírica, as métricas, as afinações, e por aí vai. Não cabem neste texto as qualidades de Mitchell e, em específico, do álbum Blue, um marco absoluto e inquestionável do inacabável ano de 1971.

Isso é ser grande. Se Billie é grande o suficiente para estar lado a lado com Mitchell, essa não é uma questão para ser observada agora, a menos que seja de maneira completamente irresponsável e estúpida mesmo. Como um click bait desnecessário na melhor configuração “analogia is my passion“*. Ressalto que este texto não é uma crítica ao disco da Billie Eilish, que sequer ouvi. Talvez eu ouça daqui a alguns meses ou daqui a 50 anos, se ainda tiver audição.

Afinal, é melhor ouvir algumas coisas do que ser surdo. Tenho que aproveitar o império intocável dos meus sentidos para ouvir a história da música sendo escrita, por quem quer que seja.

Mas, o Blue da Joni Mitchell, gente. o Blue da Joni Mitchel…o lugar que esse disco ocupa não cabe nem na história.

*Para quem não conhece o meme, segue:

Ouça o Blue da Joni Mitchell aqui


Por Márcio Viana

NOS JARDINS DO ÉDEN

Morreu no final de maio Doug Ingle, vocalista e tecladista da banda Iron Butterfly, uma das inúmeras bandas às quais se atribui a invenção do heavy metal. A banda foi formada em 1966 em San Diego, California.

No caso deles, a fama de criadores do estilo vem de In-a-Gadda-Da-Vida, de autoria de Ingle, e cuja expressão do título faz referência a in the garden of Eden, pronunciada pelo vocalista deste modo inusitado.

O álbum com o mesmo título da canção, o segundo da banda, lançado em 1968, ficou 140 semanas no top de vendas dos Estados Unidos e vendeu mais de 4 milhões de cópias. O single atingiu o 30º lugar nas paradas norte-americanas.

Por ser uma referência, a canção acabou por ser bastante citada ao longo do tempo, inclusive neste episódio de Os Simpsons.

A música também ganhou uma versão do Slayer.

Doug Ingle saiu da banda em 1971, mas voltou em algumas ocasiões. A banda seguiu em frente com outras formações ao longo do tempo. A lista de ex-integrantes é surreal.

Ouça In-a-Gadda-da-Vida aqui


Por Brunno Lopez

UNOBTAINIUM

Junho chegou com força, temperatura baixa e todos aqueles temperos específicos dessa época. Porém, vou aproveitar um lançamento de maio pra destacar aqui antes que todos comecem a pular fogueira.

No dia 22 de maio, a banda The Cyberiam lançou seu terceiro álbum de estúdio e certamente fez os amantes do prog entenderem que não é só da volta do Portnoy ao Dream Theater que o estilo vive – ainda que essa notícia faça qualquer ser humano que respire experimentar uma felicidade única.

Os músicos de Chicago, fãs de toda a alta cúpula dos heróis do estilo, apresentam o delicioso Unobtainium, elemento sonoro que seria incluso em qualquer tabela periódica musical. Dá pra perceber a alquimia de Marillion e Pink Floyd em diversas passagens, devidamente apimentadas com Rush e Deep Purple.

Falando na faixa que encerra e dá nome ao disco, os mais perceptivos vão notar a atmosfera de Home, do Dream Theater, na estrutura inicial da canção.
Entretanto, o decorrer da música acaba por trazer o estilo do grupo e proporciona um grand finale digno dos deuses dos compassos quebrados.

Mais recomendado que camisa de flanela em festa junina: seja no Brasil ou em Seattle.

Ouça aqui


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana

Thanks for reading Newsletter Silêncio no Estúdio! Subscribe for free to receive new posts and support my work.